Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O meio ambiente em parcelas
>>À espera das mudanças

O meio ambiente em parcelas

A imprensa costuma reservar os finais de semana para se preocupar com o meio ambiente e outros temas ligados à sustentabilidade.

O assunto fica segregado, como se não fizesse parte das ‘questões sérias’, como política e economia, que ocupam os espaços mais nobres.

Neste domingo, por exemplo, a Folha de S.Paulo traz reportagem sobre a descoberta de uma imensa diversidade biológica na região amazônica chamada de Calha Norte, área que vive ameaçada pela cobiça de madeireiras, mineradoras e por empresas do setor elétrico.

Uma sucessão de expedições para estudo do meio ambiente, financiada em parte por uma mineradora, revelou que, ao contrário do que pensavam os cientistas, a imensa biodiversidade aumenta ainda mais a necessidade de restringir atividades predatórias na região.

Outra notícia trazida no final de semana dá conta de que todo o esforço e os investimentos estimulados pelo governo brasileiro para o desenvolvimento de combustíveis de fonte renovável, como o etanol, podem ser inúteis se a devastação da Amazônia não for contida.

O lançamento de veículos com uso flexível de gasolina e álcool reduziu de fato as emissões de dióxido de carbono, mas os ganhos no combate ao aquecimento global se tornam irrelevantes diante da perda de florestas.

Reportagem publicada domingo pelo Estado de S.Paulo revela que em apenas um mês de derrubadas na Amazônia são produzidas quantidades de CO2 equivalentes a tudo que foi conquistado em cinco anos de carros flex rodando nas cidades.

Entre as revistas, Veja traz uma reportagem sobre experimentos com um avião movido a hidrogênio.

Época não aborda o tema ambiental mas debate a questão social, com um amplo estudo sobre os efeitos das políticas de inclusão no Brasil.

Carta Capital, que se dedica mais ao tema social, traz uma curta entrevista do empresário Oded Grajew, líder de iniciativas como o Instituto Ethos e o movimento Nossa São Paulo.

Grajew critica a decisão do governo de adiar a exigência para que a Petrobrás coloque no mercado o óleo diesel menos poluente.

O empresário chama o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, de mentiroso, e observa que a poluição provocada em boa parte pelo diesel de má qualidade mata mais do que a dengue.

Como se vê, o tema é importante também para todos os outros dias da semana, e deveria vir grudado nas seções de economia e política.

À espera das mudanças

Alberto Dines:

– A Era Obama, iniciada com tanto entusiasmo na quarta-feira, não conseguiu emplacar uma manchete de primeira página em nenhum dos três jornalões, quatro dias depois, primeiro domingo dos novos tempos. Em compensação as quatro revistas semanais de informação serviram-se muito bem das fotos do novo presidente americano em suas capas.

Em matéria de informação, retrospecto e análises não foram além do esperado, sendo que Veja saiu-se um pouco melhor, nenhuma conseguiu produzir uma daquelas ‘edições históricas’ que pedem, imploram, para serem guardadas. Mais uma vez fica claro que a imprensa cria expectativas, mas não sabe como atendê-las. Ou não tem fôlego para isso. A Era Obama (título da Época) é muito mais do que a chegada do primeiro negro à Casa Branca.

E isso não é pouco. A promessa de mudar empolgou não apenas os EUA, mas o mundo inteiro, exatos quarenta anos depois das decepções de 1968. Mudança agora significa fim dos preconceitos, fim dos fanatismos, fim do radicalismo e fim do revanchismo. Mudança agora é mudança mesmo, ponto final em estruturas, sistemas, fórmulas e idéias que persistem desde o início da 2ª Guerra Mundial.

Esta nova etapa da revolução americana e quiçá mundial consagra o voto como o único meio capaz de operar transformações profundas e duradouras. Yes, We Can, Sim, podemos, foi o mote de Obama. Agora todos podem tudo — através da democracia genuína, através de eleições limpas e contínuas. Este pode ser um bravo mundo novo, desde que a imprensa não tenha vergonha de valorizar os simbolismos.

A crise financeira é grave, vai demorar, precisa ser atentamente acompanhada pela imprensa para que não se cometam os desatinos anteriores. Mas isso não significa que a imprensa deva desperdiçar um dos grandes momentos da história política mundial fingindo que tudo continua na mesma. Ao comemorar as mudanças, a própria imprensa estará mudando.