Muito escândalo para nada
A campanha eleitoral já acabou na imprensa, soterrada pela temporada de escândalos.
Somente os dois principais jornais de economia e negócios, Valor Econômico e Brasil Econômico, parecem considerar que os escândalos têm pouca relação com a vida real e apenas apresentam registros esporádicos das denúncias, sem deixar que o tema domine suas pautas.
Os diários de assuntos gerais considerados de circulação nacional, pelo contrário, esqueceram os debates sobre planos de governo e entulham suas páginas com os escândalos.
Na segunda-feira, o Brasil Econômico publicou uma reportagem mostrando como a campanha deste ano repete as disputas de 2002 e 2006, com um dos candidatos, no caso deste ano uma candidata, disparando na frente dos demais e sendo bombardeada por acusações na imprensa.
Tanto em 2002 como em 2006, segundo lembra o jornal, o então candidato Lula da Silva vinha liderando as pesquisas de intenção de voto quando se intensificaram os escândalos, exatamente no mês de setembro, como acontece neste ano.
Nas eleições anteriores, a tática deu certo, e a disputa acabou indo para segundo turno.
Neste ano, com a candidata governista ainda subindo nas pesquisas, e faltando menos de três semanas para a eleição, o barulho parece ainda maior.
As manchetes migram do caso de violação de sigilos fiscais a um suposto tráfico de influência com extrema rapidez, sem oferecer aos leitores condições para reflexão e interpretação.
A intenção não parece ser informar ou simplesmente fundamentar as denúncias, e muito menos lançar alguma luz sobre o funcionamento do governo.
As pautas parecem selecionadas conforme o potencial de fazer grudar um pouco da lama diretamente na candidata.
Se as acusações podem ser comprovadas, a imprenda deve ir fundo, mesmo depois das eleições.
Mas como os jornais e revistas não dão continuidade às investigações, muito certamente tudo isso acaba no dia 3 de outubro, como aconteceu nas eleições anteriores.
E ficaremos sem saber que medidas teriam sido tomadas para garantir a segurança dos dados da Receita Federal ou se houve ou não favorecimentos em tais ou quais operações financeiras.
A lama atirada para cima vai cair nas instituições públicas.
Para que serve um jornalista?
A resposta é quase óbvia: para buscar informações e repassá-las a um determinado público. Mas há muita controvérsia diante da situação da imprensa contemporânea e o advento das novas tecnologias de comunicação.
Alberto Dines conduz o debate sobre o assunto, nesta terça-feira, no Observatório da Imprensa na TV.
Durante muitos anos, os jornalistas foram os artífices da informação, pois trabalhavam para os únicos meios de comunicação existentes: jornais, revistas, rádios e tevês. Com o crescimento da internet, no entanto, este quadro mudou. A informação está pulverizada pela grande rede. As melhores fotos do atentado terrorista em Londres, por exemplo, foram feitas por condutores de metrô, com câmeras de celulares.
O chamado jornalismo-cidadão, onde cada indivíduo pode apurar e escrever sobre um fato que presenciou é cada vez mais presente, até mesmo nos meios tradicionais. Fontes, que antes utilizavam a imprensa para divulgar suas notícias já usam a Internet para evitar o filtro da mídia. O Twitter e os blogs passaram a pautar os jornalistas “oficiais”.
Uma pesquisa feita aqui no Brasil indicou que mais de 80% desses jornalistas usam blogs como fontes. Mas será que isso é válido? As informações podem ser consideradas relevantes? Alguns exemplos como o site Wikileaks mostram que sim e o quanto podem mexer com a mídia tradicional e com a opinião pública em geral. Foi o caso do vazamento de dados sigilosos sobre as ações norte-americanas no Afeganistão. Informações que abalaram as sólidas estruturas do Pentágono.
Dines observa que o jornalismo-cidadão só será eficaz quando for utilizado por jornalistas-jornalistas, profissionais.
Mas há distorções mesmo entre os profissionais.
Veja-se, por exemplo, o caso da apresentadora Marilia Gabriela, que contamina o jornalismo ao aceitar posar de garota-propaganda.
Além disso, Alberto Dines propõe também aos convidados do programa debater a contratação de legiões de opinionistas que nada acrescentam, e a transformação do jornalista em pessoa jurídica, condição que o desvincula da instituição que deveria empregá-lo.
Tudo isso e muito mais, nesta terça-feira, ao vivo na TV-Brasil, em rede nacional, às 10 da noite. Em S. Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.