Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Retrato incompleto
>>Acabou a unanimidade

Retrato incompleto

Os grandes jornais brasileiros, aqueles considerados de influência nacional, parecem considerar definida a eleição para a Presidência da República.

Análises publicadas pela imprensa neste final de semana, com base na projeção das pesquisas de intenção de voto, apontam uma vantagem ainda maior da candidata do governo, Dilma Rousseff, sobre o oposicionista José Serra.

Fala-se em uma diferença de até 20 pontos porcentuais na próxima sondagem, o que consolidaria uma situação ainda mais difícil de reverter.
 
As opiniões selecionadas pelos editores também se referem à eventualidade de um “grande escândalo” envolvendo diretamente a candidata, como única forma de produzir uma reviravolta capaz de fazer uma grande massa de eleitores mudar de idéia.

Mas os próprios jornais destacam também o caráter reservado de Dilma Rousseff e o fato de que, ao antecipar-se na divulgação de seu passado como militante contra a ditadura, a campanha na televisão produziu uma vacina contra efeitos negativos do aspecto mais controverso de sua carreira política.

Assim, sem a perspectiva de um assunto realmente grave a ameaçar sua trajetória, a candidata petista parece próxima de vencer já no primeiro turno.
 
O sinal mais claro de que a imprensa considera improvável uma mudança na tendência apontada pelas pesquisas é o fato de que todos os jornais, do final de semana até esta segunda-feira, trouxeram como destaques os desafios do próximo governo e até algumas especulações sobre um futuro ministério.

Evidentemente, algumas das reportagens publicadas, como aquelas descrevendo o estado lastimável do setor sanitário nas grandes cidades, também servem como combustível de campanha, ao levantar problemas que os dois governos do PT não conseguiram resolver.
 
Mas esse tipo de ação também tem pouco alcance no cenário favorável ao atual governo federal, porque os leitores sabem que muitos dos problemas apontados pelos jornais são de responsabilidade de Estados e Municípios.

Mesmo que seja movida por interesse político, a iniciativa de retratar as carências do País seria saudável, pois nunca é demais expor os aspectos negativos, para que venham a ser corrigidos.

O problema é que a imprensa não costuma dar seqüência a esse tipo de reportagem, deixando incompleto o retrato do Brasil que precisamos conhecer, para que seja melhorado.
 
Acabou a unanimidade

Alberto Dines:

Surpresa sabática:  divergências no seio da ultra-fechada ANJ! Jornalistas divergem, o patronato vacila! A autorregulamentação do jornalismo não é unanimidade! O noticiário sobre o encerramento do 8º Congresso Brasileiro de Jornais apresentou um desfecho feliz, isto é – não teve desfecho. Uma inefável e indizível  sensação de ceticismo e pluralismo marcou a discussão e transformou-se em letra de forma no dia seguinte (sábado, 21/08). ‘Jornais veem entraves para criar conselho de autorregulamentação’ sapecou o Estadão (p. A-16). ‘Em congresso da associação de jornais, participantes defendem mais discussão sobre proposta de conselho’, explicitou O Globo (p.17). A Folha ficou de rabo preso nos seus múltiplos compromissos: a sua representante, Judith Brito, foi reeleita presidente da ANJ e os entraves mencionados pelo Estadão contestam a proposta da diretoria que encabeça. O que explica a dubiedade do título da Folha: ‘Criação do Conselho de autorregulamentação tem apoio de grupos de midia’ (p. A-16).  Não todos – uma raridade.Tudo isso porque os jornalistas Aluizio Maranhão, Editor de Opinião do Globo, e Sidnei Basile, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril, consideram prematura a aprovação da proposta de autorregulamentação sem a necessária reflexão e estudos. Maranhão disse que se sentia desconfortável ao criticar a tentativa de criação de um Conselho Federal de Jornalismo e, ao mesmo tempo, defender a proposta da ANJ. ‘É muito mais fácil identificar o desvio de uma publicidade do que o desvio de uma reportagem. Qual o código capaz de abranger o universo de 140 jornais num país tão disparatado como o nosso?’.


João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, concordou: ‘Autorregulamentar o jornalismo é mais dificil’. Sidnei Basile foi claro: ‘A autorregulamentação é como carregar uma carga de dinamite. Dá para ser feito, mas com enorme cuidado, porque o risco é imenso’.
A desinteligência passa também pela questão da composição do Conselho de Autorregulamentação – haverá representantes da sociedade? E como escolhê-los? Acabou a unanimidade, a ANJ desceu do Olimpo e hesita. Louvado seja o Senhor.