Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>O futuro é a miséria
>>Ainda o blog da Petrobrás

O futuro é a miséria

Todos os jornais de circulação nacional publicam, na edição desta sexta-feira, a comprovação científica daquilo que os ambientalistas vêm afirmando há décadas: a riqueza criada pelo desmatamento da Amazônia se esgota rapidamente, aumenta as desigualdades sociais e provoca o agravamento da miséria em menos de vinte anos.

O estudo, reproduzido da edição da revista americana Science que circula a partir desta sexta, é resultado da análise feita por especialistas sobre os indicadores da qualidade de vida em 286 municípios localizados no território brasileiro da Amazônia.

A conclusão, em resumo: atividades econômicas produzidas com o desmatamento criam um curto ciclo de riqueza, mas para poucos, e que logo se esgota.

De volta ao ponto zero, a população remanescente já não conta com os recursos naturais para escapar da miséria, que acaba se agravando.

A publicação do estudo em todos os jornais de maior reputação pode influenciar na decisão a ser tomada pelo presidente da República com relação ao uso e ocupação da Amazônia.

Sobretudo, estabelece argumentos científicos que permitem contestar o poderoso lobby da bancada ruralista no Congresso, e que até o presente momento vinha recebendo o apoio dissimulado da imprensa.

Estão em andamento processos legislativos que consolidam a continuidade do modelo de desenvolvimento sem sustentabilidade adotado até aqui para a região, como a controversa Medida Provisória da regularização fundiária, a tentativa de transferir a responsabilidade pela política ambiental para Estados e municípios e a pretensão de reduzir a proporção de áreas naturais a serem preservadas nas propriedades agrícolas da Amazônia.

A ação dos parlamentares que representam os predadores do maior patrimônio biológico do planeta vinha sendo tratada como tema secundário pela imprensa.

O estudo científico que a partir desta semana se coloca à disposição dos interessados expõe toda a irracionalidade dessa trama e impõe uma obrigação à inteligência nacional: é preciso mudar completamente o modelo econômico adotado para a Amazônia e em relação a todo o território nacional onde existam reservas a serem protegidas.

O futuro criado pelo desmatamento é a miséria.

Ainda o blog da Petrobrás

Alberto Dines:

– Como se previa, a queda de braço da grande imprensa com a Petrobras não ficou muito tempo em cartaz. Os ânimos aparentemente já estão serenados: a Petrobras fez o imperioso recuo, os que espernearam contra o seu blog reconheceram que exageravam. Portanto, agora é a hora para dizer algumas coisas que talvez possam ser ouvidas.

Ponto Um: a Petrobras cometeu uma infração deontológica ao ignorar a noção de exclusividade: o jornalista que chega primeiro à fonte não pode ser prejudicado; se não há respeito à precedência, não há concorrência nem diversidade.

A estatal queria impor uma homogeneidade do tipo chinês. Como se sabe, a China está no outro lado do mundo.

Ponto Dois: o tal jornalismo “investigativo” que se pretende preservar não depende de informações oficiais, impressas, é obtido em fontes informais, em off ou através de cruzamentos obtidos em bases de dados de terceiros.

Ponto Três: o debate sobre mídia deve ser contínuo e sistemático; quando é espasmódico como agora, além de suspeito, confunde o leitor.

A sociedade pode defender a mídia desde que a mídia acostume a sociedade a discuti-la com naturalidade, sem escamoteações.

Ponto Quatro: a Petrobras já cometeu pecadilhos maiores e a mídia fez que não viu, não estrilou. Não lhe interessava.