Estranhas negociações
Reportagem no jornal O Estado de S.Paulo revela que a bancada ruralista tentou votar, na surdina, o projeto que muda o Código Florestal, aproveitando que a ministra do Meio Ambiente, Isabella Teixeira, e parlamentares interessados na defesa do patrimônio ambiental encontram-se em Cancun, para a conferência sobre o clima, organizada pela ONU.
A mão de gato dos predadores teve uma ajudazinha do líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vacarezza, PT-SP.
Vacarezza já havia frequentado o noticiário nesta semana, por conta de outro projeto que concordou em apressar, este em parceria com a bancada da jogatina.
O parlamentar que representa os interesses do governo estaria liderando um esforço para fazer aprovar uma lei do deputado Arnaldo Faria de Sá, de 2007, que propõe legalizar os jogos eletrônicos tipo videopôquer.
O projeto da jogatina, que teve rejeitado o pedido de urgência na terça-feira, contém preciosidades como nomear a Abrajogos, entidade que agrega os “empresários” do setor, como encarregada de regulamentar e certificar as máquinas caça-níqueis, assegurando a idoneidade do equipamento.
Ou seja, coloca a raposa para garantir a segurança do galinheiro.
No caso do projeto que tenta desconstruir o Código Florestal, o texto chegou a entrar em pauta, mas não foi votado.
Se tivesse passado em primeira votação, certamente a seriedade do Brasil nos debates em Cancun seria colocada sob suspeita.
A argumentação do relator, deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, em favor de reduzir o rigor da lei, tem provocado muitas controvérsias e já sofreu algumas alterações desde a versão original, o que demonstra que o tema ainda precisa ser debatido com maior profundidade.
Claro que colocar um projeto em votação não significa determinar que seja aprovado, mas deveria causar estranheza no jornalismo político que o líder da bancada governista tenha participado de manobra para acelerar a tramitação de uma proposta que o próprio governo considera inadequada.
Talvez fosse o caso de a imprensa exercer um pouco de curiosidade jornalística e investigar que interesses teria o líder do governo na Câmara para se arriscar a contrariar o Ministério do Meio Ambiente, todas as organizações que lutam pela sustentabilidade e o próprio senso comum dos especilistas, apenas para agradar a bancada ruralista.
Assunto esquecido
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– A quantas anda a proposta de criação de um código de autorregulamentação para os jornais filiados à Associação Nacional de Jornais? Perguntar não ofende. Anunciada com a devida pompa e circunstância em agosto, durante o 8º Congresso Brasileiro de Jornais, a proposta apresentada pela presidente da entidade, Judith Brito, previa que até o fim deste ano a ANJ encaminharia uma minuta do código para discussão entre os seus 140 jornais associados.
Embora ainda faltem dezessete dias úteis para o fim do ano, até agora não se pôde perceber qualquer movimento por parte da entidade patronal no sentido da abertura desse debate. É certo que a ideia não é vista com bons olhos por vários dos seus filiados, entre os quais alguns dos maiores veículos do país, e essa diferença já havia ficado patente em agosto, nos debates que se seguiram à proposta da presidente da ANJ, durante congresso realizado no Rio. Naquele momento, a unanimidade que sempre caracterizou as posições da entidade foi quebrada e, ademais, tornada pública. O assunto suscitou a cobertura de praxe, rendeu matérias nos dias do congresso, mas, na sequência, o noticiário da campanha eleitoral relegou o tema ao limbo.
Pode ser que desse mato não saia coelho algum, e que fique tudo por isso mesmo. Como se sabe, o tema regulação é muito indigesto para as entidades patronais. Tome-se o exemplo do grupo Bandeirantes de rádio e televisão, também dono de jornal. Seus mais importantes executivos acusam genericamente de “censura” a proposta de regulação nascida no âmbito da Secom, a ser oferecida à futura presidente da República para que esta decida sobre seu encaminhamento. Ao mesmo tempo, os veículos do grupo produzem editoriais furibundos contra a investida das operadoras de telecomunicações no mercado de TV a cabo, e a proposta de revisão dos contratos de concessão aprovada pela Anatel. Por que, então, não regular a quizumba?
Quanto à ANJ, com ou sem código de autorregulamentação, já seria um enorme avanço se cobrasse dos seus filiados a aplicação integral do Código de Ética da entidade. Que não é ruim.