Exageros sem filtro
Delegados dizem que seriam filiados ao PCC 140 mil presos no estado de São Paulo, e 500 mil fora da cadeia. É uma enormidade que os jornais publicam sem questionar. Na realidade, as cadeias são dominadas por facções criminosas porque o Estado se omite. Os presos se enquadram para sobreviver. Mas estão longe de ser, todos, soldados do crime. Dos 12 mil que tiveram permissão para visitar a família no Dia das Mães, 11 mil voltaram. Serão masoquistas? Serão soldados tão disciplinados do crime que voltam para ser solidários aos outros? Apenas malandros que não querem perder os benefícios de progressão da pena?
A quem interessa exagerar os problemas? A cada momento da crise aparecem mais versões disparatadas. E o filtro da mídia falha. Isso para não falar da tendência ao sensacionalismo, que se acirra.
Novas imposturas
Alberto Dines critica as novas imposturas jornalísticas.
Dines:
– Parece que estamos na fase das imposturas jornalísticas. A da Veja caiu por terra, desmascarada pela própria fonte, Daniel Dantas. Ontem, foi a vez da Rede Bandeirantes inventar uma entrevista por celular com o líder do PCC. O governo de S.Paulo protestou, a Bandeirantes tirou do ar, ofereceu uma desculpa esfarrapada através do repórter e depois declarou que aspas ainda não tem uma posição oficial a respeito, fecha aspas. Em outras palavras, a Band ainda não encontrou um redator capaz de inventar alguma justificativa para tamanha e insana irresponsabilidade num momento tão grave.
Nestes dias dramáticos, a mídia eletrônica parecia disposta a noticiar apenas o que acontecia, ou pelo menos aquilo que ela conseguia registrar, sem ceder às tentações sensacionalistas. Ontem, o sensacionalismo venceu a parada.
Mauro:
– A Record havia colocado na véspera uma suposta entrevista com líder de facção criminosa.
Dines:
– As duas concorrentes embarcaram na louca aventura de colocar no ar algo que tem toda a aparência de uma deslavada mentira. Televisão é uma concessão a título precário, o concessionário tem claros compromissos com a sociedade e definidos na Constituição. Terá o governo federal a coragem de punir duas emissoras com forte apelo populista na véspera da temporada eleitoral? Não esqueçamos que a Record apóia o governo através da bancada evangélica que segue a seita do bispo Edir Macedo. Por outro lado, se o governo federal não for rigoroso com a baixaria jornalística, a situação poderá degenerar num vale-tudo incontrolável. A busca pelo Ibope numa situação destas, além de calamitosa, é criminosa. E como tal deve ser tratada.
Meia providência
A Folha de S. Paulo informa nesta sexta-feira, 19 de maio, o seguinte: “Nos bastidores da Band, circulava ontem versão de que uma mulher teria procurado a emissora oferecendo a entrevista, que foi feita, mas a direção não teria se convencido de que era Marcola quem falava. Por precaução, não alardeou a reportagem”.
Ora, num assunto dessa gravidade não se podem tomar meias providências: põe no ar, mas não dá destaque. Se merecia ser exibida, a entrevista era um furo de reportagem.
A Folha e o Estadão comparam hoje o comportamento da Bandeirantes com o do SBT e Gugu Liberato em 2003, quando foi ao ar uma entrevista encenada com falsos membros do PCC.
Só o Globo reproduziu
O jornal O Globo ficou isolado hoje. O Jornal Nacional nem mencionou a entrevista da Band. O Globo Online publicou a transcrição da entrevista e, quando foi informado de que as autoridades negavam peremptoriamente sua autenticidade, tirou-a do ar, mas colocou uma explicação. A Folha Online deu trechos substanciais e não os tirou do ar. A Folha e o Estadão não publicaram a transcrição.
Ameaça requentada
Não se sustenta a manchete de hoje do Estadão, sobre políticos na mira do PCC. É uma matéria antiga, requentada, sem pé nem cabeça. A edição feita hoje na capa do caderno Metrópole do Estadão só torna as coisas mais confusas. Espantoso é que tenha ido para a manchete do jornal.
Bateria de celular
Sobre bloqueadores de celulares em prisões, informa-se que eles às vezes são desligados por agentes penitenciários, em troca de dinheiro ou por medo de represálias.
Uma pessoa ligada a empresas de telefonia faz uma pergunta singela: para funcionar, celulares precisam de bateria. Bateria precisa ser recarregada. Como os presos têm tanta facilidade para recarregar bateria de celular?
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