Agora, a imprensa é “paz e amor”
Os grandes jornais de circulação nacional começam a baixar o tom na campanha eleitoral.
Seus analistas consideram que o estrago produzido na candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff está consolidado e que a eleição já não será definida no primeiro turno.
Depois do dia 3, o jornalismo-tacape provavelmente voltará à cena.
Nesta terça-feira, a Folha de S.Paulo chega a publicar uma reportagem em página dupla tentando demonstrar que não tem sido mais agressiva contra o atual governo do que foi contra governos anteriores, desde Itamar Franco.
A reportagem da Folha reconhece, de passagem, apenas um exagero: a insistência com que martelou o governo Fernando Henrique Cardoso, em 1998, no caso do chamado Dossiê Caribe.
Uma das peças-chave da denúncia era falsa, assim como não se provaram verdadeiros outros casos publicados pelos jornais em diferentes ocasiões.
A Folha tenta demonstrar que cumpre com equilíbrio sua função de analisar criticamente e fiscalizar as ações dos governantes, sejam eles quem forem.
O jornal paulista apenas não esclarece as diferenças de intensidade, continuidade e periodicidade que dedicou a cada um desses casos.
E mesmo que venha a se justificar, eventualmente corrigindo erros, como no dossiê Caribe, isso não impede que a ação irresponsável da imprensa continue a fazer estragos pelos tempos afora, principalmente em épocas de eleições.
Em 12 de março de 2008, o jornalista Élio Gaspari publicou em sua coluna na Folha de S.Paulo e no Globo uma nota lembrando o atentado a bomba contra o consulado dos Estados Unidos ocorrido em 1968 em São Paulo.
Mesmo tendo sido publicada, já em 1992, uma entrevista do repórter Mário César Carvalho com o líder do grupo que assumiu a autoria do ataque, esclarecendo que foram três os autores, Gaspari afirmou que havia sido cometido por cinco integrantes da guerrilha esquerdista, incluindo entre eles o nome da militante Dulce Maia, que seria um codinome.
Mais tarde, processada pela Dulce Maia verdadeira, a Folha de S.Paulo foi condenada em primeira instância por danos morais, por ter reproduzido informações do texto de Elio Gaspari, e o colunista acabou divulgando um pedido de desculpas a Dulce Maria que ela considera meramente burocrático.
Pois o mesmo artigo de Gaspari circula agora na internet, postado em pelo menos 500 endereços, com um adendo no final, no qual se afirma que Dulce Maia é na verdade… Dilma Rousseff.
A verdadeira Dulce Maia ainda não desistiu de ser alcançada pela Justiça e se esforça para distribuir emails nos quais esclarece que segue sendo acusada de uma coisa não fez, mesmo que o ato a ela atribuído por Elio Gaspari esteja agora sendo imputado à ex-ministra e candidata à Presidência da República.
É assim que funciona.
Mesmo jornalistas consagrados como Gaspari podem cometer erros.
Mas esses erros nunca são corrigidos com o mesmo destaque, eventuais correções ficam escondidas em notas curtas e quando o texto original, equivocado e distorcido, é usado como artilharia de campanha, os autores fingem que não é com eles.
Observatório da Imprensa na TV
Alberto Dines:
– A crise governo-mídia é artificial, o país vive uma de suas melhores fases, eleições parciais acontecem a cada dois anos e as majoritárias, a cada quatro. Numa democracia, poderes e instituições têm o direito de fazer suas opções. O governo aposta todas as suas fichas na continuidade do seu projeto e a imprensa aponta abusos na utilização da máquina oficial. Esta é uma tensão normal e como tal deveria ser tratada.
Superdimensionada, pode criar uma bola de neve com velocidade e tamanho imprevisíveis. Com a mídia e o governo completamente engajados em suas posições, sem pontes para o diálogo, não sobra espaço nem disposição para análises equilibradas. A edição desta noite do “Observatório da Imprensa” pretende fazer exatamente isto: mostrar os dois lados da questão através de dois expoentes da observação da mídia no país: os professores Venício Lima e Eugênio Bucci. Hoje pela TV-Brasil às 22 horas, ao vivo, em rede nacional. Em S. Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.