Horizontes da Polícia Federal
A Folha cobra hoje em editorial uma definição a respeito do comando da Polícia Federal. Repete o que apontou reportagem do Estadão na semana passada: a luta interna pela chefia da PF provoca movimentações e choques de desfecho imprevisível. O ministro da Justiça, Tarso Genro, anunciou que Paulo Lacerda continuará à frente da Polícia Federal. Até o final do ano. Para pacificar a Polícia.
Essa informação sinaliza dois problemas. Primeiro, a luta pelo poder na PF teria sido apenas adiada. Segundo, que tipo de comando exerce Lacerda que não permite à instituição encaminhar civilizadamente a sucessão de seu chefe?
Meandros da Justiça
Advogados criticam hoje na Folha a qualidade dos mandados de prisão usados pela Polícia Federal para fazer suas espetaculosas operações. Levadas à Justiça, as prisões são sistematicamente revogadas porque não se sustentam juridicamente. E quem fica com a imagem desgastada é a Justiça. Mas os mandados são expedidos por juízes.
Por uma cobertura inovadora
Alberto Dines cobra da mídia uma cobertura inovadora e não burocrática dos sucessivos escândalos de corrupção.
Dines:
– A mídia não dá conta de tanta Operação, de tanta denúncia e, obviamente, não dá conta de tanta corrupção. A Operação Xeque-mate parece que vai abafar o chamado “Escândalo Renan” que, por sua vez soterrou completamente a Operação Navalha que, por sua vez, arquivou a Operação Hurricane. A situação é inédita não apenas pelo volume, mas porque todas estas operações resultaram de ações da Polícia Federal e, portanto, têm respaldo judicial, exceto o “Escândalo Renan” que desde ontem passou a correr no âmbito do Senado. Mas se a situação é inédita, a imprensa precisa encontrar maneiras inovadoras, não burocráticas, para enfrentar este ineditismo. É preciso acompanhar a enxurrada de novidades sem perder de vista o que deixou de ser novidade, mas continua sendo de suma importância. O cidadão não é um especialista nem arquivista, a sua memória é a sua imprensa. Para evitar que os novos escândalos joguem os escândalos da semana anterior na vala comum do passado, é imperioso que a imprensa deixe de ser um arquivo morto para funcionar permanentemente como um arquivo vivo. Não cabe à imprensa investigar, mas cabe à imprensa acompanhar o curso das investigações já que o criminoso conta sempre com a amnésia das vítimas.
O que fica na sombra
A enxurrada de operações e escândalos pode deixar na sombra o que há de mais grave em todo o contexto atual, que é o desdobramento de um quadro muito antigo: os métodos de financiamento da atividade política. Como diz uma velha advertência francesa, “um trem pode esconder outro”.
Já surgem nos jornais especulações a respeito dos beneficiários potenciais da ofensiva contra a empreiteira Gautama. Empreiteiras concorrentes, claro.
TVs educativas
Em sentença de abril de 2006, um juiz de Goiás proibiu o governo de expedir novas concessões de TVs educativas. Só agora o assunto ganha destaque, em reportagem de hoje da Folha de S. Paulo. Cento e setenta fundações, unversidades e órgãos da administração pública direta e indireta, entre eles a Radiobrás, a TV Cultura de São Paulo e o Canal Futura, que obtiveram renovação de concessões sem licitação, foram notificados para se defender. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, declarou que é a favor de fazer licitações para dar novas concessões, mas mas não para renovar as já existentes.
Algumas TVs educativas pelo país afora não passam de biombos.
No México é pior
As redes de televisão no Brasil são poucas e, na maioria dos casos, empresas familiares. É um quadro criticável do qual resulta, muitas vezes, limitação de pontos de vista e, pior, de informação.
Mas, perto do que acontece no México, a situação brasileira é quase um alívio. O quadro mexicano é fotografado em reportagem de Raul Juste Lores na Folha de hoje, a propósito da derrubada, pela Justiça do México, de uma lei tida como favorável aos dois grandes grupos de mídia do país, a Televisa e a TV Azteca.
Liberdade ameaçada
Na Venezuela, cresce o movimento de repúdio à decisão de não renovar a concessão da RCTV. O Globo publica hoje entrevista em que o editor do jornal El Nacional, de Caracas, Miguel Henrique Otero, afirma que a RCTV não apoiou o golpe de Estado de 2002 contra o presidente Hugo Chávez. Otero diz que a liberdade existente hoje na Venezuela é uma liberdade ameaçada.