Nas prisões
O Estadão dá manchete sobre denúncia de desvios em ONGs do sistema carcerário paulista. Quem sabe assim se começa a conhecer melhor o assunto?
Bebida em excesso mata
A Vigilância Sanitária propõe arrocho na propaganda de bebidas. Já chega tarde.
Jornalismo sem crucificação
A repórter e colunista da Folha de S. Paulo Eliane Cantanhêde aponta o fator principal que levou a uma apuração jornalística deficiente dos problemas de controle de tráfego aéreo no Brasil.
Eliane:
– A imprensa, principalmente a escrita, trabalha com cada vez menos gente, eu imagino que deve ter ocorrido um corte de um quarto das redações nos últimos anos. Com menos papel, também. Você não tem jornalistas que possam ficar correndo por fora e apurando áreas que são muito fechadas. O dia-a-dia vai consumindo os esforços das redações. É uma deficiência, sim, e não é de nenhum órgão específico, mas de uma conjuntura.
Mauro:
– Eliane Cantanhêde critica a manipulação política do assunto.
Eliane:
– Como uma das partes é americana, e a gente sabe que existe um sentimento antiamericano no mundo, não é nem no Brasil, eu acho que algumas autoridades vislumbraram uma chance de dizer: “Olha, os pilotos americanos fizeram tudo errado, o avião Legacy estava todo errado, e a culpa é deles”. Uma coisa que puxava mais pelo patriotismo, pela passionalidade, do que a responsabilidade, o pragmatismo, e o bom jornalismo, que exige ouvir todos os lados.
Mauro:
– A repórter da Folha mostra que os cortes não impedem a realização de boas coberturas complexas.
Eliane:
– A Folha foi o primeiro jornal que disse assim: isso é uma questão técnica, não é uma questão de patriotada. Eu tive um almoço com a cúpula da Aeronáutica, botando as coisas num patamar bem equilibrado, fui ao Rio conversar com advogados brasileiros e americanos e com um dos donos da Excel Air, a dona do Legacy. Ao mesmo tempo a gente teve uma boa cobertura do lado dos controladores. A gente o tempo inteiro teve contato com a Gol, também. A gente tentou abordar todos os lados sem parti-pris, que é o mais importante, até porque quem somos nós, repórteres, para ter a solução de um acidente aeronáutico em dois dias? Teve jornal botando em manchete: a culpa é do Legacy. A gente foi vendo que se comprova a tese de que acidentes aeronáuticos nunca têm uma causa só. É uma seqüência de fatores. Houve um conjunto de falhas. Não dá para crucificar ninguém.
Mauro:
– Eliane Cantanhêde será uma das participantes do programa de hoje à noite do Observatório da Imprensa na televisão, com Alberto Dines, que abordará a cobertura jornalística da tragédia do Boeing da Gol. Na TV Cultura de São Paulo, às onze e quarenta. Na TVE, mais cedo e ao vivo, às dez e quarenta.
Leia aqui a entrevista completa de Eliane Cantanhêde.
Chuva depois do almoço
O prefeito Gilberto Kassab almoçou ontem na Folha, informa o jornal. Sorte dele que a chuva tenha começado depois do almoço.
Todos os santos
Até o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, foi citado ontem pela Band em sua briga com a Abril.
CNN tropicalizada
Alberto Dines diz que o estilo de publicações como a IstoÉ parece ter chegado à rede CNN de televisão.
Dines:
– A CNN tem pouca audiência no Brasil porque é falada em inglês e transmitida pelos canais pagos. É uma pena, porque quem tem direito a assistir a CNN em geral também tem acesso à BBC, que está no pólo oposto. Na semana passada, a CNN apresentou uma série de reportagens sobre o Brasil, produzidas e apresentadas pelo veterano Jim Clancy. As matérias tinham o indefectível simplismo daquele canal. Mas na última quarta-feira, dia 29, Clancy mudou de estilo e apresentou um debate com quatro brasileiros sobre o futuro do Brasil, todos falando em inglês. Mau inglês, diga-se. Mas o que chamou a atenção – e isso não exige qualquer conhecimento do idioma de Shakespeare – é que três dos quatro convidados eram assumidamente do governo ou do partido do governo: o ministro da Cultura, Gilberto Gil, a ex-prefeita Marta Suplicy e o Diretor da Petrobrás Ildo Sauer. Mesmo sem entender inglês ficou evidente que o programa não poderia ser isento. E quem entendesse um pouquinho de inglês perceberia que a única voz independente era a de Yvone Bezerra de Mello, que dirige a ONG Uerê, que assiste crianças de rua. Os outros três repetiam o bla-blá-blá chapa-branca sem qualquer compromisso com a realidade. Para encerrar, o ministro-menestrel agarrou o violão e cantou Aquele abraço. Em português. Dias depois revelou-se que a patrocinadora da série foi uma estatal brasileira. Pelo visto, a CNN aderiu ao padrão IstoÉ de jornalismo.