Crime organizado
Uma pauta à procura de jornalista
Uma pequena nota no noticiário policial dos jornais paulistas poderia inspirar uma pauta interessante para a investigação jornalística.
Informam a Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo que um motoboy preso na madrugada de quinta-feira teria confessado a participação no assalto à joalheria Tiffany, ocorrido no dia 16 de maio.
Há uma pequena mas significativa diferença entre as duas reportagens, ambas baseadas em relato da polícia: o Estadão afirma que o suspeito foi o mentor do roubo, enquanto a Folha diz que ele apenas participou.
A pauta em questão não se refere especificamente ao assalto a uma joalheria instalada num shopping center de luxo, mas ao perfil de um grande número de assaltantes que aparecem recentemente nos jornais paulistas.
Uma rápida olhada nos arquivos eletrônicos autoriza a desconfiar – e a desconfiança é a matéria-prima da investigação jornalística – de que vem aumentando muito em São Paulo a reincidência em crimes de roubo.
Claramente, muitos dos detidos em assaltos e roubos são recém-saidos da prisão, ou detentos que se beneficiavam do sistema de progressão da pena, com liberdade condicional.
Os repórteres mais experientes sabem que há bem pouco tempo era incomum que presos recentemente libertados voltassem ao crime tão imediatamente.
O que está para ser investigado é a hipótese de que o crime organizado – que nos presídios paulistas atende pela sigla PCC – esteja forçando alguns detentos a voltarem à delinquência para pagarem dívidas à organização.
Segundo o Estadão, o suspeito de assalto à Tiffany é membro da organização criminosa.
O sistema penitenciário paulista facilita a concentração do poder do crime organizado, que coordena e financia facilidades para os presos na dura vida da cadeia.
Grande parte dos sentenciados vive em prisões distantes de suas cidades de origem.
Até mesmo visitas íntimas e viagens de familiares são financiadas pelo PCC.
No final da pena ou na hora de receber o benefício da liberdade condicional, o preso recebe a conta.
Então, tem que cometer um assalto para pagar a dívida. Ou arranjar alguém que faça isso por ele.
Essa hipótese ajudaria a explicar o grande número de reincidências imediatas em roubos e crimes correlatos.
A grande curiosidade é: por que a imprensa paulista ainda não se interessou pelo assunto?
De olho na Jabulani
Alberto Dines:
– Já não há dúvidas de que as novas tecnologias deverão alterar regras, e o próprio espetáculo futebolístico, inclusive com relação à arbitragem. Tudo indica que estas novas tecnologias poderão influir na própria organização da cobertura jornalística.
Quem deu uma pista nesta direção foi o ex-jogador e agora comentarista da Globo, Paulo Roberto Falcão, um dos astros da seleção de 82, aquela que não trouxe a Copa mas encheu de orgulho o coração dos brasileiros.
Em entrevista à Folha ontem [quinta, 1/7] à tarde a propósito das duras críticas do holandês Cruyff às atuações da seleção do técnico Dunga, Falcão concordou basicamente mas acrescentou uma explicação que interessa muito ao jornalismo esportivo: ele não foi à África do Sul e preferiu acompanhar os jogos na central montada pela Globo no Brasil, porque através da TV poderia observar e avaliar muito melhor o desenrolar das partidas, sem o cansativo e desgastante atropelo de viagens.
Pode-se inferir portanto que, assim como os juízes erram grosseiramente a poucos metros dos jogadores, comentaristas situados a milhares de quilômetros dos gramados mas dispondo de dezenas de câmeras de TV de várias emissoras mundiais, moderníssimos programas de computador e poderosas bases de dados terão à sua disposição mais e melhores imagens para analisar as partidas.
Longe do pelotão dos jornalistas reunidos na tribuna da imprensa, poderão blindar-se das opiniões e emoções dos colegas sentados ao lado. Nos estádios os jornalistas são obrigados a falar do jogo mas também do frio, das vuvuzelas, dos torcedores e do clima das ruas, circunstâncias paralelas que poderiam ser cobertas por repórteres não-esportivos.
Sem querer, Falcão introduziu uma reflexão que poderá reanimar as coberturas desportivas e o obsoleto modelo de negócios do circo da Copa. Estar perto dos acontecimentos não significa necessariamente ter a melhor visão da realidade.