PF guarda agenda de Mary Corner
Chega-se ao fim da semana com um panorama dos mais tumultuados. O presidente Lula, diz o governador Aécio Neves, prepara-se para perder mais uma batalha, na eleição do presidente da Câmara. Espera-se que o preço da derrota de Lula não seja uma surpresa do tipo Severino Cavalcanti. O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar, informa a Folha, parece ter aderido à equipe dos pizzaiolos. Mary Corner entregou sua temida agenda à Polícia Federal. Sabendo-se como a Polícia é zelosa com seus guardados, acautelai-vos, fregueses de Mary Corner!
As armas da discussão
Na Folha desta sexta-feira, 23 de setembro, o prefeito José Serra dá seu apoio ao “sim” que significará, daqui a um mês, aprovar a proibição da venda de armas de fogo no Brasil. Serra procura ser cauteloso na sua colocação e concentra sua argumentação na necessidade de recuperação, pelo Estado, do monopólio do uso da força.
As condições em que se desenvolve o debate sobre o referendo estão longe de ser as melhores. A responsabilidade da mídia é imensa.
O secretário-geral da Frente Brasil sem Armas, deputado federal Raul Jungmann, que chega a São Paulo agora para participar de um ato da campanha pelo desarmamento, falou de Brasília há pouco sobre as dificuldades que a campanha do referendo enfrenta para travar uma discussão mais abrangente e profunda:
Jungmann:
– O problema é que nós terminamos a braços com uma campanha para 122 milhões de pessoas, ou 122 milhões de eleitores, em 20 dias de rádio e televisão, e apenas, a rigor, um mês e meio para montar essa campanha. Resultou absolutamente inviável se fazer um debate abrangente e amplo sobre segurança pública, quando, para o objetivo central, que é a correlação armas de fogo e homicídios por armas de fogo sequer se dispõe de tempo suficiente, de meios eficientes. Nós estamos hoje, a menos de trinta dias da realização do referendo, sem um único real em caixa.
Se se ampliasse o foco, corria-se o risco de literalmente se tornar absolutamente ininteligível, dado o público com o que se está trabalhando, é um público de uma campanha presidencial. Seria uma temeridade colocar em discussão todo o sistema de segurança – embora isso seja feito, nos debates Brasil afora, com a platéia, com maior proximidade, quando se dispõe de tempo, evidentemente se discute a questão de segurança, o sistema prisional, a questão da justiça, do Judiciário. Mas, para o grande público, é impossível.
Mauro:
O Observatório da Imprensa ouviu ontem o delegado Antonio Rayol, da Delegacia da Polícia Federal de Crimes Contra o Patrimônio do Rio de Janeiro, que é contra o desarmamento. Ele chefiou os policiais que prenderam Duda Mendonça numa briga de galos e ontem integrantes dessa equipe foram colocados sob suspeição no caso do roubo dos 2 milhões de reais da Polícia Federal no Rio. Jornalistas do Rio interpretaram essa acusação como possível manobra para disfarçar a falta de pistas. A TV Globo, ontem, e hoje os jornais não fazem estardalhaço.
Vamos ouvir o argumento principal do delegado Rayol contra o desarmamento. Ele fala em nome pessoal e diz que não é a favor do uso indiscriminado de armas de fogo, mas do direito que o cidadão tem de se armar.
Rayol:
– A maioria da população das grandes cidades, amedrontada com os índices de violência muito altos, está vendo esse desarmamento como uma solução para o problema da violência urbana. O problema não vai ser solucionado por essa via e em pouco tempo quem votar a favor do desarmamento vai ficar muito frustrado.
Polícia britânica
Enquanto isso, na Inglaterra, diz a edição desta semana da revista The Economist, o governo vai rever todo o sistema de segurança pública. Hoje há 43 diferentes forças policiais. A tendência é em direção a uma polícia unificada nacional.
PT e mídia
O Alberto Dines comenta os renovados ataques à mídia.
Dines:
– Mauro, continua de pé a questão levantada pelo Diretório Nacional do PT e pela professora Marilena Chauí: a imprensa é mesmo culpada de tudo ? Vejamos as cenas de pugilato entre parlamentares travadas na quarta durante o depoimento do banqueiro Daniel Dantas e mostradas em todos os canais de TV. Foi invenção da mídia, foi montagem ? Ou foi falta de compostura dos integrantes das CPIs, incluindo a senadora Heloísa Helena, que ainda não conseguiram decorar e assimilar os códigos de conduta para os representantes do povo ? Foi culpa da mídia o show de despreparo e desinformação exibido por alguns dos parlamentares que pretenderam extrair do espertíssimo banqueiro confissões e segredos e atrapalharam-se como néofitos? Claro que não. A mídia continua cometendo erros, continua afobada, continua correndo atrás de furos e continua escorregando. Ontem o blog de Ricardo Noblat reconheceu imediatamente um erro cometido mas comprovou ao mesmo tempo que a senadora Ideli Salvati faltou com a verdade. Numa sucessão tão surpreendente de escândalos, a mídia tem funcionado razoavelmente. O problema é que ela é apenas um espelho. O vexame quem dá são os espelhados.
Direito ao silêncio
A Folha dá hoje uma carta do presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ennio Candotti, que abre uma discussão importante. Refere-se à publicação de uma carta que a professora Marilena Chauí mandou a seus alunos da USP com críticas à mídia, carta comentada ontem aqui no Observatório no Rádio por você, Dines. Diz a mensagem do professor Candotti: “Creio que a Folha errou ao publicar a carta da professora Marilena Chauí a seus alunos sem a autorização dela. O silêncio é um direito que as normas do bem informar deveriam respeitar”.
Em editorial, o Estadão apresenta hoje a professora Chauí e o ex-deputado Severino Cavalcanti irmanados na crítica à mídia.