As voltas que a vida dá
Foi na sede da Fiesp, a poderosa Federação da Indústria no Estado de São Paulo, no edifício que domina a Avenida Paulista, que surgiram as mais recentes tentativas de movimentos sociais contra a corrupção.
O primeiro deles, que se auto-intitulava “Cansei”, nasceu no meio do escândalo que ficou conhecido como “mensalão”.
Um dos principais estimuladores do “Cansei” era o presidente da Fiesp, Paulo Skaf.
Um dos grandes vilões do escândalo era o publicitário baiano Duda Mendonça, que coordenou a campanha eleitoral do presidente Lula da Silva em 2002.
Antes do escândalo do “mensalão” dominar as manchetes por meses a fio, o publicitário havia sido preso e indiciado, em 2004, por participar de brigas de galo.
Todos esses antecedentes são meras curiosidades diante da revelação, feita pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, de que Paulo Skaf contratou Duda Mendonça como consultor, para supostamente padronizar a comunicação do chamado sistema “S”, que inclui o Serviço Social da Indústria e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.
O primeiro resultado da “padronização” já se pode verificar na televisão: desde o dia 1o. de setembro, Paulo Skaf é o garoto-propaganda do sistema “S” em todos os canais, inclusive na rede interna do metrô paulistano.
Oficialmente, a Fiesp explica que a intenção da propaganda é informar que o Sesi e o Senai são mantidos com recursos das indústrias, e que ninguém melhor do que o presidente da entidade para aparecer na televisão fazendo o comunicado.
Mas, extra-oficialmente, segundo a Folha, a presença de Duda Mendonça como consultor e as aparições de Paulo Skaf na televisão são partes da estratégia para lançamento de sua candidatura ao governo de São Paulo.
Segundo o jornal paulista, o conselho político do Partido Verde, que deve lançar como candidata a presidente a senadora Marina Silva, estuda uma proposta de filiação de Skaf, que ainda não tem legenda.
Se sair candidato, o presidente da Fiesp e inspirador do frustrado movimento contra a corrupção vai ter provavelmente como coordenador de campanha um dos acusados no caso “mensalão”.
Os cidadãos que aderiram ao “Cansei” devem estar se sentindo como verdadeiros palhaços de quermesse.
A imprensa cansou
Os jornais brasileiros parecem esgotados, depois de quase um ano fazendo a autópsia em vida da carreira política do senador José Sarney e de sustentar a polêmica entre a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quinta-feira, em primeira votação, o projeto de emenda constitucional que aumenta em quase 15% o número de vereadores em todo o País.
E a imprensa quase não faz barulho.
O texto, que ainda precisa ser aprovado em segundo turno, é uma resposta dos congressistas a uma medida de 2004, do Tribunal Superior Eleitoral, que reduziu em 8 mil as vagas nas câmaras municipais.
Muitos parlamentares, citados pelos jornais, afirmam que, se a proposta de desfazer a decisão do TSE tiver aprovação final, irão recorrer ao Supremo Tribunal Federal.
Um dos argumentos contrários ao aumento do número de vereadores é a pressão sobre os gastos dos municípios com a inevitável contratação de assessores, compra de veículos e obras nas sedes das câmaras municipais.
A votação foi acompanhada e pressionada por uma ruidosa claque de suplentes de vereador, que entendem ter o direito de assumir suas cadeiras imediatamente, caso a emenda constitucional seja aprovada.
A despeito da evidência de que tal proposta interessa apenas aos quase 8 mil candidatos a uma boquinha no poder público, em detrimento do resto da população, a imprensa não parece muito empenhada em cobrir o assunto.
Parece que os jornais gastaram toda a energia na campanha contra José Sarney e na tentativa de dar alguma relevância à denúncia de Lina Vieira contra a ministra da Casa Civil. Já não têm a mesma garra de semanas atrás.