Palavras de Gushiken
De entrevista dada à Folha de S. Paulo de hoje por Luiz Gushiken, ex-ministro da Secretaria de Comunicação, hoje chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos, que anuncia sua saída do governo:
“É natural no ambiente democrático a vigilância da imprensa sobre os governantes, criticando-os e fiscalizando-os. Isso leva a um relacionamento naturalmente tenso, mas que ajuda o próprio governo a se corrigir. Mas, por outro lado, quando a mídia comete erros de julgamento, nem sempre se percebe esforço adequado de reparação para restabelecer a verdade”.
O espetáculo da Polícia Federal
Alberto Dines comenta notícia do Globo sobre a baixa eficácia de operações da Polícia Federal.
Dines:
– O governo parece que está em banho-maria, não pode ficar culpando a imprensa pelos seus problemas e a imprensa neste fim de semana mostrou que está gostando da trégua. Uma manchete, porém, foi contundente. E muito perturbadora. O Globo de ontem, domingo, diz na sua primeira página que “Mais de 94% dos presos pela Polícia Federal já foram soltos”. É uma lástima que o jornalão carioca tenha uma circulação reduzida em S. Paulo e no resto do país. Mas parece ter credibilidade para comprovar que estamos no reino da impunidade: dos 785 detidos nas grandes operações da PF apenas 40, repito, apenas 40 dos investigados permanecem detidos. Então por que tanto escarcéu e tanto alarido para mostrar a eficiência dos federais se eles não conseguem as provas necessárias para colocar pelo menos a metade no xilindró? Está bem, a culpa é do Judiciário. Mas é só do Judiciário? Será que o Ministério Público também não estaria fraquejando? Ou será que a obstrução da justiça é mais forte do que a máquina judicial? O que preocupa mesmo não é este balanço dos últimos quatro anos. O que preocupa é o futuro. Se apenas 6 % dos principais implicados nas grandes operações permaneceram presos, então o que devemos esperar nos casos correntes ora em investigação? O Dossiê Vedoin vai dar em nada? Um dos maiores escândalos eleitorais de todos os tempos vai ficar impune? Uma coisa é certa: as estatísticas citadas nos debates eleitorais sobre a eficácia da Polícia Federal não eram para valer. A culpa deve ser da imprensa.
De Bargas para Berzoini
Hoje o Estado de S. Paulo destaca informações policiais sobre a quebra de sigilo do telefone do ex-petista Oswaldo Bargas. Nos dias em que houve a negociação do Dossiê Vedoin com a revista IstoÉ, diz o jornal, Bargas telefonou 16 vezes para o então presidente do PT, e dirigente da campanha da reeleição do presidente Lula, Ricardo Berzoini.
PSDB também apanha
O repórter Bernardo de La Peña, da sucursal do Globo em Brasília, não concorda com a percepção de que a mídia é facciosa. Num dos casos mais mencionados, o da acusação de envolvimento do senador Eduardo Azeredo, então presidente do PSDB, com o valerioduto, La Peña lembra que a reportagem foi manchete da primeira página do Globo. Cita também as denúncias da Folha sobre favorecimento de deputados com verbas da Nossa Caixa, no governo Alckmin, entre vários outros casos.
O repórter não concorda com a idéia de que existe má vontade generalizada contra o PT. Para La Peña, as críticas se concentram em quem é governo, caso do PT no plano federal. Ao mesmo tempo, em face do argumento de que a imprensa depende muito de fontes oficiais, diz que em boa parte dos casos não poderia ser diferente. Bernardo de La Peña reconhece, ao mesmo tempo, que a capacidade de apuração dos principais veículos tem limitações. Em Brasília, por exemplo, as maiores sucursais não passam de vinte jornalistas.
Direito de resposta
O Globo foi obrigado pela Justiça a publicar sentença dada contra a empresa InfoGlobo pelo juiz da Décima Vara Cível Especial Judiciária de Brasília, Fabrício Fontoura Bezerra. Trata-se de acolhimento a pedido de indenização feito por Eduardo Jorge Caldas Pereira, que foi secretário do então presidente Fernando Henrique Cardoso, devido a reportagens que, segundo o juiz, contêm calúnia, injúria e difamação, cometidas com culpa e dolo. A sentença, da qual não se esclarece se cabe recurso, embora redigida em português algo claudicante e assim publicada, merece leitura, sobretudo por quem supõe que a imprensa só escolhe como alvo integrantes de governo petista.