A vida pós-Severino
O cenário político-policial se torna a cada dia mais complexo, mas isso não surpreende, porque as confusões atuais foram montadas ao longo de anos e anos, com a participação de muitos atores. Hoje é dia de mais um depoimento, o do doleiro Toninho da Barcelona. Amanhã, com a renúncia de Severino Cavalcanti, se apressará a definição de sua sucessão na presidência da Câmara dos Deputados. E a opinião pública poderá avaliar, com a ajuda da imprensa, quanto de visão política restou ao parlamento brasileiro;
Todos os partidos
O Partido Liberal apresentou ontem, em meio ao Jornal Nacional, um programa de vinte minutos apresentado por um inacreditável homem de branco que parecia uma edição do Casseta e Planeta com um dia de antecipação. Depois da extensa cobertura da votação no PT publicada ontem, ouvintes se manifestam para pedir que a mesma atenção se dirija aos outros partidos. A imprensa poderia começar pelo que é mais evidente: os custosos programas de propaganda política. Na semana passada foi exibido o do PP, Partido Progressista de Severino e Maluf. Ontem, o do PL de Valdemar Costa Neto e Luís Antônio Medeiros.
Culpa da mídia
A direção do PT, que não deu um exemplo muito edificante na eleição interna de domingo, voltou a atacar a mídia. Em documento oficial, diz ter iniciado uma “reação ao golpismo midiático que pretende inviabilizar o mandato legítimo do presidente Lula”. Dificilmente esse caminho de auto-engano conduzirá o PT a uma renovação saudável.
A crise entre governo e PT pode ser ainda maior do que parece: nesta terça-feira, 20 de setembro, Ancelmo Gois informa no Globo que o ministro Antonio Palocci também não foi votar na eleição petista.
Diário de Marília
O Alberto Dines anuncia que o Observatório da Imprensa tratará na televisão hoje à noite de um assunto que praticamente desapareceu das páginas da grande imprensa, o atentado contra o Diário de Marília, cidade do interior paulista.
Dines:
– Mauro, você deve ter reparado que o atentado contra o Diário de Marília desapareceu completamente do noticiário. Já prenderam um suspeito, há indícios que levam a um mandante, mas a grande mídia nacional não parece muito animada em esclarecer exatamente tudo o que aconteceu. E por que aconteceu. Não se trata da velha falta de continuidade no acompanhamento dos assuntos. Parece que estão querendo colocar uma pá de cal. E nesta meia omissão reside um dos grandes problemas brasileiros: só queremos saber dos grandes fatos nacionais, mas esquecemos que eles começam bem pequenos, lá nos cafundós do Brasil profundo.
Severino Cavalcanti, por exemplo, não é um problema de Brasília, é um problema do interior de Pernambuco que chegou a Brasília. A grande imprensa não toma conhecimento do que diz a pequena imprensa e assim o país deixa de saber o que acontece nas suas entranhas. Quando descobre, nada pode ser feito.
Há muita coisa para ser contada sobre o atentado ao Diário de Marília e o Observatório da Imprensa vai tentar contá-lo hoje na TV. Às dez e meia da noite pela Rede da TV-E e às onze da noite pela Rede Cultura.
Coréia do Norte é jogo duro
Um dia depois do festivo anúncio de um princípio de acordo em torno da questão nuclear na Coréia do Norte, o governo de Pyongyang deu um passo atrás. O governo da Coréia do Norte diz agora que só abandona o programa nuclear bélico depois de receber um reator nuclear para fins pacíficos, o que os governos dos Estados Unidos e do Japão não aceitam.
Essa é uma das questões mais preocupantes da política internacional hoje. Nenhum caminho é fácil. Nem o que se apóia mais na diplomacia, nem o que prefere a exibição de força.
O caçador de nazistas
Morreu ontem em Viena Simon Wiesenthal, o caçador de nazistas. Judeu sobrevivente do Holocausto, sua iniciativa de se tornar ao mesmo tempo detetive e promotor levou às barras dos tribunais cerca de mil e cem criminosos nazistas. Ao jornal inglês The Guardian, o fundador do Centro Simon Wiesenthal de Los Angeles, rabino Marvin Hier, disse que em 1945 pouca gente estava disposta a dar ouvidos a Wiesenthal: os Aliados já tinham mergulhado na Guerra Fria e os sobreviventes tratavam de reconstruir suas vidas despedaçadas. Mas ele estava convencido de que não há liberdade sem justiça. Durante 50 anos, Wiesenthal caçou criminosos de guerra nazistas, falou contra o neo-nazismo e o racismo, e fez ver ao mundo que a tragédia judaica dizia respeito a toda a Humanidade.