Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A realidade desmente as previsões
>>A mãozinha da pesquisa

A realidade desmente as previsões


Os resultados das eleições municipais na maioria das capitais parecem ter surpreendido a imprensa.


Os jornais apostaram demais nas pesquisas de última hora, publicadas no sábado, e acabaram apostando em previsões que não se confirmaram.


O resultado mais surpreendente aconteceu em São Paulo, onde o atual prefeito, Gilberto Kassab, que aparecia em segundo lugar nas previsões, teve mais votos que Marta Suplicy, apontada como vencedora pelos institutos de pesquisa.


As edições de hoje tentam oferecer explicações, mas é como conversa de técnico de futebol depois de terminado o jogo: não muda o placar.



A Folha explica, em apenas uma coluna, que a pesquisa do Datafolha na véspera da eleição apontava tendências, que acabam evoluindo e podem alterar o retrato feito na coleta de opiniões.


Já o Estado de S.Paulo, que fez parceria com o Ibope, também justifica os números das pesquisas da véspera como retrato fixo de uma tendência em evolução, mas lembra que o instituto também errou na ‘boca-de-urna, ao apontar que a candidata Marta Suplicy teria mais votos que Kassab.


O Estadão revela um segredo dos estatísticos: a própria margem de erro tem uma margem de erro, o que pode tornar inválida qualquer previsão.


Outra explicação apresentada pelo Ibope seria que a pesquisa trabalha com uma amostra menor de eleitores, o que pode potencializar a possibilidade de erro.


A terceira explicação, segundo o jornal, é, pura e simplesmente, um erro, mas isso o Ibope não admite nem reconhece.



O Globo fez diferente no Rio; preferiu mostrar a campanha nas ruas e o crescimento da onda em favor do candidato do Partido Verde, Fernando Gabeira, relativizando as previsões dos institutos de pesquisa.


Acabou ficando mais próximo da realidade das urnas.


Hoje os jornais também começam a fazer previsões para a eleição presidencial de 2010.


Os números apontam o crescimento do PT e do PMDB nos maiores municípios, o que a imprensa já relaciona com as candidaturas anunciadas para a sucessão do presidente Lula.


Mas, como se viu ontem em algumas das capitais, as urnas podem trazer surpresas até para os especialistas em futurologia.


Coisas da democracia.



A mãozinha da pesquisa


A divulgação de pesquisas na véspera de eleições tem sido criticada, pelo potencial de influência que os números têm sobre a decisão de uma parte dos eleitores.



Alberto Dines:


– Enquanto se digerem os resultados de ontem e já se começa a pensar nas presidenciais de 2010 convém retomar uma questão que tem sido ventilada neste ‘Observatório da Imprensa’ em  temporadas  eleitorais anteriores. Tem a ver com a abusiva utilização das pesquisas de opinião por parte da mídia que chegou a ganhar o nome de doença – pesquisite.


Em pleitos anteriores, o TSE [Tribunal Superior Eleitoral] não permitia a divulgação de sondagens nos dias da votação por achar que poderiam induzir o eleitor a optar pelo voto útil, isto é: esquecer o preferido e votar naquele que vai ganhar. Houve eleições em que os resultados só eram divulgados até a sexta feira anterior.


Ontem, em São Paulo, ficaram muito claros os malefícios produzidos pela divulgação de sondagens no dia da votação: os dois jornalões, o Estado de S.Paulo e a Folha de S. Paulo, trombetearam em manchete a certeza de que Marta Suplicy e Gilberto Kassab seriam os vencedores (nesta ordem). E o que aconteceu? A divulgação antecipada da tendência de alta de Kassab reverteu a própria previsão dos institutos: a ex-prefeita ficou em segundo lugar e o atual prefeito a ultrapassou.


No Rio de Janeiro, a situação era a mesma – Fernando Gabeira e Marcelo Crivella disputavam a segunda vaga, mas o Globo comportou-se com mais responsabilidade e divulgou discretamente a previsão dos institutos. Não forçou o voto útil.


Registre-se que o jornalão carioca torcia claramente contra o senador Crivella. Se desejasse induzir os indecisos bastaria destacar em manchete os resultados do Datafolha que indicavam a inclusão de Gabeira no segundo turno.


Se a justiça eleitoral tem sido tão rigorosa em matéria de propaganda, sobretudo no tocante à internet, conviria que voltasse a examinar com a mesma severidade  a divulgação de pesquisas no dia da votação. Os institutos vão chiar mas a democracia agradece.