Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Para entender
>>Coronelismo eletrônico

Lucros de Congonhas


A suspensão da venda de passagens em Congonhas enquanto persistir a situação de insegurança foi manchete nos três jornais considerados de circulação nacional.


A medida vai afetar diretamente as contas das companhias aéreas. Gol e TAM controlam quase 92% do tráfego aéreo no Brasil e Congonhas era responsável por até 35% de suas receitas.


Para entender


A Folha de S.Paulo informa em sua primeira página, com destaque, que o uso intensivo de Congonhas permitiu à Gol aumentar seus lucros em 62% no ano passado, enquanto a TAM teve lucros 174% maiores.


Segundo O Globo, as duas empresas estão entre as mais rentáveis do mundo no setor aéreo.


Desde o acidente da terça-feira, dia 17, as ações da Gol na Bovespa caíram 12%, enquanto as ações da TAM se desvalorizaram em 20%.


Essas informações, que não são manchete em nenhum dos grandes jornais brasileiros, lança muitas luzes sobre as responsabilidades pela super-exploração do aeroporto nos últimos anos, e devme ser levadas em conta na busca das causas da maior tragédia da aviação no Brasil.


Da mesma forma, a vantagem econômica crucial para as duas empresas deve ser considerada, daqui para diante, em todas as análises sobre as causas do chamado apagão aéreo. Basta colocar nos cálculos o fato de Congonhas vir operando em condições extremas há vários meses – por interesse econômico – para se chegar a algumas conclusões sobre o estresse dos controladores de vôo e o efeito em cadeia de seus problemas sobre os demais aeroportos do País.


Tarde demais


Outro detalhe que pode ajudar a entender a tragédia de Congonhas: a TAM admite que o Airbus que fazia o fatídico vôo JJ 3054 estava programado para entrar em manutenção por causa do problema no reversor da asa direita.


A empresa se defende, dizendo que, segundo o manual do fabricante, o conserto poderia ser feito num prazo de até dez dias.


A TAM informa que o avião entraria no hangar para o reparo do reversor naquela mesma noite. A tragédia chegou antes.


Troca de comando


Em Brasília, os jornais detectam mudanças no comando do Ministério da Defesa. Sai Valdir Pires. Segundo o Estado de S. Paulo, um dos mais cotados para substituí-lo é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, que já teria aceitado a incumbência. Segundo a Folha,  o novo ministro é o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Nélson Jobim.


Parece que o leitor terá que esperar a posse para saber quem tem razão.


De volta ao ônibus


Todos os grandes jornais de hoje dão amplo espaço para o fato de que o movimento nas estações rodoviárias de São Paulo aumentou cerca de 30% após o acidente em Congonhas.


O sonho de voar, que se tornou possível para muitos brasileiros com o crescimento econômico dos últimos anos, acabou se transformando em um pesadelo pela crise da aviação civil.


Coronelismo eletrônico


Há muito mais para ler nos jornais desta quarta-feira. Mas uma notícia de sexta-feira passada ainda está à espera de análises mais detalhadas.


Luiz Egypto tem essas observações a fazer.


Egypto:


A cobertura da imprensa sobre a morte do senador Antonio Carlos Magalhães, ocorrida na sexta-feira passada, e os necrológios que se sucederam trataram apenas lateralmente uma faceta importante de sua vida política. Com inegável talento para pressentir a direção dos ventos, o senador baiano transitou sem maiores traumas da condição de homem confiança do regime militar para a de ministro de larga influência no governo da Nova República, arquitetada por Tancredo Neves e implementada por José Sarney, entre 1985 e 1989.


Escolhido por Tancredo e confirmado por Sarney, por cinco anos ACM ocupou o estratégico Ministério das Comunicações. Ali foi um autêntico representante do que se convencionou chamar ‘coronelismo eletrônico’ – o qual, no ramo da radiodifusão, pode ser traduzido pela máxima ‘aos amigos tudo; aos inimigos, a lei’.


No período em que pontificou nas Comunicações, ACM autorizou a concessão de 1.028 emissoras de rádio e TV. Muito, pouco ou mais ou menos? Em 65 anos, entre 1934 e 1979, o poder concedente – o Estado – havia autorizado… 1.483 concessões.


Leia na edição online deste Observatório artigos de Venício Lima e Ana Rita Marini dedicados a este ícone do coronelismo eletrônico no Brasil.