Os advogados de Suzane von Richthofen, ré confessa do assassinato dos pais, não levaram em conta que a atriz principal da encenação não estava preparada para um papel tão dramático quando a orientaram a chorar e a simular arrependimento durante a entrevista ao Fantástico (9/4) e à revista Veja (nº 1951, de 12/4/2006). Ela poderia ter mostrado o arrependimento – se é que existe – de forma mais convincente. Mas faltou o fundamental nessa situação de exposição de imagem: a eficiência de uma assessoria de imprensa. O que era para ser o golpe de mestre dos advogados se transformou no pandemônio que a levou de volta para a prisão. A defesa de Suzane cometeu erros básicos por falta de orientação de uma assessoria eficiente.
Os irmãos Christian e Daniel Cravinhos, responsáveis pelo assassinato do casal com a ajuda de Suzane, voltaram para a cadeia por amadorismos próprios na entrevista concedida à rádio Jovem Pan. A filha do casal assassinado voltou à prisão por amadorismo de sua defesa no tratamento com a imprensa.
Causar comoção depende de habilidades e técnicas de teatro. Ela não as tem. A orientação de uma assessoria de imprensa eficiente poderia fazer os advogados entenderem que até seria possível mostrar um arrependimento da ré confessa, mas sem exagerar na dose. E também aprenderiam a não comentar segredos quando já se está com o microfone de lapela. Com o cuidado, o sigilo profissional entre advogados e cliente estaria garantido.
Fatos e interpretações
Se a atitude dos advogados é eticamente questionável, cabe a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) analisar o caso e dar o veredicto. O comportamento da imprensa – que pode ter contribuído com a farsa ao divulgar as imagens e as reportagens – não é nem vai ser objeto de discussão. Afinal, o que importa no jornalismo é o interesse público a qualquer custo. Atualmente, não haveria espaço para se refletir sobre a relevância da divulgação do caso na vida da população.
Nesse cenário, o julgamento marcado para junho já conta com capítulos que poderiam ter sido evitados com simples cuidados de comunicação. E não conta com outros que jamais foram levados para frente, como bem escreveu o colunista Luís Nassif (‘Os segredos de Suzane’,), na Folha de S.Paulo (11/4). O colunista defendeu que a cobertura da imprensa foi incompleta por que não aprofundou no relacionamento que Suzane tinha com os pais. Segundo ele, ‘trata-se de entender as razões objetivas, mas, principalmente, as emocionais e psicológicas que levaram ao crime’, o que não ocorreu até o momento.
Mas agora o que vai contar mesmo para o júri são as cenas e reportagens mostradas. Os fatos já não importam. Como dizia o filósofo alemão Friedrich Nietzsche: ‘Não há fatos; só interpretações’. E são nessas interpretações que o júri irá se basear para tomar uma decisão.
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Jornalista, colunista da revista Exame