Dinheiro sujo na mídia
A Folha de S.Paulo destaca, nesta segunda-feira, que as indústrias que mais poluem no Brasil e que mais contribuem para a emissão de gases do efeito estufa são também as que mais influenciam as comissões do Congresso Nacional encarregadas de encaminhar as votações da legislação ambiental.
Segundo o jornal paulista, empresas de setores altamente comprometidos com o aquecimento global formam as doze associações que contribuíram com R$ 60 milhões nas campanhas eleitorais de 2006.
O dinheiro das indústrias de energia, cimento, papel e celulose, agronegócio, mineração, siderurgia e óleos vegetais ajudou a eleger metade dos parlamentares que compõem a comissão da Câmara dos Deputados que está conduzindo as mudanças no Código Florestal.
A reportagem é importante para que o leitor entenda como funcionam os lobbies e como uma decisão nas urnas influenciada por propaganda política bem elaborada e com muito dinheiro acaba produzindo resultados contrários ao interesse do cidadão.
Algumas dessas empresas, como a Bunge, estão envolvidas em campanhas internacionais para desestimular a adoção de metas ambiciosas para o problema das mudanças climáticas, observa a Folha.
O que o jornal esqueceu de mencionar é que as mesmas empresas também se destacam no uso de publicidade para tentar convencer o público de suas boas intenções quanto ao meio ambiente.
A propaganda desses setores, tanto nos jornais quanto na televisão, destaca-se por mencionar invariavelmente suas grandes preocupações com a questão ambiental.
Muitas delas também se apresentam como campeãs da responsabilidade social e costumam financiar os cadernos especiais dos jornais sobre meio ambiente e sustentabilidade.
Não se trata de dizer às organizações jornalísticas que devem rejeitar o dinheiro de empresas sujas – o que também não seria absurdo – , mas talvez fosse o caso de também esclarecer aos leitores a relação que existe entre o lobby que se movimenta para amenizar a legislação de proteção ao patrimônio ambiental e a publicidade que tenta preservar a reputação desses mesmos financiadores.
Ou será que o “lobby” funciona no Congresso mas se torna inofensivo quanto atua sobre a imprensa?
Poupando o Supremo
Alberto Dines:
– O Supremo Tribunal Federal não ajudou o cidadão brasileiro a definir o que é certo e errado nem a distinguir justiça da injustiça. Votou pela extradição do militante italiano Cesare Battisti, mas entregou a decisão final ao chefe de outro poder, o presidente da República. A ambigüidade em matéria de delitos e penas é desastrosa, deixa a cidadania desnorteada em questões sobre as quais não poderia haver dúvidas e vacilações. O assassinato político é um assassinato, não há atenuantes sobretudo quando o crime aconteceu num regime democrático.
A nebulosa decisão adotada pelo STF estabelece uma cadeia de relativismos que tornará a sociedade brasileira ainda mais permissiva e permeável à delinqüência do que era antes. E a imprensa ainda não conseguiu reunir a coragem para enquadrar nossa suprema corte. Exceto o Estado de S. Paulo que em sua edição de domingo revelou o clima entre os ministros e mostrou a precariedade do seu debate interno.
As decisões do STF são definitivas, irrevogáveis, mas nada impede que sejam discutidas e contestadas pela sociedade. Nada impede que a imprensa seja tão veemente na crítica à instância máxima do Judiciário como tem sido com o chefe do Legislativo. A não ser que a inapetência da imprensa por uma crítica mais contundente seja uma espécie de retribuição às sentenças favoráveis em duas causas consideradas cruciais para as empresas de comunicação: o fim da Lei de Imprensa e o fim da exigência do diploma para o exercício do jornalismo.
Nos dois casos o STF foi conduzido pela opinião do seu presidente, o ministro Gilmar Mendes, contrariando o bom senso e o bom funcionamento da justiça e nos dois casos a imprensa, muito agradecida, poupou o supremo-magistrado. Agora, não estão em discussão os seus desmandos, mas a sua forma de comandar uma instituição que, sob hipótese alguma, pode ser colocada sob suspeição.