Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Eleições sem discussão
>>Além dos gramados

Eleições sem discussão


A cobertura da campanha eleitoral praticada nas emissoras de televisão, Rede Globo à frente, adota um dos piores formatos concebíveis, do ponto de vista do esclarecimento dos problemas de fundo do país. É uma cobertura totalmente amarrada à lógica das campanhas. Incapaz de produzir esclarecimento, noticia eventos e factóides. Os jornais dão mais espaço para uma verdadeira discussão, mas atingem apenas uma pequena fração do eleitorado. O horário eleitoral obrigatório seguirá, como sempre, a lógica dos marqueteiros. E depois as pessoas se espantam com o tamanho da crise.


Além dos gramados


Alberto Dines mostra como a imprensa esportiva e a mídia em geral tratam o esporte isolado de seu contexto social.


Dines:


– Estamos habituados a procurar a imprensa esportiva para conhecer o resultado de jogos e competições, o desempenho de atletas e a gangorra de contratações. Esquecemos que no futebol, por exemplo, além do placar e do gramado, há coisas muito importantes como ficou demonstrado na última Copa do Mundo. Prova disso foi o editorial de primeira página de ontem, quarta-feira, no diário esportivo Lance!. Uma advertência da maior gravidade sobre a insegurança nos estádios brasileiros. O problema é antigo e a CBF não se mexe. A entidade máxima do nosso futebol foi a responsável pelo vexame da Copa – pelo qual ainda não se desculpou – e, como não se não bastasse, está completamente desatenta aos seus compromissos com a preservação da vida e o bem-estar dos torcedores brasileiros. A advertência do jornal Lance! é muito grave, ela transcende a esfera meramente esportiva, porque além dos cartolas e dos donos da bola, a denúncia chega à esfera política, o governo. Depois de três anos e meio de discussões, o Estatuto do Torcedor ainda não foi implementado e sem ele continuamos na estaca zero em matéria de segurança. E como o futebol é uma espécie de amostra dos problemas nacionais, breve teremos que ler a imprensa esportiva para tomar conhecimento de todos os descalabros que nos assolam.



O papel dos advogados


A OAB oscila entre a grandiloqüência de apoiar a convocação de uma nova Constituinte, como se o Brasil estivesse em crise institucional, e a realidade miserável de ter uma fração de seus membros integrada ao funcionamento do PCC e de outras quadrilhas. A mídia não liga uma coisa à outra.


Silêncio cúmplice no Sul


O jornalista Vitor Vieira criou há dois anos o site e newsletter Videversus. Ganhou audiência. Ele acaba de conseguir a anulação de uma concorrência fraudulenta para coleta de lixo em Porto Alegre que iria beneficiar a empresa Cavo, a mesma que assinou, durante a gestão Marta Suplicy, um contrato bilionário com a prefeitura de São Paulo questionado na Justiça. Vieira forçou a imprensa gaúcha a falar da fraude. Mas há outros assuntos que permanecem fora do noticiário.


Vieira:


– A mídia do Rio Grande do Sul é absolutamente curiosa. Talvez pelo fato de o estado ser tão meridional em relação ao resto do país ela vive em um isolamento completo. Mas o mais engraçado é que ela parece viver em isolamento também daquilo que ocorre internamente no próprio Rio Grande do Sul. Há, aqui no Rio Grande, como se fosse uma espécie de pacto não escrito, não tornado público, de silêncio. “Não vamos abordar tais e tais assuntos”. E assim o povo gaúcho, por exemplo, não fica sabendo que seus homens públicos, alguns deles, cometem alguns grandes desmandos e solenemente enfiam a mão naquilo que é público.


Um caso notório nos últimos dias é o fato de um empresário conhecido do Rio Grande do Sul, deputado federal pelo Partido Progressista, Érico Ribeiro, que já foi, alguns anos atrás, apontado como o maior arrozeiro individual do mundo, este homem está na lista dos sanguessugas. Há um silêncio monumental no Rio Grande do Sul. Não se fala em Érico Ribeiro.


Mauro:


– O deputado Érico Ribeiro é vice-presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul.


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