Lula insiste no confronto
Ao procurar o conflito com as CPIs, o presidente Lula insiste em criar uma frente de batalha que o contrapõe também à imprensa, à polícia e ao Ministério Público.
O presidente voltou a insinuar que há denúncias de corrupção forjadas. Se tudo não passasse de “denuncismo”, o governo não teria sido obrigado a botar fora tanta gente, em alguns casos gente muito graúda. Ontem, o senador Artur Virgílio passou vinte minutos lendo a lista dos demitidos.
O presidente busca sistematicamente um confronto com a mídia. Até que ponto se pode ver esse comportamento como democrático?
São Francisco pede mais debate
É característica de regimes de opressão e situações extremas a greve de fome do bispo Dom Luiz Cappio às margens do São Francisco. É preocupante, seja qual for a posição que se tenha a respeito da obra. Alimentar esse tipo de protesto é perigoso, ignorá-lo poderia ser pior.
A Folha de S. Paulo noticia nesta quarta-feira, 5 de outubro, que o governo já aceita atrasar o início das obras para debater a revitalização do rio reclamada pelo bispo. Em editorial, defende um diálogo mais amplo.
O debate, como acontece com grande freqüência no Brasil, ganhou a mídia de forma tardia, simplificadora, maniqueísta. Abriu-se caminho, por omissão, para gestos dramáticos e oportunismo político. É característico que o MST proponha agora um plebiscito sobre o tema do São Francisco. A esquerda petista segue. O MST trabalha na base do choque e do fato consumado.
A mídia tem grande responsabilidade nessa deformação do diálogo. Desse e de muitos outros temas, como a segurança pública e a venda de armas, a corrupção, a reforma política, os transgênicos, o aborto.
A imprensa demorou a acordar no caso do Rio São Francisco, mas hoje já se lê em alguns jornais um início de debate. Espera-se que tudo termine bem para o bispo e para o diálogo democrático no Brasil.
Uma família duplamente massacrada
Heloisa Maya Sassaki, da famíliaYonekura, que teve cinco pessoas mortas numa chacina em São Paulo no dia 11 de setembro, escreve no Observatório da Imprensa online um libelo contra a irresponsabilidade da mídia. Para se ter uma idéia do que foi a busca do sensacionalismo a qualquer preço, na noite da chacina a família teve que mudar um sobrevivente de hospital, porque os bandidos ainda estavam soltos e os sites do Terra e do Estado de S. Paulo davam o nome do hospital.
Heloisa relata que o Fantástico, da TV Globo, não contente com isso, mostrou a cédula de identidade, com fotografia, dessa única testemunha do crime. O relato dela está no Observatório online.
Censurado
O jornalista Luís Antônio Giron descreve no Observatório online como tentou durante a sexta-feira passada esclarecer a jornalistas da Veja que devolveu sem usar um brinde da gravadora Warner distribuído com o novo CD da cantora Maria Rita. Quando conseguiu, lhe disseram que não havia mais possibilidade de mexer na página. A reportagem, um destampatório contra a cantora, o acusa de ter escrito matérias favoráveis ao CD para retribuir um iPod, aparelho que toma música em formato MP3, recebido de presente da gravadora. A Carta Capital havia falado do assunto três semanas antes, sem agredir ninguém.
O comportamento antijornalístico da Veja foi tão flagrante que na mesma edição estão o artigo difamatório e a carta que o contesta. Sem a frase “Não fui ouvido por Veja”. Giron diz que a carta foi publicada exclusivamente como álibi da revista para evitar um processo judicial.
Sem profundidade
O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, mostra como o noticiário de economia tende a se deixar conduzir pelo dia-a-dia do mercado financeiro.
Egypto:
– A cobertura dos jornais sobre assuntos econômicos às vezes chega a ser engraçada. É um tal de “sobe”, “dispara” e “despenca” que parece não ter mais fim. Vejam este caso:
Na quinta-feira passada, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento divulgou seu “Relatório do Investimento Mundial”. O documento mostra que, em 2004, o Brasil ficou em décimo lugar entre os destinos mais atraentes para o investimento direto estrangeiro, e em terceiro lugar na lista restrita aos emergentes.
O problema é que essa análise ocupa apenas 38% das 252 páginas do relatório. O grosso do documento dedica-se aos investimentos transnacionais em pesquisa e desenvolvimento. E, neste caso, o Brasil fica mal na fita – em vigésimo primeiro lugar. Mas isso a imprensa não destacou.
Mais uma vez fica claro que a imprensa – leia-se editores e repórteres – deixa morrer grandes assuntos em pouco mais de 24 horas. Continuidade, mesmo, só a do noticiário financeiro. E dá-lhe Bolsa que dispara e dólar que despenca… Este é um dos assuntos do Observatório na Web.
Na fronteira
A mídia acompanha da maneira mais precária o aumento da imigração clandestina de brasileiros para os Estados Unidos. Hoje a Folha dá um panorama da imprensa, mas não da brasileira. Sintetiza reportagens da imprensa americana e do Financial Times, que é inglês. No Brasil, o problema ainda não sensibilizou.