Politicagem em Copenhague
Na imprensa internacional, a principal personagem brasileira na Conferência do Clima, em Copenhague, é a senadora Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente.
Por uma razão muito simples: ela é especialista no assunto, construiu sua carreira como ativista, desde o tempo em que militava ao lado do líder seringueiro Chico Mendes, no Acre.
Atua e estuda especialmente mecanismos de defesa das florestas tropicais, mas há muitos anos também se especializou em educação e tem sido apontada como referência em projetos de desenvolvimento sustentável.
Há oito anos, ela foi a estrela de um seminário sobre o Brasil realizado na Universidade Berkeley, nos Estados Unidos, ao qual compareceram também os então senadores José Serra e Christóvam Buarque, a falecida ex-primeira dama Ruth Cardoso e sindicalistas.
Na imprensa brasileira, os principais destaques são a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chefe da delegação oficial brasileira, e o governador de São Paulo, José Serra.
Os dois são os prováveis candidatos que irão capitalizar a disputa presidencial do ano que vem.
A ministra, por obrigação, participa das principais reuniões e tem que ser citada no noticiário.
O governador, que também tem projetos a mostrar durante o evento, não pode fugir da oportunidade de evidenciar suas afinidades com o meio ambiente.
Nenhum dos dois tem tintas verdes na biografia, mas o momento exige flexibilidade, e a imprensa serve para isso.
Aliás, a senadora do DEM Kátia Abreu, líder dos ruralistas no Congresso e inimiga declarada dos ambientalistas, também passeia suas novíssimas convicções por Copenhague.
A rigor, o encontro de Copenhague trata de adaptar a política e a economia ao conhecimento científico.
A ciência demonstrou que os negócios privados e estatais, os hábitos de consumo e as políticas públicas que vêm sendo praticados em todo o mundo conduziram o planeta aos limites do esgotamento e que as mudanças climáticas produzidas em grande parte pela atividade humana já causam grandes estragos no ambiente e irão agravar a situação dos países mais pobres.
As negociações dos técnicos e diplomatas estão perto de se esgotar.
O encontro entra agora na fase de definição, com a chegada a Copenhague dos chefes de Estado.
E o que a imprensa brasileira fez até agora foi transferir para a Dinamarca as picuinhas da política nacional.
***
Fugindo do debate
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– O grande público pôde, finalmente, tomar conhecimento da existência da Conferência Nacional de Comunicação, aberta na segunda-feira, em Brasília, com encerramento marcado para amanhã (1&/!@). E como milhões de brasileiros tomaram conhecimento da conferência? Por meio do Jornal Nacional, que na edição de anteontem (14) dedicou quase um minuto a uma nota narrada pela voz pausada e bem articulada de William Bonner, noticiando o início dos trabalhos da Confecom (ver aqui).
Era uma pauta óbvia. Afinal, tratava-se de uma conferência que reunia mais de 1.600 delegados, e cujos trabalhos foram abertos com um discurso do presidente da República. Embora se trate do mais importante telejornal brasileiro, a edição do Jornal Nacional optou por dar essa matéria sem imagens.
Esse detalhe passaria por uma simples decisão dos editores não fosse o tom – e a entonação – de editorial imprimida por Bonner na leitura da nota. Ali foi dito que “a representatividade da conferência ficou comprometida sem a participação dos principais veículos de comunicação do Brasil”, para em seguida lembrar que seis das mais importantes entidades empresariais do campo da comunicação – Abert e ANJ, entre elas – decidiram, quatro meses atrás, abandonar a organização da conferência por considerarem “as propostas de estabelecer um controle social da mídia uma forma de censurar os órgãos de imprensa, cerceando a liberdade de expressão, o direito à informação e a livre iniciativa, todos previstos na Constituição”.
Não é bem assim. Aliás, não é nada disso. O problema maior é que as empresas de mídia têm sérias dificuldades em discutir publicamente o seu papel na sociedade – em suma, a mídia não pauta a mídia. No caso dos veículos impressos, pode-se até compreender essa atitude, ainda assim passível de críticas. Mas no que respeita às empresas de radiodifusão, que são concessionárias de um serviço público, essa postura é inadmissível. Mas, como de costume, seus representantes fazem cara de paisagem e seguem em frente, brandindo o argumento da defesa da liberdade de expressão, claro. É lamentável.