Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Estadão denuncia inquérito
incompleto no caso Nossa Caixa


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 10 de abril de 2006


CRISE POLÍTICA
Igor Gielow


Versões e fatos


‘A crise envolvendo a quebra do sigilo do caseiro ganhou fôlego. A responsabilidade pode ser atribuída à pesquisa do Datafolha que mostrou o quadro eleitoral quase inalterado, não fosse Garotinho.


É um paradoxo. A inépcia tucano-pefelê em fazer decolar seu candidato fez a questão do crime de Estado contra o caseiro Francenildo voltar à ordem do dia. Estivesse Alckmin uns cinco pontos ladeira acima, o caso permaneceria no limbo a que vinha sendo relegado por quase inanição.


Mas há fato novo. ‘Doutor Márcio’, como é chamado por 10 entre 10 de seus interlocutores o ministro da Justiça, está enrolado. A versão que deu aos fatos, fantasiosos ou não, relatados na ‘Veja’, depende de muita boa vontade para ser crível.


Segundo nota divulgada no sábado, Márcio Thomaz Bastos esteve presente a uma reunião entre Antonio Palocci Filho (ainda na Fazenda), Jorge Mattoso (ainda na Caixa) e o advogado Arnaldo Malheiros. Teria ouvido apenas um relato ‘genérico’ sobre a situação.


Até aí, OK. O ministro é um dos melhores criminalistas do país, e não há crime em um colega de Esplanada pedir um conselho ‘genérico’.


O problema é que foi ventilada em Brasília, e não a pedido da oposição, a versão de que Thomaz Bastos estava convencido da culpa de Palocci desde o início do episódio e avisou Lula disso -na segunda anterior à quinta da reunião na casa do então ministro da Fazenda.


Isso não será provado. Thomaz Bastos espertamente nunca declarou em público quando achou que Palocci era culpado. Portanto, ‘normal’ dar dicas ao ministro. Mas o fato é que, próximo de gente graúda da oposição, tudo indicava que ‘Doutor Márcio’ seria poupado.


Pode até ser, mas, se não o for, a responsabilidade não será dos fatos, em ‘off’ ou não, mas da combinação de incapacidade inicial de Alckmin com o descolamento de Lula da imundície que engolfa seu governo.


Surpreso? Como diria um delegado da PF, por quê? Isso é o Brasil.’


ALCKMIN SOB SUSPEITA
Chico de Gois


Filhos de Alckmin e de seu acupunturista são sócios


‘A ligação do médico acupunturista Jou Eel Jia com o ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, vai além da relação entre médico e paciente e se estende por laços familiares. Thomaz Rodrigues, 22, filho de Alckmin, e Suelyen Jou, 23, filha de Jia, são sócios em uma loja de produtos naturais, e pacientes do acupunturista são orientados a procurar a empresa da filha quando ‘não encontram ervas medicinais’ receitadas.


A J.T. Comércio e Distribuidora de Produtos Naturais foi constituída em julho de 2004 com capital social declarado de R$ 100 mil. Segundo a Junta Comercial de São Paulo, Suelyen tem participação de R$ 51 mil no negócio. Thomaz, R$ 49 mil. A administração do negócio, segundo a Junta Comercial, cabe a Thomaz. A empresa funciona num sobrado na Aclimação (centro de São Paulo).


A assessoria de imprensa do ex-governador informou que Alckmin não deu os recursos para que Thomaz investisse na empresa. A assessoria também afirmou não saber se o capital social está totalmente integralizado à empresa. Thomaz, que é estudante de direito, não foi localizado. Na sexta-feira, segundo a assessoria de Alckmin, ele estava na Bahia.


Na semana passada, a Folha informou que uma revista de Jou Eel Jia, a ‘Ch’an Tao’, recebeu R$ 60 mil em publicidade da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista em 2005. Outros R$ 60 mil já foram aprovados para a próxima edição, que deve ser publicada no mês que vem. Alckmin é o destaque na capa da revista deste mês. Ele concedeu uma entrevista exclusiva ao magazine. O ex-governador aparece em nove páginas, seja em fotos ou depoimento. O jornal ‘O Globo’ revelou ontem a sociedade de Thomaz com a filha do acupunturista.


Jou Eel Jia costuma ministrar cursos de acupuntura e de medicina tradicional chinesa a servidores estaduais. Um convênio com a Secretaria Estadual de Educação, assinado em novembro de 2003, permitiu o treinamento de professores em técnicas de meditação chinesa. A assessoria do ex-governador informou que Jia não cobra nada pelos cursos. O Estado paga apenas despesas com transporte e refeição, mas somente dos alunos.


Em agosto de 2003, um convênio entre a Secretaria Estadual da Saúde e a Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil, de Jia, autorizou a realização de curso de especialização em acupuntura para médicos e profissionais da saúde. O Estado cedeu um espaço para as aulas no Hospital do Mandaqui. Segundo a assessoria de Jia, 40 médicos freqüentaram o curso, que durou dois anos. Cada aluno pagou R$ 250 por mês -R$ 10 mil mensais, no total.


Na página na internet da Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil a ligação com os Alckmin é destacada. ‘O SPA Ch’an Tao [também de propriedade de Jia] hospeda membro do clã Alckmin: Thomaz Rodrigues’, é uma das chamadas. Na matéria ‘Carandiru pode abrigar espaço para meditação’, Jia é citado como ‘especialista em medicina oriental que atende o governador Geraldo Alckmin há três anos’.


Outra matéria, ‘Meditação ao ar livre’, mostra a proximidade entre paciente e médico: ‘A idéia surgiu em um bate-papo entre o governador Geraldo Alckmin e seu acupunturista Jou Eel Jia… O doutor Jou falava da prática de atividades zen nos parques da China, seu país de origem, e o governador lhe pediu que planejasse algo semelhante para cá’.’


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Médico não foi beneficiado, diz ex-governador


‘O ex-governador e pré-candidato à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que beneficie seu acupunturista Jou Eel Jia.


De acordo com a assessoria de Alckmin, o fato de seu filho, Thomaz Rodrigues ser sócio da filha de Jia, Suelyen Jou, não influenciou na liberação de verbas publicitárias, por exemplo, para a revista ‘Ch’an Tao’, que recebeu R$ 60 mil da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep), e tem outros R$ 60 mil aprovados para a próxima edição.


Alckmin também considerou que a sociedade de Thomaz com Suelyen não configura uma mistura entre assuntos públicos e privados. Segundo a assessoria do ex-governador, o Estado não compra produtos da J.T. Comércio e Distribuidora de Produtos Naturais.


O Estado, ainda de acordo com a assessoria do ex-governador, não pagou nada pelos cursos ministrados por Jou Eel Jia, que atuou apenas como voluntário. A assessoria informou que o Estado cedeu um espaço no Hospital do Mandaqui, na zona norte de São Paulo, para que o acupunturista ministrasse aulas de especialização em acupuntura para os médicos, que pagaram pelo curso.


A assessoria de imprensa de Jou Eel Jia informou que Thomaz e Suelyen ‘são amigos há anos’ e afirma que a filha do acupunturista é estudante de medicina.


De acordo com a assessoria, o suposto favorecimento à empresa de Suelyen e Thomaz acontece quando ‘eventualmente’ Jia indica a loja a pacientes que não encontram ervas medicinais receitadas pelo médico’.’


Frederico Vasconcelos


Ex-gerente diz ter tido sigilo violado


‘Eliel Ferreira, 40, ex-gerente da Nossa Caixa, demitido por justa causa, pleiteia a reintegração em ação trabalhista na qual acusa funcionários do banco de terem quebrado ilegalmente seu sigilo bancário dele. O caso também é investigado na Justiça Federal.


‘Acredito que isso foi uma retaliação porque, muito antes de sofrer duas sindicâncias, participei ativamente da análise de denúncias contra a atual diretoria do banco encaminhadas à Assembléia Legislativa’, diz Ferreira.


A Nossa Caixa sustenta que ‘é falsa a afirmação de que a demissão ocorreu por retaliação’ e alega que Ferreira foi demitido por justa causa sob acusação de concessão irregular de empréstimos. A Nossa Caixa também nega a violação do sigilo: ‘Não há quebra de sigilo quando a instituição financeira acessa os dados das contas correntes que administra’. Assessores do presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, acreditam que Ferreira faz a acusação para se aproveitar do clima criado com a quebra de sigilo do caseiro Francenildo Costa, em Brasília.


Ferreira havia oferecido queixa-crime na Justiça estadual em São Caetano do Sul (SP) contra um gerente da agência, a quem acusa de quebra ilegal de sigilo bancário. O inquérito foi transferido para a 2ª Vara Criminal Federal.


Ferreira revela que, no final do governo Covas, participou de uma comissão de funcionários que levantou números e informações sobre a Nossa Caixa e encaminhou o estudo à assessoria de Geraldo Alckmin. A expectativa desse grupo era ver a Nossa Caixa dirigida por um técnico do banco.


Quando Alckmin nomeou Valdery Frota de Albuquerque, ex-presidente da Caixa Econômica Federal que trouxe para o banco ex-diretores da CEF, Ferreira e outros funcionários levantaram informações sobre a gestão de Albuquerque. O ex-gerente diz que vários atos da CEF eram investigados pelo Tribunal de Contas da União por suspeita de irregularidades na terceirização dos serviços e nos contratos publicitários: ‘O que alertamos naquela época está aparecendo agora’. Ferreira diz que, em 2003, o banco abriu sindicância alegando que ele cometera ato de insubordinação e indisciplina: ‘É estranho, porque meses antes eu tinha sido objeto de auditoria e havia sido absolvido, isentado de qualquer coisa’.


Mais tarde, foi chamado por um auditor que trazia uma denúncia. Foi quando ele constatou que dados sigilosos seus e de outras pessoas estavam naquele processo: ‘O sigilo é um direito constitucional meu, individual. O banco alegou que, por normas internas, poderia quebrá-lo. Isso está sendo analisado no Ministério Público’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Sem compromissos


‘O ‘Jornal Nacional’ não deu, sábado, nem na escalada de manchetes nem em reportagem. E o ‘Fantástico’ só registrou no final, ontem.


Na Record foi manchete:


– Lula abre vinte pontos de vantagem sobre Alckmin em nova pesquisa Datafolha.


O ‘Jornal da Band’ também deu na escalada, curiosamente com dois enunciados:


– Pesquisa mostra que Lula mantém dobro das intenções de Alckmin. Garotinho esquenta a disputa pelo segundo lugar.


O peemedebista, nas manhãs de sábado, noites de domingo e tardes dos dias de semana, faz parte da paisagem da Band.


Pelo mundo, nos sites de ‘New York Times’ e outros, só despachos das agências.


Na Reuters, ‘Lula venceria Alckmin, segundo pesquisa, apesar das alegações renovadas de corrupção’. Na AP, ‘imune a queda de ministro, Lula segue como favorito’. Na EFE, ‘Lula se distanciou dos rivais’.


Desde sábado, é de Serra que trata a blogosfera, ao falar da pesquisa. Fernando Rodrigues:


– Ainda é cedo, mas só se fala de uma coisa nas hostes tucanas: se até o final de maio Alckmin não decolar para valer, vai ficar insuportável a pressão para que Serra troque a candidatura.


De Ricardo Noblat, no título de uma nota sobre a ‘fraqueza’ de Alckmin no Datafolha:


– Cadê o Serra?


Do Noblog, no Nomínimo:


– Candidatura de Alckmin ameaçada de ser ultrapassada por Garotinho… É bom lembrar que Serra disse que saiu para disputar ‘outro cargo eletivo’.


Rodrigues e o Noblog citam o ex-prefeito como ‘plano B’. Não segundo Kennedy Alencar:


– Entre os serristas do PSDB e do PFL, ‘plano C’ é como eles se referem à hipótese de Serra.


Alckmin é o ‘plano B’, pois Serra era, ele sim, o ‘plano A’.


Seja qual for o ‘plano’, Serra parece tão entusiasmado com o Estado de São Paulo como, há dois anos, com a cidade.


O ‘SPTV’ de anteontem, após ouvir os pré-candidatos do PT e o tucano José Aníbal, os três em campanha, encerrou notando:


– O outro pré-candidato do PSDB -José Serra- não tem compromissos de campanha neste fim de semana.


‘EXCLUSIVO!’


Richthofen lê a Bíblia (à esq.) e ‘chora’, no ‘Fantástico; abaixo, ‘Richthofen vai à praia no ‘Domingo Espetacular’


Mais do que prejudicar Suzane von Richthofen, acusada de participação na morte dos pais, o flagrante de dois meses atrás no ‘Domingo Espetacular’ deu à Record audiência inédita -e balançou o ‘Fantástico’. As cenas, de câmara oculta, mostravam férias em Ubatuba, na praia, em restaurantes, sorveteria.


A ‘dois meses do julgamento’, como registrou Glória Maria, uma outra Suzane von Richthofen surgiu ontem em destaque no ‘Fantástico’. Foi ‘encontro’, não entrevista, no dizer da Globo. Richthofen, sempre de cabeça baixa, chorou ou aparentou chorar, em diálogos como:


– Por que aconteceu este crime?


– Não sei… Não sei…


Era ‘uma farsa’, como aos poucos evidenciou o próprio ‘Fantástico’, acrescentando dados como o de que chorou ‘sem derramar uma lágrima’ -ou depois, no final, com os ‘bastidores da farsa’ armada para a sua defesa.


Registre-se porém que nos dias anteriores, até ontem à tarde, a Globo apresentou o tal encontro como jornalismo -e, mais até, na voz de Zeca Camargo, como ‘exclusivo!’. E que era mais um dia de batalha por audiência, com o ‘Domingo Espetacular’ trazendo como atração, na mesma linha, uma ‘exclusiva’ com a mexicana Glória Trevi.


Mero carona


De Bauru a Moscou, a Globo fez festa para o astronauta. O Google Notícias, também, com manchetes do Brasil inteiro, tipo ‘Marcos Pontes ficará dez horas em observação’ ou ‘Viagem ajuda tecnologia do Brasil’.


Não para Larry Rohter. Na edição de sábado, traduzida no UOL, o correspondente do ‘NYT’ citou ‘muitos cientistas brasileiros, colunistas de jornal e editorialistas’ para questionar a viagem. No título:


– O brasileiro no espaço: um mero carona ou um herói?


Gagarin


O serviço de monitoração de mídia da BBC reproduziu as TVs russas Vesti e NTV Mir, que cobriram o retorno.


A primeira descreveu como ‘o cosmonauta Marcos Pontes saiu da cápsula com seu invariável sorriso’, ele que, após ‘só uma semana, virou herói nacional’. Sobre as experiências, citou que ‘nova variedade de grãos’ será agora plantada no Brasil.


A segunda, tratando Pontes de ‘Gagarin brasileiro’, destacou seus agradecimentos aos colegas de missão, ‘caras excelentes’.’


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Ministros vão ao Japão negociar padrão digital


‘Uma comitiva de ministros brasileiros viaja hoje ao Japão para negociar com o governo japonês e com fabricantes de semicondutores contrapartidas à escolha, pelo Brasil, do padrão japonês de TV digital. Em troca, o Brasil quer ter uma fábrica de semicondutores.


Participam os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Hélio Costa (Comunicações).’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ministério vai recomendar programa de TV


‘O Ministério da Justiça passará a recomendar aos brasileiros programas de televisão que julgar serem de boa qualidade. O ‘serviço’ será oferecido pelo departamento de classificação indicativa do ministério, provavelmente a partir do segundo semestre.


Além de classificar os programas de TV e filmes em várias categorias (inadequados para menores de 10, 12, 14, 16 e 18 anos), conforme o grau de violência, sexo e drogas, o ministério vai instituir a casta de atrações televisivas ‘especialmente recomendadas’.


O ministério ainda não revela quais serão os critérios para um programa conseguir o ‘selo’ de ‘especialmente recomendado’. A Folha apurou que essa classificação positiva será dada, por exemplo, a programas infantis considerados educativos e que não estimulem o consumismo. Documentários politicamente corretos, mesmo que tenham imagens impróprias para crianças, também poderão ganhar o ‘selo’.


A nova categoria de programas vai constar do novo manual de classificação indicativa, a ser finalizado nos próximos dias. O manual faz parte das mudanças na classificação e que devem ser editadas por decreto até julho.


A nova classificação deverá instituir a faixa de programas impróprios para menores de dez anos. Trará também uma série de selos comuns a todas as emissoras para informarem na tela a classificação do programa em exibição.


OUTRO CANAL


Desespero 1 De Orlando (EUA), Silvio Santos decidiu sexta-feira fazer mudanças na grade do SBT a partir de hoje. Alterações repentinas no SBT não são novidade. A surpresa é a ‘criação’ de um telejornal que só irá ao ar às segundas, terças, quintas e sextas.


Desespero 2 A partir de hoje, Carlos Nascimento apresentará um ‘Jornal do SBT’ às 22h. Mas, às quartas, por causa do ‘reality show’ ‘Ídolos’, o informativo não irá ao ar -uma verdadeira ‘inovação’.


Desespero 3 Já o ‘SBT Brasil’, de Ana Paula Padrão’, passa para as 18h30, horário ruim para os padrões brasileiros. Terá só meia hora (e não mais 45 minutos) e será precedido de um telejornal local apresentado por Hermano Henning. E o ‘Programa do Ratinho’, que estava em baixa no Ibope, sai temporariamente do ar. As mudanças visam frear o crescimento da Record.


Terror 1 Nos próximos capítulos de ‘Belíssima’, André (Marcello Antony) passará a ameaçar a família de Vitória (Cláudia Abreu) para forçá-la a tirar suas ações da Athena, a empresa que Júlia (Glória Pires) montou para retomar a presidência da Belíssima.


Terror 2 Com a ajuda de seu pai, o ex-bandidão Quiqui (Serafim Gonzalez), André tentará seqüestrar Sabina (Mariana Ruy Barbosa). Depois, partirá para cima de Tadeu (Thiago Martins).’


Inácio Araújo


Programa não esclarece feito de Welles


‘‘Dias que Chocaram o Mundo -°Fatos ou Ficção’, exibido hoje pelo The History Channel, é um estranho programa da TV norte-americana em que ao mesmo tempo se representa, se documenta e interpreta um fato, isto é: o espaço ocupado é, ao mesmo tempo, da ficção, do documentário e do ensaio.


De um tal arranjo se poderia esperar que surgisse, no mínimo, a verdade. No caso do programa dedicado à encenação de ‘Guerra dos Mundos’, de H.G. Wells, por Orson Welles, em 1938, pelo menos, não é o que acontece.


Talvez ‘Dias que Chocaram’ se dirija em particular a quem nunca teve contato com esses fatos, o que lhe daria um interesse pedagógico. Mas, a julgar pelo tratamento recebido por Orson Welles e sua encenação radiofônica de ‘Guerra dos Mundos’, não é bem isso o que acontece.


Tem-se mais a impressão de que o alvo é um espectador distraído, que engole essas histórias como, no passado, engoliria o célebre ‘Acredite Se Quiser’.


O programa tem três vertentes.


Numa delas, um locutor com voz saída de além-túmulo ora nos coloca a par dos fatos específicos referentes ao programa, ora ao contexto (a ameaça de guerra, o perigo de Adolf Hitler na Europa, as últimas conquistas tecnológicas da época etc.).


Ao lado dessa voz, corre a encenação: ora vemos Howard Koch, autor do roteiro, a concebê-lo, ora um gordo muito vagamente parecido com Welles, ora uma família em torno do rádio.


O resultado dessa adaptação de H.G. Wells foi um pânico histórico e que tornou Welles uma celebridade aos 23 anos.


Uma cena de época o mostra pedindo desculpas. Bem pouco.


A segunda parte do programa trata da descoberta publicada por um jornal britânico, em 1983, dos diários, até então perdidos, de Adolf Hitler. Dias que Chocaram o Mundo – Fatos ou Ficção Quando: hoje, às 23h, no THC’


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O Globo


Sexta-feira, 10 de abril de 2006


CRISE POLÍTICA
Carlos Alberto Di Franco


Mentira, cinismo e carisma


‘A inevitável demissão de Antonio Palocci, o mais talentoso ator da trupe lulista, escancarou o tumor que corrói o governo do presidente Lula: a mentira. E o relatório final da CPMI dos Correios, documento razoável, não obstante o malabarismo semântico para ocultar a nudez do rei, acabou revelando uma metástase recidiva: o cinismo.


O mais recente capítulo da novela nauseante em que se transformou o governo do presidente Lula, sepulcro da esperança sincera de milhões de brasileiros, foi a desproporcionada guerrilha do ministro contra o caseiro. Mas o que assustou no episódio, caro leitor, não foi apenas a prepotência dos poderosos, mas a tomada de consciência, inequívoca e brutal, de que a democracia brasileira e suas instituições estão sendo desmoralizadas por inúmeras autoridades.


Tenho defendido, sistematicamente, a inauguração do Placar da Corrupção. Trata-se de um serviço público que a imprensa pode e deve prestar aos seus leitores. Vamos lá, portanto. A CPMI dos Correios pediu, no total, o indiciamento de 122 pessoas, entre elas ex-ministros, ex-dirigentes do PT e de estatais e 20 parlamentares. O relatório final indiciou, entre outros, os seguintes homens de confiança e amigos do presidente da República:


Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT. Acusações: falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa, crime eleitoral e peculato.


José Genoino, ex-presidente do PT. Acusações: falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, corrupção ativa e crime eleitoral.


José Dirceu, ex-ministro. Acusação: corrupção ativa.


Luiz Gushiken, ex-ministro. Acusações: tráfico de influência e corrupção ativa.


Silvio Pereira, ex-secretário do PT. Acusação: tráfico de influência.


Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco do Brasil. Acusações: falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e peculato.


Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil. Acusação: condescendência criminosa.


Fico por aqui, pois meu espaço é limitado. O último elo da corrente criminosa foi, talvez, o mais espantoso.


Após uma surrealista sucessão de mentiras, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, disse à Polícia Federal que solicitou os extratos com dados bancários do caseiro Francenildo Costa e, de posse dos papéis, entregou-os ao ex-ministro Palocci. A coisa foi pior. O próprio Palocci determinou a quebra do sigilo. Resumo da ópera: o ministro da Fazenda e o presidente da Caixa, uma instituição com notável patrimônio de credibilidade, cometeram crime de violação do sigilo de um correntista. Agora, o imbróglio se aproxima do gabinete do ministro da Justiça.


Mas a tragédia não se esgota na mentira. A síndrome de pinóquio desemboca, dramaticamente, na patologia do cinismo. Mattoso, por exemplo, afirmou que agiu ‘nos estritos limites da legalidade’ ao violar o sigilo bancário do caseiro. Já Palocci, campeão do troféu caradura, afirmou, em sua despedida, que se solicitou o seu ‘afastamento definitivo’ do Ministério da Fazenda foi para contribuir para a pacificação do país ‘frente ao quadro conflituoso e tenso’.


E o presidente Lula? Sua Excelência, invariavelmente, percorre o mesmo itinerário. Nada sabe e nada vê. Acuado pela força irresistível dos fatos, declara-se traído. E, num recorrente jogo verbal, finge desconhecer a gravidade dos episódios. Crime, na surpreendente lógica presidencial, é erro. O curioso silogismo de Lula é gravíssimo, pois está esgarçando a consciência ética da sociedade. O exemplo que vem de cima sempre tem conseqüências. Para o bem ou para o mal. Na verdade, a opção do presidente, triste e lamentável, foi feita há meses em Paris. Até então, Lula negava o óbvio. Perguntado sobre o caixa 2, disse que o PT só tinha feito o que era feito sistematicamente no Brasil. Falando claro: o presidente da República renunciou ao seu papel constitucional, avalizou a prática do crime e, no mínimo, foi leniente.


O presidente está só. O núcleo duro do governo desabou fustigado por graves acusações de corrupção. Seus amigos e homens de confiança foram caindo. O presidente confia no seu inegável carisma para construir um lulismo sem os destroços do PT. Só lhe falta perceber uma coisa: o sonho acabou. A saga fascinante do operário não será tisnada pela elite. Seu contraponto, misterioso paradoxo, será a voz de um simples caseiro. CARLOS ALBERTO DI FRANCO é diretor do Master em Jornalismo. E-mail: difranco@ceu.org.br.’


SUZANE NO FANTÁSTICO
Miguel Conde


Suzane Richthofen é orientada a chorar na TV


‘Acusada de planejar e participar do assassinato de seus pais, Marísia e Manfredo von Richthofen, em outubro de 2002, Suzane von Richthofen diz que gostaria de ter sua família de volta. A dois meses de seu julgamento, Suzane, de 22 anos, apareceu em entrevista exibida ontem pelo ‘Fantástico’, da TV Globo, vestindo roupas infantis e comportando-se como uma pessoa perturbada mentalmente: com fala desarticulada e sujeita a sucessivas crises de choro. A câmera do programa, porém, captou conversas em que Suzane era orientada a se comportar dessa maneira.


– Chora – disse em voz baixa Denivaldo Barni, um amigo da família Richthofen que abriga Suzane em sua residência no Morumbi.


Jovem diz que odeia ex-namorado, seu cúmplice


A jovem, que confessou à polícia ter aberto a porta de sua casa para que seu namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, matassem seus pais, disse sentir ódio de Daniel.


– Gostaria de voltar aos meus 15 anos para nunca ter conhecido ninguém daquela família – disse, referindo-se aos Cravinhos. – Ele sempre me dava muita droga, me mandava usar muita droga, cada vez mais. Isso foi acabando comigo. Ele falava: se me ama, usa – afirmou.


A fala é muito semelhante a uma orientação que ela recebeu na segunda parte da entrevista, gravada em Ipiratina. Segundo peritos, a voz, que aparece em off , é do advogado Mário Sérgio de Oliveira:


– Diz que ele mandava. Que se amasse era para fazer.


A defesa de Suzane alegará no julgamento que os Cravinhos planejaram o crime. Os irmãos dizem que Suzane foi a mandante.


A primeira parte da entrevista foi gravada na casa de Barni. Usando pantufas e uma camiseta da Minnie, Suzane interrompeu diversas vezes a gravação, que durou 34 minutos. Num momento, disse que só voltaria a falar acompanhada por dois pássaros de estimação. Por onze vezes, escondeu o rosto como se chorasse. Mas em nenhuma delas havia sinais de lágrimas.


– Como é triste lembrar de toda a felicidade que vivi com meus pais, saber que isso nunca mais vai acontecer – disse. – Hoje vejo que era feliz e não sabia. Como queria minha mãe de volta, como sinto falta de um colinho, de um abraço.


Suzane luta pela herança dos pais assassinados


Pela lei brasileira, filhos que matam os pais não têm direito à herança. A família de Marísia, com quem vive o irmão mais novo de Suzane, Andreas, já deu entrada no processo de deserdação. Os advogados da jovem lutam para que ela não perca o direito. Na entrevista, Suzane falou sobre a família da mãe. Disse que não vê a avó por que seu tio não deixa.


– Ele não gosta de mim. Afastou todo mundo de mim.


A jovem afirmou ainda ter medo de sair de casa. Questionada sobre o motivo de sua apreensão, disse apenas:


– Não sei, tenho medo.


Perguntada por que seus pais haviam sido mortos, respondeu da mesma maneira:


– Não sei.’


ALCKMIN SOB SUSPEITA
Germano Oliveira


Filho de Alckmin deve depor sobre sociedade com Suellen


‘SÃO PAULO. O filho do ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência, Thomaz Alckmin, deverá ser convidado a depor na Assembléia Legislativa de São Paulo em função de sua sociedade com Suellen, filha do acupunturista chinês Jou Eel Jia, médico particular da família Alckmin. O depoimento será requerido pelo deputado Roberto Simões (PT), autor do pedido de criação da CPI da Nossa Caixa, para investigar irregularidades na concessão de verbas publicitárias do banco estatal que favoreceram parlamentares aliados e amigos de Alckmin, como Jou.


Assessoria diz queR$ 1 milhão foi para diárias


Thomaz e Suellen são donos da JT Comércio e Distribuição de Produtos Naturais, que forneceria produtos usados na clínica e no spa de Jou. O nome fantasia da empresa é Eco Ervas. Trabalha com vendas e entregas em domicílio e consultórios médicos. Jou recebeu ainda do governo Alckmin R$ 1,044 milhão para realizar cursos de meditação para professores da Secretaria de Educação do Estado.


– Não é imoral apenas a sociedade de seu filho com a filha do acupunturista que ele beneficiou com contratos públicos para aulas de meditação e verbas para a revista do chinês. Mais imoral é sua base impedir que essas relações sejam investigadas. Vamos chamar seu filho a se explicar – disse Simões.


Se a oposição conseguir criar a CPI da Nossa Caixa, Thomaz pode ser intimado a depor como investigado. As relações do acupunturista com o ex-governador são investigadas também pelo Ministério Público Estadual. Estatais pagaram anúncios na revista ‘Ch´an Tao’, do acupunturista, por influência do então governador, suspeitam promotores e deputados.


‘Todo o trabalho do Dr. Jou tem sido gratuito’


Em nota, Luiz Salgado Ribeiro, assessor de Alckmin, rebate as denúncias. Afirma que o governo ‘nunca pagou um só centavo ao Dr. Jou para que ele ministrasse os cursos: ‘Todo o trabalho feito pelo Dr. Jou tem sido voluntário e gratuito’. Diz que o R$ 1.044 milhão pago se refere a diárias e transporte para 29 mil professores, treinados pelos cursos de Jou. Desses, apenas 864 fizeram os cursos no Spa Ch´an Tao, que é do acupunturista. O local foi escolhido porque ‘o ambiente era o mais apropriado, por ser tranqüilo, cercado de matas, sem televisão, acesso a celular ou internet’. Também porque as diárias eram de R$ 70, com refeições, contra R$ 110, de outros hotéis.


O assessor nega que a JT forneça ervas para os chás do spa. ‘Lá são usadas plantas produzidas na própria fazenda Ch´an Tao’. A nota diz ainda que a sociedade entre Thomaz e a filha de Jou não tem relação com os convênios firmados entre a Secretaria da Educação e a Associação de Medicina Tradicional Chinesa do Brasil. ‘A JT foi estabelecida em agosto de 2004 e os convênios, em 2003’, diz a nota.’


LÍNGUA PORTUGUESA
Joaquim Ferreira dos Santos


Olha a língua!


‘Tem o vigilante do peso. Ebréia é vigilante da gramática. Atenção, gerúndio; mexam-se, tempos compostos. Ela está lendo. Ponham-se aos lugares, não deixem vírgula no caminho para o sujeito. Cuidado com crases, neologismos e, caraca!, modismos adquiridos com a filha adolescente.


Ebréia pode parecer um nome inventado, coisa de ficcionista extravagante, mas a referida senhora existe e todo dia, mesmo que não seja a personificação da canção do Chico, ela me faz tudo sempre igual. Me sacode os verbos às seis da manhã. Manda para a minha caixa de e-mails um relatório dos erros cometidos na edição de hoje, os momentos em que meus verbos irregulares não foram correspondidos em sua regência, e ela, ai meus infinitivos mal flexionados!, Deus proteja minhas idiossincrasias adverbiais!, chocou-se com tamanho despautério à língua-mãe. Ebréia zela, policiando cacófatos, pelo que supõe ser o correto na sintaxe nacional. Nada contra. Não lhe faltemos ao respeito com a morfologia dos adjetivos nem cheguemos ao escárnio com seu carinho pelos pronomes pessoais do caso oblíquo. Taras são taras, e quem não teve uma mesóclise na vida atire o primeiro travessão. Ebréia não me beija com a boca de paixão, não me tem em qualquer alta consideração, e essas rimas são a primeira saudação irônica a esta companheira de matutina reclamação. Desculpem. Ebréia é de lascar o cano. Fogo na roupa. Ela é a versão humana do corretor de textos do Outlook, e quer segurar as preposições, as orações e seus predicados do sujeito com rédea curta. Impor a regra culta na minha crônica de bermudas. Nada dessas liberdades do ditongo crescente chegar pra cima das subordinadas na voz ativa. De algum lugar do Brasil, imagino que numa ilha semântica cercada de livros de gramática por todos os lados, Ebréia vigia a língua pátria e me tem como estuprador da pobre coitada, a flor do Lácio, a flor do lodo, a mulher de baixos costumes em quem, julga Ebréia, eu cuspo todo dia os meus mais vis desleixos idiomáticos. Ela é a leitora assídua, ombudsman informal, o cuco do relógio que pela manhã me grita, acorda para cuspir, seu iletrado, vai ler Celso Cunha, Evanildo Bechara, Pasquale Neto, qualquer coisa que te ponha prumo nos substantivos – e te cuida para não misturar as suas formas de tratamento.


Ao segundo galo da manhã, ouço vindo da tela do computador o sinal de ‘você tem uma nova mensagem’ e nesse momento eu costumo casar meus dez contra os cinco da empregada que já prepara o café na cozinha. Tenho certeza, não dá outra. É o e-mail de hoje de Ebréia, a leitora sempre alerta, comentando os vícios de linguagem, o trema desprezado, as regências transviadas, as concordâncias desrespeitadas, as palavras chulas e demais percalços, sem sandália, de quem imprime todo dia, no meio do pegapracapá das redações, algumas milhares de palavras num jornal. Erra-se muito, graças a Deus. Ebréia, porém, não gosta de intimidades com o senhor-doutor vernáculo, patrão a quem obedece cegamente, advérbio de modo que emprego pedindo-lhe as mais sinceras desculpas e amálgama lexical. Ela não quer que se dê tapinha na barriga do objeto direto, não admite rega-bofe com estrangeirismos nem rebuceteio fonético com a apóstrofe. Me impõe modos vocabulares. Semana passada comecei um período dizendo ‘me esforço nas gramáticas’ e Ebréia veio de lá, régua enorme na mão direita do e-mail, garantindo que o esforço não era tanto assim porque senão eu saberia que o correto é ‘esforço-me’. Os puxões de orelha que Ebréia me dá diariamente são desse tipo. Sobram cascudos para a falta de parágrafo. Grita de lá em pânico perene quando cacofateio um ‘nunca colecionei’ e uiva vitupérios em ‘v’ quando troco o isto pelo isso.


Conheço hebréias lindas. Ebréia, é minha primeira. Pelo tempo que dispõe a escarafunchar todas as minhas negativas duplas na mesma frase e em seguida deitar paciente relatório, cheios de interjeições espantadas sobre tamanho charivari de estilo, deve viver ao gozo das hipérboles de uma aposentadoria. É-lhe de direito. Isso não tira a possibilidade, com todo respeito ao seu particípio passado, de ser uma mulher ainda bonita no que tem de pretérito imperfeito. Imagino-a pacificada pelas onomatopéias amorosas da vida, posto que o amor é chama e o ó, vocativo. Gosto de sonhá-la, já de manhã, porém diuturnamente vaidosa, passando irritada os olhos azuis em meus trôpegos adjuntos adverbiais. A esferográfica indócil querendo cair de dente no transitivo indireto regido, defectivo, fora da ordem. Quero um dia vê-la, ao vivo, assoprar risinho de comiseração no quebra-língua de minhas pobres prosopopéias, meus tristes verbos complementares. Tenho para mim, por mais que ela possa implicar com esse clichê, que Ebréia seja ainda portadora das mais lindas bilabiais fricativas, todas adornadas com uma flor de açucena entre os dentes – e que um dia ela me mostre como cultivou tal jardim de sintagmas nesses anos de preposições tão dolorosas e adversativas. Macho elegante, poupar-la-ei de minha análise sintática sobre suas conjunções calipígias. Não farei, outrossim, discurso contra as proparoxítonas do seu lirismo funcionalismo público. Nada disso. Vibrarei em silêncio sua presença e anacolutos. Sem recitar Oswald em seu pedido de uma língua livre de arcaísmos e erudição vã, não vou clamar por um idioma formado a partir da contribuição milionária de todos os erros. Inútil. Ebréia não perdoaria liberdades com suas palavrinhas. Me copidescaria todo.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 10 de abril de 2006


CASO NOSSA CAIXA
Paulo Moreira Leite e Ricardo Brandt


Inquérito sobre a Nossa Caixa mostra investigação incompleta


‘A leitura dos nove volumes do inquérito sobre a Nossa Caixa põe em questão a versão de que todas as responsabilidades foram definidas e nenhuma dúvida restou para ser esclarecida, conforme autoridades ligadas ao então governador Geraldo Alckmin sustentam desde que se soube que durante 18 meses a instituição gastou R$ 42,5 milhões em publicidade com base em contratos vencidos. O inquérito em mãos do Ministério Público revela contradições e indícios que sugerem que o gerente do departamento de marketing do banco, Jaime de Castro Júnior, demitido por justa causa no fim de 2005 pela acusação de ‘mau procedimento, desídia e indisciplina’, foi a vítima exclusiva de uma investigação que não apurou corretamente o papel de outros executivos do banco, instalados em posições de maior responsabilidade.


Em ano eleitoral, a oposição planeja transformar a Nossa Caixa em tema de CPI, que, se for realizada, será a primeira da Assembléia Legislativa desde a posse de Alckmin. Não é preciso fazer prejulgamentos, mas é difícil negar que o caso reúne material digno de atenção, pelo menos. Em sindicância interna, o então gerente Castro Júnior diz ter sido ‘obrigado a fazer pagamentos fora das normas’. Fala genericamente em ‘dezenas de casos’ e num deles cita especificamente o atual presidente da instituição, Carlos Eduardo Monteiro, como autor da ordem para agir ‘fora das normas’. Ao investigar os R$ 42,5 milhões gastos sem contrato, o banco só foi capaz de comprovar despesas de R$ 37 milhões. Não se conseguiu descrever o destino de R$ 5,5 milhões.


Numa revelação que diz respeito à existência de relações perigosas entre a Nossa Caixa e as empresas beneficiadas, o inquérito conta que o jornalista Roger Ferreira, mais tarde promovido a secretário de Comunicação do governo, de onde pediu demissão logo depois que o caso veio à luz, foi assessor da presidência do banco com um salário de R$ 17 mil – pagos mensalmente por uma das agências de publicidade, a Full Jazz.


Funcionários e ex-funcionários da Nossa Caixa ouvidos pelo Estado sustentam que nenhum gerente teria autonomia para operar quantias nesse volume – a gerência de marketing responde diretamente à presidência da instituição – sem o comportamento solidário de outros departamentos. Castro Júnior conta até que assumia despesas maiores, que mais tarde eram referendadas pelos superiores da hierarquia da empresa. Sua autonomia para gastos isolados limitava-se a R$ 40 mil.


Uma reconstituição das investigações demonstra que a direção da Nossa Caixa só foi preocupar-se com as despesas sem contrato depois que, em março de 2005, recebeu um requerimento de informações assinado por Candido Vacarezza, deputado do PT, conhecido caçador de malfeitorias com dinheiro público – desde que cometidas pelas siglas adversárias. Dirigido à presidência do banco, o papel de Vacarezza andou de mão em mão até pousar na mesa de Castro Júnior.


Este declarou à sindicância que foi só então que fez uma descoberta fantástica: havia passado os últimos 18 meses, quando o contrato com as duas agências se encerrou, gastando dinheiro da instituição sem ter base legal para isso. Em sua defesa, Castro Júnior diz em diversos depoimentos que conversou várias vezes sobre o assunto com membros da direção do banco e assessores da presidência e ficou com a ‘impressão’ de que eles já haviam sido prorrogados. O impressionismo do gerente pode ser estranho, mas tem lá sua razão de ser. Embora tenha até recomendado a renovação dos contratos, como se vê no inquérito, quem tem poderes para assiná-los são os diretores do banco. Já o presidente da Nossa Caixa afirma que foi informado pelo próprio Castro Júnior da situação apenas em junho de 2005, três meses mais tarde, durante jantar reservado no Hotel Braston, no centro da cidade. As versões sobre esse encontro são contraditórias.


Monteiro diz na sindicância que ficou chocado com a descoberta. Castro Júnior informa que, embora tenha recebido uma repreensão, o presidente chegou a mostrar-se compreensivo, ainda que tenha feito uma pergunta direta ao tentar saber se havia recebido propina das empresas beneficiadas.(O gerente negou.) O certo é que no dia seguinte Castro Júnior foi impedido por dois policiais de voltar à sua sala no banco. Não conseguiu mais ser recebido pelo presidente, acabou afastado das funções e suspenso até que, no fim do ano, foi demitido por justa causa. Hoje aciona o banco por causa disso.


O presidente da Nossa Caixa sustenta que o gerente era o único responsável pela renovação do acordo formal, mas o inquérito mostra que o contrato anterior, com as mesmas agências, foi assinado pelo diretor de logística do banco, e não pelo gerente. Monteiro aponta Castro Júnior como responsável pelas operações sem contrato, mas à sindicância interna admite que autorizou e aprovou patrocínios por e-mail e autorizou ‘verbalmente’ gastos inferiores. Ele ainda admite que, mesmo sem poder formal de autorização, ‘opinava sobre a conveniência de determinadas campanhas’.


Num depoimento à sindicância, Castro Júnior descreve um momento exótico do ponto de vista das finanças públicas. Conta que foi instruído a pagar R$ 70 mil como patrocínio de evento vinculado a um deputado governista na Assembléia. Regateou e conseguiu baixar o pagamento para R$ 40 mil. Ele ainda tentou discutir o prazo, em vez de entregar o dinheiro à vista, como pedia o parlamentar. Conta que estava em negociações quando Monteiro telefonou para dizer que deveria fazer ‘o pagamento o quanto antes’. A data do pagamento coincidia com 15 de março de 2005, quando o PSDB enfrentava batalha duríssima – afinal perdida – para escolher o presidente da Casa.


Beneficiado por dois patrocínios da Nossa Caixa, de R$ 4 mil cada um, o deputado Afanásio Jazadji, do PFL, diz que foi discriminado. ‘Se o governo usasse um critério técnico, que é minha audiência, teria de anunciar muito mais.’ Ele é conhecido por suas críticas impiedosas ao sistema de segurança do Estado. ‘Por causa disso sou discriminado.’ O deputado conta que várias vezes foi procurado por emissários do governo que diziam que ele deveria ‘maneirar’ nas críticas para receber mais anúncios. Ele afirma que numa conversa com Alckmin, ainda governador, este lhe disse que pretendia ‘prestigiá-lo’. Afanázio interpretou isso como uma promessa de reforço nos anúncios públicos desde que se tornasse voz mais suave nas críticas ao governo. Após consulta da bancada na Assembléia, a assessoria do Palácio dos Bandeirantes nega que o governador e o deputado tenham tido um diálogo nesses termos.’


***


‘Cabia a ele toda a responsabilidade’, diz Monteiro


‘O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, atribuiu a responsabilidade dos problemas nos contratos com as empresas Colucci e Full Jazz ao ex-gerente de marketing Jaime de Castro Júnior. ‘Ele era o gestor desse contrato e cabia a ele toda a responsabilidade.’ Monteiro disse que a sindicância interna não constatou nenhuma responsabilidade de outro servidor e que a falta de contrato entre o banco e as agências de publicidade só chegou a seu conhecimento no dia 27 de junho de 2005, quando foi informado pelo próprio Castro Júnior.


‘Como era um fato grave, decidi afastá-lo e foram tomadas as providências’, disse Monteiro. Segundo ele, as empresas foram informadas, determinou-se a realização de nova licitação e nomeou-se uma comissão de sindicância. Foram informados ainda o diretor jurídico, o diretor de controle interno, o conselho administrativo, o secretário de Fazenda e o Tribunal de Contas do Estado. Dois dias depois, Monteiro afirmou ter tomado conhecimento de um requerimento da Assembléia Legislativa pedindo informações sobre o caso.


Ele explicou que a sindicância concluiu que Castro Júnior foi responsável pela não-renovação do contrato e pelos pagamentos sem contratação. O gerente teria agido irregularmente ainda ao responder ao pedido de informações da Assembléia em nome do presidente. E teria mentido em uma auditoria interna de 2003, ao afirmar, segundo Monteiro, que os contratos haviam sido prorrogados.


Apesar de ter pago por serviços sem contrato por mais de um ano, a Nossa Caixa sustenta que não houve prejuízo para os cofres públicos. ‘Todos os serviços pagos foram prestados’, disse o presidente do banco, que afirmou que Castro Júnior fez só uma reclamação trabalhista, questionando sua demissão durante uma licença médica. Segundo Monteiro, os resultados da sindicância não foram encaminhados ao Ministério Público Estadual nem à Polícia Civil porque concluíram que não houve ilícito penal ou indício de crime. E, como não houve prejuízo, não foi tomada nenhuma medida cível.


O ex-assessor especial de Comunicação Roger Ferreira foi procurado ontem, mas não foi localizado. Em outras ocasiões, Ferreira negou irregularidades nos gastos de publicidade e em sua contratação. Segundo ele, o banco tem ‘autonomia para realizar sua comunicação da maneira que considerar mais adequada’. Ele garantiu que governo não faz interferências nas ações desse tipo. P.M.L. e R.B.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
David Hoffman


Sem liberdade de imprensa, sem empréstimo


‘À 1 hora de uma madrugada recente em Nairóbi, agentes policiais mascarados invadiram os escritórios da estação de televisão KTN e do jornal queniano The Standard, ambos pertencentes ao Standard Media Group. Comandos com fuzis de assalto se apoderaram de arquivos e equipamentos. A imprensa escrita foi silenciada, jornais foram queimados, empregados aterrorizados e três jornalistas presos.


Apesar de o presidente queniano e vários ministros terem alegado ignorância do ataque, John Michuki, o ministro de Segurança Interna, admitiu que os ataques à imprensa foram planejados por autoridades do governo que supostamente queriam mandar um aviso à mídia queniana de que as recentes reportagens sobre corrupção no governo não seriam toleradas. ‘Quando você provoca uma cascavel, deve estar pronto para ser mordido’, disse ele.


Há 20 anos que não se via uma repressão tão gritante contra a mídia no Quênia. Embora 26 embaixadas e organizações internacionais tenham protestado (incluindo as Nações Unidas), o Banco Mundial, como de costume, ficou em silêncio.


Então, depois de hesitar durante seis dias, o Banco Mundial censurou abertamente o governo pelo ataque, e The Standard noticiou que o Banco Mundial havia imposto uma nova regra colocando a liberdade de imprensa como uma condição para a liberação de empréstimos congelados de US$ 250 milhões. Os empréstimos estão retidos desde que reportagens revelaram casos de fraude em massa do governo, mesmo antes de John Githongo, nomeado pelo presidente Mwai Kibaki para ser o ‘czar anticorrupção’, ter exposto detalhes da corrupção no governo e fugir do país.


Colin Bruce, diretor do Banco Mundial no Quênia, negou que a entidade estivesse fazendo da liberdade de imprensa um novo elemento de condicionalidade, mas o mercado acionário queniano já havia despencado.


Mesmo que a condicionalidade formal não tenha sido imposta, o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz, está discretamente quebrando um precedente ao ordenar que a entidade proteste publicamente quando a liberdade de imprensa é agredida.


Wolfowitz entende que uma mídia noticiosa aberta é o meio mais importante para expor a corrupção endêmica que está minando o crescimento econômico do mundo em desenvolvimento. E está determinado a fazer mais do que simplesmente falar no assunto. Ele recentemente reteve US$ 800 milhões em empréstimos, incluindo os US$ 250 milhões para o Quênia, por causa de alegações de corrupção. ‘A corrupção é a maior ameaça à democracia desde o comunismo’, declarou Wolfowitz.


Wolfowitz e importantes economistas do Banco Mundial sabem que uma mídia noticiosa forte e independente desempenha um papel-chave na promoção da transparência e da boa governança, que por sua vez conduzem ao desenvolvimento econômico e político. A corrupção só pode florescer quando os governos operam com impunidade fora dos holofotes e da exposição pública que uma mídia independente produz. Por isso, os políticos autoritários e corruptos de toda parte tentam suprimir sua mídia independente doméstica.


No passado, o Banco Mundial vinha relutando em se manifestar sobre essa questão, temendo que isso pudesse ser considerado uma ingerência na política doméstica de Estados soberanos. Mas a liberdade de imprensa é um direito universal; é também uma precondição para enfrentar o problema crucial da corrupção. Como disse Wolfowitz, ‘não se pode realmente falar de desenvolvimento econômico sem falar de liberdade de imprensa’.


Se Wolfowitz e o Banco Mundial quiserem realmente atacar a corrupção, também ajudariam colocando a liberdade da mídia como uma precondição para futuros empréstimos. A adoção de um índice de responsabilidade da mídia com normas comuns para medir a obediência às liberdades de imprensa básicas de um país reduziria enormemente a corrupção no mundo em desenvolvimento.


As pressões para aumentar a transparência dentro do governo só podem ir até aí. O desenvolvimento de uma imprensa livre transforma o público num participante ativo das reformas. Protegida pela ameaça de sanções do Banco Mundial, a mídia de todos os lugares desempenharia um papel natural de vigilante do interesse público.


Em seu livro America at the Crossroads, Francis Fukuyama conclui que a pressão doméstica é a força mais eficaz para uma reforma institucional duradoura. Uma imprensa livre garante que o público seja informado e tenha voz. Ao tornar a liberdade de imprensa uma condição para seus empréstimos, o Banco Mundial protegeria a mídia, permitindo-lhe defender o direito do público a um governo com transparência e responsabilidade.


O Banco Mundial está caminhando na direção certa. Condicionar os empréstimos à liberdade da mídia seria um passo adiante decisivo.TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK


*David Hoffman é presidente da Internews Network, uma organização internacional sem fins lucrativos que promove o acesso à informação de pessoas em todo o mundo. Escreveu este artigo para o ‘International Herald Tribune’’


TV DIGITAL
Gerusa Marques


TV digital: debate ainda vai longe


‘O debate sobre a implantação da TV digital no Brasil não termina com a escolha do padrão tecnológico que será adotado no País. Técnicos e políticos envolvidos na discussão prevêem, inclusive, que as divergências se tornarão mais acirradas. Isso porque, mesmo depois da opção tecnológica, será necessário definir um modelo mais completo, com regras para cada setor, envolvendo emissoras de televisão, empresas de telecomunicações, produtoras de conteúdo e a indústria de equipamentos.


Para pôr ainda mais lenha na fogueira, parte dessa discussão terá, necessariamente, de passar pelo Congresso, que deverá se preocupar com este assunto só em 2007, já que neste ano os parlamentares estão envolvidos com as campanhas eleitorais.


Mesmo que o governo chegue a um consenso sobre a tecnologia este ano, as emissoras só começarão a operar comercialmente no ano que vem. O diretor de Engenharia da Globo, Fernando Bittencourt, disse na semana passada, em debate no Senado, que as emissoras precisam de cerca de um ano para iniciarem a transmissão em sinal digital. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, também já admitiu que não dá mais para inaugurar a TV digital no dia 7 de setembro, de acordo com a idéia inicial.


O governo está pelo menos dois meses atrasado na escolha e ainda não dá sinais de que já se decidiu, uma vez que continua tentando negociar contrapartidas comerciais para o Brasil. Para correr atrás do prejuízo, o presidente Lula autorizou na sexta-feira uma viagem ao Japão de uma comitiva formada por Costa e pelos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Desenvolvimento Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan.


Entre terça e quinta-feira, eles serão recebidos por representantes do governo japonês e também com executivos da Sony, NEC, Toshiba e Panasonic (ver reportagem abaixo). Está em jogo a instalação no Brasil de uma fábrica de semicondutores, que é uma das exigências do governo brasileiro para a escolha do padrão de TV digital. Além do padrão japonês, o governo brasileiro estuda ainda os padrões europeu e, com menor chance, o americano.


Enquanto isso, o debate ainda está muito atrasado em questões fundamentais, como o detalhamento do modelo de negócios para as emissoras de televisão e empresas de telecomunicações, a distribuição de novos canais, os novos participantes, a multiprogramação e os planos para o desenvolvimento da indústria nacional. Esta última precisará inclusive de adaptações e de novos parques, para produzir os televisores digitais e as ‘caixinhas’ que farão a conversão do sinal digital em analógico, permitindo o uso dos atuais aparelhos de TV.


Hélio Costa, que já demonstrou sua preferência pelo padrão japonês, sempre defendeu uma definição rápida, pelo menos do sistema de transmissão de sinais. O argumento dele é de que essa decisão pode ocorrer separadamente das demais, para garantir que a TV digital comece a ser implantada até dezembro. Com a permanência dele no Ministério das Comunicações, Costa terá mais tempo para participar dos outros processos que se seguirão à escolha do padrão, reforçando a sua influência na definição das propostas que serão encaminhadas ao Congresso.


Mas, nesse processo, ele deverá enfrentar de maneira mais explícita as opiniões divergentes de outros ministros, como Furlan, que está especialmente preocupado em criar possibilidades para o desenvolvimento da indústria nacional, e do ministro da Cultura, Gilberto Gil, que quer mais espaço para a produção cultural nacional. Tanto Furlan quanto Gil, ao contrário de Costa, têm mais simpatia pelo modelo europeu.’


***


No Japão, Koizumi receberá os ministros


‘A delegação de ministros brasileiros que irá nesta semana ao Japão negociar a instalação, no Brasil, de uma fábrica de semicondutores, será recebida pelo primeiro-ministro do governo japonês, Junichiro Koizumi.


Integram a comitiva os ministros das Comunicações, Hélio Costa, das Relações Exteriores, Celso Amorim, e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan, além de técnicos dos Ministérios da Casa Civil, Fazenda e Ciência e Tecnologia.


A fábrica de semicondutores, que são chips usados em televisores, eletrodomésticos e computadores, é uma das exigências do governo brasileiro para a escolha do padrão de TV digital que será implantado no Brasil. Além do modelo japonês, também estão em estudo as tecnologias européia e americana.


De acordo com a agenda distribuída pelo Itamaraty, os encontros ocorrerão entre terça e quinta-feira. Também estão previstas reuniões com os ministros japoneses dos Negócios Estrangeiros, Taro Aso, do Interior e Comunicações, Heizo Takenaka, e da Economia, Comércio e Indústria, Toshihiro Nikai, além do vice-presidente da Associação de Indústrias e Negócios de Rádio, Genichi Hashimoto. Entre as empresas japonesas que vêm negociando com o governo brasileiro estão a NEC, Panasonic, Sony e Toshiba.


Tanto os japoneses como os europeus mostraram interesse em instalar fábricas desse tipo no Brasil, mas os dois lados argumentam que essa decisão depende de estudos de viabilidade econômica, que devem levar cerca de um ano para serem concluídos. Com a viagem, as negociações com os japoneses poderão se tornar mais efetivas, aumentando assim as chances de o padrão japonês ser o escolhido.


A escolha do padrão está dois meses atrasada em relação ao cronograma inicial do governo, que previa o anúncio em 10 de fevereiro.’


SUZANE NO FANTÁSTICO
Adriana Chiarini


Suzane faz encenação em entrevista


‘A reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, flagrou uma farsa montada pela defesa de Suzane von Richthofen, denunciada por participar do assassinato dos pais, numa entrevista exibida ontem. O microfone preso à roupa de Suzane captou orientações de advogados sobre como ela deveria se comportar diante da câmera. ‘Chora!’, disse um deles num determinado momento. ‘Diz que ele mandou’, afirmou outro, pedindo à jovem que incriminasse o ex-namorado Daniel Cravinhos.


Suzane confessou à polícia ter ajudado a matar os pais, Manfred e Marísia von Richthofen, em 31 de outubro de 2002. Ela abriu a porta da casa da família, no Campo Belo, zona sul, para Daniel e o irmão dele, Christian, que executaram o casal com golpes de barra de ferro.


Sem saber que estava sendo gravado, o advogado e amigo da família Denivaldo Barni ordenou, antes do início da segunda parte da entrevista, feita na quinta-feira em Itirapina, no interior paulista: ‘Chora!’. ‘Não vou conseguir’, respondeu a jovem. ‘Você tá feliz? Então tá’, retrucou Barni.


No mesmo dia, quando Suzane já tinha gravado a maior parte da entrevista e a equipe da Globo estava longe, o microfone captou outra ordem: ‘Acabou. Mais nada. Começa a chorar e fala: ‘Não quero falar mais’.’ Segundo o Fantástico, a voz foi identificada por um perito criminal como sendo a do advogado Mário Sérgio de Oliveira, que deve fazer a defesa de Suzane no julgamento, marcado para o dia 5 de junho no 1º Tribunal do Júri da capital.


A mesma voz orientou a jovem a dizer que apenas seguiu ordens do ex-namorado: ‘O que ele mandava, ele mandava sempre dizendo que se o amasse, era para fazer, que eu nunca… ‘E pelo amor de Deus, não quero mais falar desse assunto, que me faz muito mal’.’


Suzane gravou a primeira parte da entrevista quarta-feira, no apartamento de Barni, na Vila Sônia, zona sul. Escondendo o rosto com o cabelo, Suzane pareceu chorar 11 vezes nos 34 minutos em que esteve diante da câmera – sem nenhum sinal de lágrimas, segundo o Fantástico.


A entrevista foi interrompida a pedido de Suzane, que, com jeito frágil e infantil, usava pantufas de coelho e camiseta com personagem da Disney e exibiu fotos da família. ‘Não agüento mais’, disse, parecendo chorar.


Suzane declarou que gostaria de voltar à época em que tinha 15 anos, ‘para nunca ter conhecido ninguém daquela família (Cravinhos)’. Disse ter ódio de Daniel. ‘Ele destruiu a minha família. Ele destruiu tudo. Tudo o que eu tinha de mais precioso.’


A jovem culpou o ex-namorado pelo crime. ‘Ele sempre me dava muita droga, muita droga. Cada vez mais e mais, e isso foi acabando comigo. ‘Se você me ama, usa. Se você me ama, faz isso’.’


Suzane não respondeu a perguntas sobre a noite do crime ou seu planejamento. ‘Hoje eu vejo como era feliz e não sabia. Como eu queria minha família de volta…’’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Globo faz fila às 9


‘Com a concorrência da Record e as investidas do SBT, virou questão importante na Globo a escolha da ordem de sucessão das novelas das 9. Quase estratégia de guerrilha.


Belíssima nem acabou, Páginas da Vida, de Manoel Carlos, mal começou a ser produzida e a emissora já forma a fila de autores e tramas que virão a seguir. A dúvida era: quem sucederia Páginas da Vida, que estréia em julho?


Gilberto Braga, Benedito Ruy Barbosa e Aguinaldo Silva disputavam o espaço. Na semana passada, a cúpula da Globo decidiu que depois de Manoel Carlos virá mesmo Gilberto Braga com sua Copacabana. Com direção de Dennis Carvalho, a novela deve estrear em março de 2007.


Depois de Braga virá Benedito Ruy Barbosa, que tem entre os seus projetos o de um remake de Pantanal. Sim, a Globo, que até então negava o interesse em refazer a saga de Juma Marruá – que marcou a história na extinta TV Manchete – voltou atrás e já deu sinal verde para Barbosa tocar o folhetim.


Num futuro mais distante aparece Aguinaldo Silva, atualmente em Portugal. Sua trama deve entrar no ar só em 2008.’


POLÍTICA CULTURAL
Karla Dunder


Artistas na corda bamba brigam por orçamento


‘Como sempre, a dança está na corda bamba. O Movimento Mobilização Dança briga por verbas para os artistas independentes e reclama do veto ao orçamento feito pelo prefeito José Serra à Lei de Fomento, que previa R$ 6 milhões para a área. Ao mesmo tempo, a cidade ganha os palcos do Teatro Itália, que passa a ser o Teatro de Dança, via Secretaria Estadual de Cultura.


Em setembro, o projeto de lei idealizado pelos vereadores José Américo, Tita Dias e Nabil Bonduki, com base nas reivindicações da categoria, foi aprovado por unanimidade pela Câmara. A lei nº 508/04 garantiria uma verba de R$ 6 milhões, distribuídos para 30 grupos de dança contemporânea.


No mesmo ano, o então prefeito José Serra sancionou a lei, porém vetou a garantia orçamentária e deixou a questão com a Secretaria Municipal de Cultura. Segundo o vereador José Américo, após uma reunião com o secretário de Cultura, Carlos Augusto Calil, o valor que a secretaria dispõe para a lei é de R$ 1 milhão. ‘O projeto foi aprovado com alguns vetos, o principal deles foi a verba. Essa redução descaracteriza a lei, que previa contemplar um grande número de artistas por um longo período, de tal forma que estimularia um movimento de dança contemporânea na cidade’, afirma o vereador. Ele negocia a derrubada do veto. ‘Tecnicamente é possível, preciso da maioria simples, o apoio de 28 vereadores.’


Artistas ligados ao Mobilização Dança organizam manifestações para o dia 27, quando realizarão um seminário na Câmara para falar da dança como um bem cultural e no dia 28 sairão em passeata da Câmara até a Secretaria de Cultura.


‘Debatemos o orçamento da secretaria, temos um déficit e o valor disponível não é o ideal. A Câmara apresentou a Lei de Fomento, mas não indicou a fonte de onde viria a verba, tornando difícil executar o projeto. Como não houve uma emenda orçamentária, o valor de R$ 6 milhões fica fora do nosso parâmetro de gastos’, explica Calil.


TEATRO DE DANÇA


O Teatro Itália passa a ter sua programação voltada exclusivamente para a dança a partir de junho. Na quinta, o secretário de Estado de Cultura , João Batista de Andrade, assinou com o diretor-geral da Apaa (Associação Paulista dos Amigos da Arte), Vicente Amato Filho, e o presidente do Circolo Italiano, Mario De Fiori, um acordo para que a associação gerencie o teatro e promova um projeto de dança com a assessoria da pesquisadora Cássia Navas. ‘A idéia é garantir a circulação de espetáculos do interior e do litoral em São Paulo. O espaço será aberto para os mais variados estilos de dança, além de dar oportunidade aos semiprofissionais de se apresentarem’, diz Cássia.’


INTERNET & TECNOLOGIA
Pedro Doria


O Windows, à espreita do Mac


‘Há uma semana, o assunto por aqui eram os aniversários da Apple e da Microsoft, sobre como mudaram o mundo e como são diferentes. E, nestes sete dias entre lá e cá, mudou tudo bem mais do que nos últimos 30 anos – e ficaram próximas, muito próximas, a Apple e a Microsoft. Os novos Macintosh com chip Intel poderão rodar o Windows.


Desde a mudança para o coração Intel, os Macs são máquinas com mais ou menos a mesma estrutura que os PCs. Então, com algum malabarismo técnico, já era possível instalar neles o Windows. A diferença é que, agora, a própria Apple oferece uma solução.


Qualquer MacIntel pode ter o Mac OS X e o Windows instalados: basta, ao iniciar o computador, que o usuário escolha em que ambiente quer entrar. Para boa parte dos usuários, isso quer dizer muito pouco. A novidade de ter dois sistemas na máquina pode ter sua graça no início, mas o inconveniente de dar um boot sempre que quiser mudar vai cansar o cidadão.


A novidade envolve riscos para a Apple. A Adobe, por exemplo, fabricante dentre outros do Photoshop, pode decidir que não fará mais softwares para Mac. Afinal, a versão Windows também roda no Mac. Quais as chances de acontecer? Talvez bem poucas.


O risco há do outro lado, também. Se um Mac roda Windows, aquele tipo de usuário que compra máquinas pela beleza ou elegância ou qualidade técnica e não se preocupa muito com o preço pode ficar tentado a comprar um Mac. E, como já está lá, lentamente pode se ver seduzido pelo sistema da Apple, que é superior.


Bom lembrar, um MacBook pode sair (legal) por uns R$ 10 mil, mas é que por aqui os preços são irreais. Está, nos EUA, na faixa de US$ 2.000, um preço razoável para quem ganha na moeda americana.


Um PC já é, por natureza, capaz de fazer dual boot. Qualquer um pode rodar Windows e Linux, por exemplo. Mas quem é de Linux quase nunca abre o Windows. E quem é de Windows, em geral, nem sequer cogita instalar o Linux. Apesar de mais amigável, nada faz acreditar que restarts constantes virão a ser rotina.


O pulo do gato está noutro canto: virtualização. Horas após a Apple divulgar, sem estardalhaços, o suporte para Windows, uma pequena empresa chamada Parallels anunciou seu Workstation 2.1. O que ele faz é rodar o Windows de dentro do Mac OS.


Quer dizer, sem sair do ambiente Mac, o usuário lança mão de um programa Windows. Ou Linux. Aí, neste ponto, um MacIntel fica repentinamente uma máquina muito interessante. É uma máquina que num mesmo ambiente (Mac) roda qualquer programa. Seja Mac, Windows ou Unix de qualquer sabor. Supostamente, sem perda de velocidade.


Assim, Macs viram computadores universais, rodam qualquer programa.


O que não quer dizer que não seja um momento tenso, tenso para todos. Voltemos a um dos cenários acima: produtoras de software decidem parar de escrever para Macs porque sua versão Windows também funciona nas máquinas. Devem circular por aí os piores pesadelos de Bill Gates.


Isto mesmo. Para a Microsoft, a Apple como está, no tamanho que tem, é fundamental. Há alguns anos, Gates e cria foram processados pelo governo norte-americano acusados de sustentar um monopólio. O argumento é que, dona do sistema, empurrava os programas como Word ou Explorer. O usuário fica à mercê do preço que a Microsoft cobrar. O argumento que ajudou a impedir a divisão da empresa em duas foi a Apple: há um concorrente.


Então, se por algum motivo o Mac OS for abandonado e o Linux não for adotado em larga escala nos computadores pessoais, Gates fica novamente à mercê da Justiça norte-americana.


A Microsoft comprou, faz uns anos, um software chamado VirtualPC. Serve, por exemplo, para rodar uma versão de um Windows dentro do outro. Um VirtualPC adaptado aos MacIntel é o concorrente perfeito para o Workstation e confirmaria essa qualidade multiplataforma às máquinas da Apple.


E é claro que tudo poderá ficar ainda mais confuso. Oficialmente, o Mac OS X só funciona nas máquinas Apple. Com muita traquinagem tecnológica, ele levanta em qualquer PC, mas precariamente. Se algum finlandês – finlandeses fazem muito disso – conseguir inventar uma maneira fácil de instalar o Mac OS em qualquer PC, aí muda tudo.


Os computadores poderão perder a elegância, mas quem fica repentinamente ameaçado é o Windows.’


Ricardo Anderaos


Crise e oportunidade


‘Nossa, tá tudo diferente! A começar pela capitular. É assim que se chama essa enorme letra aqui ao lado, que agora marca o início das colunas assinadas no Link.


Nosso caderno estréia hoje um novo projeto gráfico no Estado. Ganhou um novo logotipo, nova tipologia e nova diagramação. E o Link do Jornal da Tarde, que sai às quintas-feiras, também mudou, como parte da grande reformulação que o JT estreou na semana passada. Vivemos um processo de revolução permanente por aqui. E não é por acaso.


É fascinante trabalhar num jornal neste início do século 21. Não pelo glamour da profissão, já explorado à exaustão pelo cinema e pela literatura. Mas pelo fato de ela estar passando por uma de suas mais profundas crises.


Você já deve ter ouvido falar de como as revistas, a TV e a internet roubaram dos jornais a atenção da maioria do público e de parte dos anunciantes. Num país no qual a população cresce de maneira constante, continuar vendendo o mesmo número de exemplares que há alguns anos é sinal de perda de terreno.


Mas essa crise não é exclusividade do Brasil. Jornais de todo o mundo pararam de aumentar suas tiragens. Alguns sofrem acentuado declínio. Para reverter a situação, inúmeras fórmulas vêm sendo empregadas. Uns utilizam novos formatos para facilitar a leitura, como os tablóides. Há quem aposte nos jornais gratuitos. Outros, nos títulos especializados.


Esse é o problema das empresas, a crise do business. O grande vilão nessa história, que fez da notícias uma coisa fácil de achar, algo que encontramos sem pagar nada por isso, é a internet.


Toda uma geração está crescendo acostumada a baixar conteúdos grátis pela rede. O caso mais flagrante é o da música. As grandes gravadoras têm resistido, com certa truculência, a essa verdade inapelável. Mas a estratégia não tem funcionado bem para elas ou para os amantes da música. A capa desta edição do Link, assinada pelo Guilherme Werneck, traça um panorama dessa situação.


Coisa parecida acontece com as notícias. Qualquer pessoa conectada à internet consegue informações básicas. Aquilo que os jornalistas chamam de hard news está a um simples clique do mouse: quem fez o quê, onde, quando e por quê?


Mas os jornais têm uma mercadoria mais valiosa para vender: a análise desses acontecimentos. Num mundo cada vez mais complexo, não basta acessar informação em estado bruto. É preciso ter uma leitura dos fatos para entender o que está acontecendo.


O fenômeno dos blogs deu à luz a uma nova fonte de notícias. Esses sites nasceram como um diário na internet, com notas curtas, que podem ser facilmente atualizáveis por qualquer pessoa, sem conhecimento técnico da internet.


Alguns blogs se transformaram em veículos jornalísticos nas mãos de pessoas bem informadas e relacionadas. Blogs abalaram governos e derrubaram altos executivos com suas revelações.


Somando a crise do business com a ascensão dos blogs, muita gente fez uma conta de aritmética simples. Resultado: os jornais estariam com os dias contados. Em poucos anos, desapareceriam completamente.


Há pouco tempo ouvi um publicitário famoso criticar os jornais por dedicarem espaço à sua própria crise. Era um comentário jocoso, na linha ‘isso é uma burrice, vocês não devem ficar expondo seus problemas ao público’.


Nada esclarece mais as diferenças entre jornalistas e publicitários. Um publicitário é um sujeito treinado para olhar um copo com água pela metade e convencer todo mundo que ele está meio cheio. Para nós, jornalistas, o que interessa é gritar a plenos pulmões que ele está meio vazio. O jornalista é alguém treinado para buscar o que pode haver de errado por trás daquilo que parece certo. Ou que tenta parecer.


Essa é outra mercadoria valiosa que os jornais oferecem: a busca pelo que não é aparente, doa a quem doer. Mesmo que, às vezes, doa na gente mesmo. Acontece…


Chinês para mim é grego. Mas já ouvi falar muitas vezes que os ideogramas de crise e oportunidade se equivalem e se completam.


Semana passada The New York Times, um dos jornais mais influentes do mundo, estreou um novo website com várias inovações importantes. Em janeiro deste ano, as redações de O Estado de S. Paulo, do Jornal da Tarde e do portal Estadao.com.br passaram por um processo de unificação. O jornal britânico The Guardian fez dos blogs uma das peças fundamentais de sua estratégia na internet e já recebeu vários prêmios por isso.


É por essas e por outras que acho fascinante trabalhar num jornal nestes tempos. Simplificando: se a vida te der um limão, faça com ele uma limonada.’


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