O poder limitado da mídia
Não é por falta de advertência da mídia que a corporação parlamentar deixará de promover um grande conchavo para salvar cabeças. Em espaços de opinião, todos os dias, como hoje, repetem-se denúncias e advertências. E mesmo no noticiário não param de ser trazidas ao conhecimento da opinião pública novas evidências. Mas a inércia dos interesses convergentes pesa tremendamente, passa por cima das linhas partidárias e procura isolar os parlamentares que resistem aos acordos espúrios.
Labaredas suspeitas
A época é de relaxamento, mas espera-se dos repórteres que descubram rapidamente casos de empresas e instituições que possam ter sido beneficiadas pelo incêndio do prédio do INSS. O Jornal Nacional de ontem deu a opinião de um oficial do Corpo de Bombeiros de Brasília: para ele, o incêndio não foi criminoso. Deliberadamente criminoso ou criminoso por descuido, é importante saber quem pode ter comemorado as fulminantes labaredas.
Floresta desamparada
A Veja desta semana publicou reportagem alarmante sobre o futuro da Floresta Amazônica. Hoje, o editor de Ciência da Folha, Claudio Angelo, diz que o combate ao desmatamento sofre sérias ameaças e não é levado muito a sério pelo próprio governo. Relata que houve em meados de dezembro uma reunião de avaliação do Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento. O plano é coordenado pela Casa Civil. Como a ministra Dilma Rousseff não compareceu, representantes das organizações não governamentais abandonaram a reunião. Isso não foi noticiado.
A incapacidade de preservar a Amazônia ainda sensibiliza pouco, mas talvez seja o maior fator de desgaste da imagem do Brasil no exterior.
Democratização em marcha lenta
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, relata uma decepção com o balanço de 2005 em matéria de democratização das comunicações.
Egypto:
– Fim de ano é época de balanços, e no que toca à democratização das comunicações no Brasil o balanço de 2005 não é lá muito risonho.
Para ficar apenas nos grandes temas, foram descumpridas duas promessas feitas pelo governo em janeiro, quando do recuo em relação à Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav). A primeira, sobre a elaboração de um projeto que preservasse o caráter de fomento e fiscalização da agência. A segunda, sobre o projeto de Lei Geral de Comunicação Eletrônica de Massa.
Outro fracasso foi o dos serviçoes de Retransmissão de TV Institucional. Criados por decreto em fevereiro, o que poderia ser o embrião de uma verdadeira rede pública de TV foi revogado por outro decreto, em abril.
A apresentação de uma alternativa para a Lei das Rádios Comunitárias também não saiu do papel. E na discussão sobre o padrão de TV digital a ser adotado no país, têm mais voz os grupos que controlam a radiodifusão do que as organizações que representam o pensamento da sociedade civil. Isto sem mencionar os parlamentares com mandato que também são concessionários de serviços de radiodifusão.
As fontes eternas
Nesta quarta-feira, 28 de dezembro, Clóvis Rossi comenta na Folha de S. Paulo a diferença entre previsões de consultorias sobre o comportamento da economia e os resultados apurados. Essas diferenças variam entre 10% e 390%. Vale a pena reproduzir um trecho do que ele escreve, porque retrata um certo automatismo da imprensa: “Imagino que deva haver alguma consultoria, um ou dois analistas, que erram menos. Mas não vejo ninguém fazendo a triagem. Nós, jornalistas, por exemplo, nos acomodamos a meia dúzia de nomes, de pessoas físicas e jurídicas, como os palpiteiros de plantão sobre a economia. Sempre os mesmos. Erram, sabemos que erram, publicamos que erram, mas voltamos a consultá-los na primeira oportunidade”.
Ver a Bolívia com realismo
O presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, resiste à linha antidrogas do governo americano. Morales defendeu claramente durante a campanha o plantio legal de coca, e condenou com igual clareza o tráfico de drogas.
A política antidrogas americana não funciona. E é preciso que a Bolívia conserve o controle de suas forças militares e policiais.
O Estadão publica hoje artigo do jornalista peruano Álvaro Vargas Llosa em defesa de uma política sensata do governo americano diante do governo de Morales. Álvaro Vargas Llosa, que escreveu para o The New York Times, destaca o papel do Brasil junto ao governo boliviano.