Ampliar a discussão
Espera-se um debate cada vez mais amplo sobre o plano de crescimento anunciado ontem pelo governo. É, tecnicamente, o melhor que o primeiro escalão federal pôde modelar. Mas o cerne da questão não é técnico. É político. E, politicamente, são outros quinhentos. Não quinhentos bilhões. Quinhentos obstáculos interpostos por todos os interesses corporativos, privados e públicos, que têm no Brasil solo fecundo. Alguns deles acatados implicitamente no plano.
Debate em circuito restrito
Alberto Dines lamenta que o debate entre candidatos à presidência da Câmara esteja programado para uma emissora de televisão com reduzida audiência.
Dines:
– Os três candidatos à presidência da Câmara Federal finalmente acertaram um debate. Será realizado na TV-Câmara, na próxima segunda, dia 29/1. Muito bem, parabéns a todos, nossos legisladores enfim estão aprendendo a sair dos bastidores e mostrar a cara. Mas porque transmitir um debate desta importância, num canal circunscrito à limitada esfera daqueles que têm condições de pagar uma TV por assinatura? Não teria mais repercussão numa emissora do sistema aberto de TV? A opção pela TV-Câmara tem algo de corporativo, lembra um circuito fechado, todos fazem parte da mesma instituição. Cabe perguntar: porventura as emissoras de TV aberta recusaram-se a transmitir o debate? O governo evidentemente não quer meter-se nesta briga, mas a Câmara Federal que, em última análise, representa o poder concedente, tem todas as condições para obrigar as emissoras do sistema aberto a transmitir um debate desta importância. Resta saber se a Câmara Federal quer mesmo exercer todos os seus poderes. Essa é a questão central que não aparece no noticiário. No dia em que a Câmara Federal assumir as suas responsabilidades muita coisa vai mudar neste país. Inclusive na mídia eletrônica.
Mauro:
– O programa de televisão do Observatório da Imprensa volta no dia 6 de fevereiro. Às 11h40 da noite na Rede Cultura, e antes, às 10h30, ao vivo, na TV-E.
A imagem é livre
Eu penso que a Câmara não deve obrigar nenhuma emissora a transmitir seu debate, mas o sinal estará disponível e quem quiser poderá retransmiti-lo, como aconteceu nas intermináveis CPIs do Congresso. Desde logo, as emissoras do Senado e da Justiça podem se juntar à TV Câmara. E haverá antes, na sexta-feira, um debate na Folha de S. Paulo.
Gugu castigado
A Folha mostra hoje como Gugu Liberato foi castigado com perda constante de audiência após ter levado ao ar, em 2003, uma montagem com falsos integrantes do PCC que ameaçavam seqüestrar personalidades.
Métodos inquisitoriais
O professor Roberto Kant de Lima foi o anfitrião de um debate promovido no início de janeiro, na Universidade Federal Fluminense, sobre criminalidade, violência e mídia. Ele fala de algo que aproxima a Polícia, a Justiça e a imprensa.
Kant de Lima:
– Eu estudo formas de produção da verdade na academia, no Judiciário e, eventualmente, também tenho estudado, embora não pessoalmente, na imprensa, mas alunos têm estudado isso. Percebemos nesses três lugares a presença de mecanismos inquisitoriais, ou seja, mecanismos em que a verdade já é conhecida através de meios completamente sigilosos, secretos, e que não são divulgáveis, nem são públicos, e que produzem uma sensação de culpa, uma evidência de culpa da qual as pessoas têm que se defender. Uma presunção da culpa. E o interessante que temos visto ultimamente é que os próprios mecanismos que a imprensa muitas vezes critica na Polícia, de se apropriar de indícios, de coisas que não são muitos fortes, não são muito claras, não são muito evidentes, para fazer os seus processos, os seus procedimentos e as suas denúncias, que a imprensa também se utiliza desses mesmos princípios.
Para dar um exemplo: todo aquele processo de Watergate, quando aconteceu, lá nos Estados Unidos, no procedimento judicial os repórteres foram obrigados a dizer as perguntas que eles fizeram e as respostas que as pessoas deram. Eu nunca vi aqui no Brasil, a não ser com raras e honrosíssimas exceções, nenhum repórter que publicasse alguma coisa que eu disse com a pergunta que ele fez. É sempre publicada a resposta, mas não a pergunta. Isso, evidentemente, descontextualiza completamente o que eu possa dizer.
Mauro:
Clique aqui para ler a segunda parte do debate em busca das raízes da violência.
Despedida de Fidel
O jornal britânico The Observer publicou no domingo um texto que soa como necrológio de Fidel Castro. Na conclusão, seus autores escrevem: “A História poderá, ao fim e ao cabo, apesar de tudo, absolvê-lo. E certamente não o esquecerá”.