Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Caneladas no bom senso
>>A conquista do leitor

Caneladas no bom senso


O jornalismo esportivo sempre foi um território fértil para o cultivo dos piores vícios do jornalismo, e não apenas no Brasil.


Jornalistas torcedores, ou torcedores travestidos de jornalistas, sempre fizeram do relato das partidas e das “análises” sobre desempenho de atletas e árbitros meras oportunidades para expor suas preferências pessoais.


Essa é a porta mais larga pela qual sempre ingressaram na atividade jornalística indivíduos pouco qualificados para a profissão.


Ex-jogadores começam a nova carreira comentando jogos de futebol e logo passam a se apresentar como jornalistas, dando carteiradas em boates e exigindo vantagens em filas de restaurante.


É nesse contexto que temas importantes, como a violência entre torcidas organizadas e o direito de crianças e adolescentes envolvidos em contratos com empresários e clubes são apresentados à sociedade.


Os debates sobre essas questões, conduzidos muitas vezes por apresentadores e comentaristas despreparados, chegam a criar constrangimento para os verdadeiros jornalistas profissionais que deles participam.


Além disso, tais personagens produzem interpretações equivocadas sobre o funcionamento das instituições e atuam no sentido oposto ao da educação do público.


Nesta semana, um dos temas prediletos no mundo futebolístico tem sido o suposto envolvimento dos jogadores Adriano e Vagner Love com traficantes do Rio.


Os dois atletas do Flamengo, na companhia de colegas menos famosos, foram a um baile numa favela dominada por traficantes.


Love circulou pela favela protegido por uma escolta de bandidos armados.


Adriano está sendo investigado por suposta lavagem de dinheiro do tráfico, porque uma motocicleta comprada por ele foi registrada no nome da mãe de um traficante que tem contra si sete mandados de prisão, três deles por homicídio.


O noticiário dos jornais desta quarta é bastante esclarecedor quanto ao envolvimento dos jogadores com criminosos, mas os debates nos programas esportivos no rádio e na TV, terça-feira, passaram longe do bom jornalismo.


Talvez porque não sejam feitos por jornalistas. 


A conquista do leitor


Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– Cobrar ou não cobrar pelo conteúdo online? Eis uma questão que atormenta os executivos da indústria jornalística. O tema voltou à baila na quarta e quinta-feira da semana passada, em Nova York, no decorrer do Bloomberg BusinessWeek Media Summit, evento que reuniu a fina flor do empresariado midiático americano.


Entre os principais conferencistas estava Arthur Sulzberger, presidente executivo do New York Times, o jornalão americano que tem se portado como barata tonta nessa questão. Primeiro, logo que deslanchou na web, oferecia gratuitamente o conteúdo do jornal. Depois, ensaiou um esquema de cobrança para setores específicos do site; em seguida, voltou atrás e abriu de vez o conteúdo. Comportamento semelhante, aliás, teve o jornal espanhol El País em sua versão para a web.


Mas, no caso do New York Times, agora seu publisher defende que um sistema de cobrança pelo acesso ao conteúdo online representará “receitas cruciais para a sobrevivência” do seu jornal e da imprensa em geral. Disse ele: “Não sei se esta fórmula persistirá por muitos anos, mas é o que agora precisa ser feito”.


Já no ano que vem, o jornal deve começar a cobrar de seus leitores online que não sejam assinantes da versão em papel. A ideia é aplicar o sistema depois de um determinado número de acessos gratuitos. Diferente do que pensa Rupert Murdoch, dono da News Corporation, controladora do Wall Street Journal, o maior defensor do modelo de cobrança entre os tycoons da imprensa (ver aqui).


Numa coisa Sulzberger está coberto de razão, quando diz que “o definidor não será como se distribui o jornal, o importante é a qualidade do nosso jornalismo”. A ver como reagem os leitores. Sobretudo os novos leitores, cuja conquista é crucial para o futuro da indústria.