Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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>>Onde acaba a floresta

O núcleo duro do capitalismo

A imprensa brasileira se esforça hoje para explicar como o plano de socorro às instituições financeiras dos Estados Unidos foi travado pelo próprio partido do presidente George Bush.
Durante todo o dia de ontem, os sites especializados e as edições eletrônicas dos jornais anunciaram que um acordo estava sendo finalizado entre democratas e republicanos no Congresso.

No começo da noite, porém, o núcleo mais conservador do Partido Republicano voltou atrás e desmentiu o acerto.

Os jornais deixam claro que o fato definidor do retrocesso foi a chegada a Washington do candidato republicano à Presidência, John McCain.

Segundo o relato da imprensa, antes de seu desembarque representantes dos dois partidos e do governo acenavam com a destinação de uma ajuda de até 700 bilhões de dólares às instituições mais vulneráveis, em três parcelas.

Além disso, parte do valor seria condicionada ao sucesso do plano, que poderia ser suspenso se não tivesse efeito imediato, e haveria um ítem restringindo o pagamento de bônus a executivos dos bancos que recebessem ajuda.

Uma das possibilidades sugeridas pela imprensa é que o candidato republicano estava tentando evitar que seu concorrente, o democrata Barack Obama, saísse das negociações como aquele que defendia os interesses dos cidadãos.

O pacote proposto pelo governo deve custar cerca de 2.300 dólares a cada contribuinte.
Obama e outros parlamentares democratas haviam incluído no acordo um plano de resgate de cerca de 56 bilhões de dólares para ajudar as famílias afetadas pela crise financeira.

Os jornais insinuam que os republicanos bloquearam a negociação para evitar que essa medida fosse creditada ao candidato democrata.

Mas há também, por trás do noticiário,  a necessidade de uma análise sobre o perfil político do ‘establishment’ americano.

Aqueles que são chamados de ‘conservadores’ são, na verdade, os mais inflexíveis defensores das leis de mercado, que por aqaui chamamos de defensores do liberalismo, enquanto os ‘liberais’ aceitam alguma regulamentação do mercado por parte do Estado.

Quando resiste à intervenção direta do governo, rejeitando a idéia de que o Tesouro deva assumir os riscos da iniciativa privada, o núcleo mais conservador do Partido Republicano está apenas cumprindo seu papel.

Ao mesmo tempo, como dizem os jornais, eles tentam usar o plano de resgate da economia para resgatar a candidatura de John McCain.

Lá, como cá, não há como saber onde termina a economia e começa a política.

Onde acaba a floresta

A série de reportagens da Folha de S.Paulo sobre as eleições municipais deste ano traz, hoje, uma lição importante sobre o que acontece com a exploração desenfreada dos recursos naturais e a falta de um planejamento para o desenvolvimento econômico da região amazônica.

A série, denominada ‘Na estrada’, já levou os repórteres a percorrerem cerca de 14 mil quilômetros nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, para mostrar a realidade que nem sempre a chamada grande imprensa consegue alcançar.

Na edição de hoje, a  reportagem vem de Aragominas, no norte de Tocantins, onde a exploração desenfreada das florestas deixou a população sem alternativas econômicas.

Segundo a Folha, a área desmatada nos últimos três anos chega a 85 quilômetros quadrados, e não há madeira nem mesmo para os marceneiros da cidade.

A culpa, segundo os candidatos a prefeito entrevistados, é dos assentamentos rurais, que foram criados no município sem um projeto agrícola nem um plano de manejo da floresta.

Os assentamentos rurais começaram em Aragominas há dez anos, e atraíram cerca de 3 mil pessoas, o que equivale a 55% por cento da população do município.

A área era rica em pau-brasil.

Boa parte da cobertura vegetal já havia sido destruída por fazendas de gado.

Sem qualquer assistência dos órgãos públicos, os assentados simplesmente devastaram o que restava da floresta.

Por falta de um plano econômico, o município ficou sem alternativas e beira a estagnação.

A reportagem da Folha é como um retrato do futuro de outras regiões da Amazônia onde a criação extensiva de gado e outras atividades predatórias estão subsituindo a floresta por terra sem valor.

Exatamente como vinham alertando há anos aqueles que a imprensa sempre tratou como os ‘ecochatos’.