O bambolê da ministra
O PMDB deu um bambolê de presente à ministra Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil.
A notícia, publicada hoje pelo Estado de S.Paulo, diz muito mais sobre as práticas na política brasileira do que todos os artigos e editoriais dos jornais de hoje.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, não poderia ter sido mais explícito: ‘É para ver se melhora o jogo de cintura da ministra’.
Dilma Rousseff é mais do que coordenadora política do governo.
Ela administra a participação dos aliados no governo federal e representa também a maior aposta do presidente Lula da Silva para a sucessão presidencial em 2010.
O PMDB é um partido mais pragmático do que programático, como se diz em Brasília.
Depois de tentarem, sem sucesso, desestabilizar a ministra com boatos sobre o risco de racionamento de energia, que colocaria em xeque sua competência como administradora, os peemedebistas resolveram admitir que ela está na disputa para ficar.
E resolveram seguir o ditado: se não podem vencê-la, aliam-se a ela.
A ministra é tida como boa administradora, de pulso firme e disciplinada.
Ela aparece hoje com destaque em todos os jornais, fazendo o balanço do Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC.
Além de representarem o motor que pode garantir ao País um crescimento anual de 5%, a partir deste ano, as obras do PAC são uma vistosa bandeira para as eleições municipais que se aproximam.
E Dilma tem a chave que dá partida ao motor.
O problema, do ponto de vista da política fisiológica, é que Dilma Rousseff não tem jogo de cintura.
Ela resiste o quanto pode a ceder em cargos estratégicos e insiste em preservar os quadros técnicos do governo.
Dilma ganhou o bambolê na segunda-feira.
Ontem, o PMDB ganhou a diretoria internacional da Petrobrás.
A febre da imprensa
É papel da imprensa alertar as autoridades para os riscos que corre a sociedade.
Mas no caso da febre amarela, sobrou alarmismo e faltou sensatez.
Hoje, o Estado de S.Paulo observa que o Brasil vive situação comparável, mas inversa à que ocorreu no Rio de Janeiro em 1904, durante a ‘revolta da vacina’.
No século passado, insuflada pela imprensa, a população do Rio se revoltou contra a campanha de vacinação do sanitarista Oswaldo Cruz.
Hoje, a imprensa provoca o movimento oposto, alarmando a população e induzindo à busca descontrolada por vacinas até mesmo em lugares onde não há sinais da moléstia.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
O surto de febre amarela, detectado em Goiás, vem sendo tratado pela mídia com a atenção que merece, mas brandido por alguns colunistas de jornal e comentaristas de rádio e TV com uma eloqüência, no mínimo, fora de propósito. Parece que todos estamos ameaçados e o mosquito transmissor está logo ali, no canto da sala, pronto para atacar.
Temos aí, sim, um problema grave de saúde pública, mas ainda não está configurada uma epidemia, como certos jornalistas querem nos fazer crer. Por trágico que seja, já que matou mais gente neste mês de janeiro do que em todo o ano passado, o que se tem é uma versão silvestre da febre amarela, ainda sem reflexos maiores nas grandes áreas urbanas, onde a população corre aflita aos postos de vacinação.
É claro que o assunto tem tudo para provocar barulho tão ao gosto dos editores mais ansiosos, mas a prudência aconselha que não é hora de alarmismos fátuos. A hora é de muita atenção e de mais investigação, análises e interpretações. E de menos jornalismo declaratório.