Uma jogada ensaiada?
O leitor de jornais tem agora duas grandes alternativas para gastar seu tempo: discutir as baixarias que começam a dominar a campanha eleitoral e acompanhar os meandros da investigação sobre o desaparecimento da jovem Eliza Samudio.
A três meses do primeiro turno e oficialmente iniciada, a campanha para presidente da República entra direto na fase das acusações que não podem ser comprovadas – são lançadas apenas para ocupar a agenda da imprensa, produzir novas acusações e evitar que os candidatos e seus porta-vozes tenham que se ocupar dos problemas reais e dos compromissos que deveriam assumir.
O caso que envolve o goleiro do Flamengo Bruno Fernandes começa a se embolar, com a intromissão da mídia nas investigações.
Tudo indica que a Rede Globo “plantou” uma câmera oculta no avião que transportou dois dos acusados, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, conhecido como Macarrão, do Rio de Janeiro para Belo Horizonte.
Divulgado no programa Fantástico de domingo e no Jornal Nacional de segunda-feira, o vídeo mostra Bruno Fernandes insinuando que sua ex-amante pode ter sido assassinada por iniciativa do amigo.
A gravação não pode ser usada como peça no inquérito, mas já provoca interpretações diversas da que vinha predominando na imprensa.
Como resultado imediato, as duas delegadas que acompanhavam os acusados foram afastadas do caso.
Também como resultado imediato, o Clube de Regatas Flamengo desistiu da anunciada demissão por justa causa do seu goleiro.
Afinal, se houvesse uma chance de resgatar o atleta do buraco em que se enfiou, o clube ainda poderia negocia-lo, nem que fosse para um time da segunda divisão do Cazaquistão, esperando que a Justiça o liberasse para voltar à vida normal.
Conforme foi noticiado pela imprensa esportiva, o passe do goleiro é avaliado em cerca de 9 milhões de euros.
Segundo ele mesmo anunciou, havia negociações e um pré-contrato com o clube italiano Milan no momento em que se revelou o desaparecimento de Eliza Samudio.
O vídeo agasalhado pela Globo pode vir a compor uma manobra destinada a jogar o crime no colo do amigo Macarrão e livrar da cadeia o valioso goleiro.
Afinal, Macarrão é apenas Macarrão e com 9 milhões de euros até Barrabás vira santo.
Mortos sem sepultura
A artista plástica Maria da Conceição Souza Cahu, que trabalhou muitos anos como ilustradora da Gazeta Mercantil, morreu de câncer no dia 18 de dezembro de 2006.
Além de pintora talentosa, foi uma das raras mulheres que se dedicaram a fazer caricatura na imprensa brasileira.
Conceição Cahu representa o lado mais vulnerável da relação que se cria quando o negócio da imprensa cai em mãos erradas.
Centenas de outros ex-funcionários da Gazeta Mercantil, extinta no ano passado, ainda esperam a lenta burocracia da Justiça para receber seus direitos trabalhistas.
Muitos passam necessidades.
Mas a imprensa não fala da imprensa, e tanto a Gazeta como o Jornal do Brasil morrem sem epitáfio, como diz Alberto Dines.
Alberto Dines:
– O anúncio do fim da edição impressa do Jornal do Brasil não é vitória da internet nem de ninguém. O velho e glorioso JB afundou por vontade dos seus donos. Cento e dezenove anos de história, informação e cultura jogados na lata do lixo por gente que não estava à altura do negócio que dirigia.
O resto da imprensa registrou o fato sem grande empenho, achou natural. O Observatório da Imprensa não acha natural, nem se resigna com o processo de concentração que tomou conta da nossa imprensa. Venha conferir, hoje, às dez da noite, pela TV-Brasil, ao vivo em rede nacional. Em S.Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA