Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa 547
>>Imprensa e democracia
>>A linha da repressão

Imprensa e democracia
 
A democracia brasileira teria perdido substância se a imprensa não tivesse feito um mínimo de bom jornalismo no caso do senador Renan Calheiros, cuja situação aparece mais frágil nas manchetes de hoje. Ontem, o Jornal Nacional ouviu de um representante da Confederação Nacional da Agricultura que é praticamente impossível alguém ter no Brasil lucratividade tão elevada com a agropecuária. Usou dados fornecidos pelo próprio Renan.
 
Se a imprensa trabalhasse sempre com algum afinco, o quadro político brasileiro não seria o mesmo.
 
Os cínicos dirão que isso só está ocorrendo agora porque há interesses pesados no deslocamento da crise para o Senado. É só pensar no que teria sido o destaque midiático de mais uma paralisação branca de controladores de tráfego aéreo como a de ontem. Pode ser. Mas ainda não foram dadas notícias palpáveis sobre essas conexões.


Crime e política
 
Nos jornais de hoje há notícias sobre vinculação entre pessoas presas na segunda parte da Operação Furacão e a política do Rio de Janeiro. Este é um ponto central da questão da criminalidade que a mídia aborda com escandalosa timidez, como se fosse cabível calar-se diante da infiltração de criminosos no poder.


A linha da repressão
 
O sociólogo José Cláudio Souza Alves, decano de Extensão da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, foi um dos participantes de uma segunda rodada de debates sobre a violência no Rio organizada pelo Observatório da Imprensa. Ele analisa o cerco policial-militar no conjunto de favelas da Zona Norte chamado Complexo do Alemão.
 
José Cláudio: 
 
– Você tem cada vez mais a aproximação em relação ao Pan-Americano. O governo do estado, junto com o governo federal, montou um modelo de segurança pública calcado num esquema de repressão. Que é um pouco a continuidade, só que mais agressiva, do que existia anteriormente. Mas o problema básico da segurança pública no Rio de Janeiro, a meu ver, é essa novidade da milícia, que é simplesmente a polícia que antes fazia toda uma estrutura oculta, sempre de forma ilegal e escondida, em termos de violência, e hoje parte para um esquema muito mais aberto, de concorrência mesmo em relação ao mercado do crime, da ilegalidade. E é dessa novidade que o governo não dá conta mais. O próprio governo atual não sabe mais como resolver o aprofundamento dessa relação do aparato policial com o crime organizado em si mesmo e de forma aberta. O que está havendo hoje no tabuleiro dos conflitos no Rio de Janeiro é isto: eles estão intensificando campanhas de repressão pesada em áreas mais pobres. O Complexo do Alemão nada mais é do que isso.
 
Clique aqui para ler o segundo debate sobre raízes da violência no Rio de Janeiro.


Classificação indicativa
 
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, fala do conflito em torno da classificação indicativa para programas de televisão.
 
Egypto:
 
– Termina na quarta-feira que vem, dia 27, o prazo para que o Ministério da Justiça decida se adota ou não uma nova política de classificação indicativa para a programação de TV. Por iniciativa do governo, este assunto foi discutido por dois anos em numerosas audiências públicas e seminários, até que, neste ano, chegou-se à formulação de uma portaria ministerial, a de número 264 [http://www.mj.gov.br/classificacao/legislacao/2007portaria264.pdf], que depois de divulgada mereceu pesadas críticas das emissoras de TV.


A Abert, entidade que reúne as empresas de radiodifusão, alega que a classificação indicativa é uma forma de censura. Não é. Como o próprio nome mostra, ela é apenas indicativa e pretende sinalizar se um determinado programa de TV é ou não recomendado para certas faixas etárias, em horários específicos. Não há proibição de programas. O que poderá haver, isto sim, é uma recomendação ao Ministério Público para que avalie se uma atração televisiva passou dos limites – por exemplo, exibindo cenas de sexo e violência em horários inadequados.
Convém não esquecer que os canais de radiodifusão são concessões públicas. E a classificação indicativa é um instrumento útil à democracia e à cidadania.
 
TV no Primeiro Mundo
 
Cristina Padiglione antecipa no Estadão documento preparado pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Andi, para reunião de hoje em que adeptos e adversários da classificação indicativa discutirão o tema, na presença do secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça, Antonio Carlos Biscaia, e de representantes do Legislativo e do Judiciário. A Andi reuniu informações sobre a classificação indicativa em países como Estados Unidos, França, Austrália e Inglaterra.