O dia-a-dia com visão curta
As carências da apuração jornalística no Brasil ficam evidentes em dois episódios com dimensões temporais totalmente distintas. Primeiro, a crise aérea, que se arrasta há meses. A mídia denunciou e condenou a inépcia do governo na condução do problema, mostrou o sacrifício dos passageiros, mas ainda não se consegue enxergar as linhas de solução.
O segundo episódio é a venda da Ipiranga, caso recentíssimo. É verdade que desde ontem, primeiro dia útil após a operação, se fala em suspeita de vazamento de informação e especulação no mercado acionário. Mas tantos outros aspectos da operação, que são linhas permanentes da atividade, ficaram nas sombras e só agora explodem no noticiário. Por exemplo, o reforço do monopólio da Petrobrás, a tentativa de entrada da PDVSA venezuelana no mercado brasileiro, ou a constante preferência de empresas privadas pela associação com estatais, comentada hoje por Miriam Leitão no Globo.
O tiroteio do dia-a-dia só faz sentido quando se inscreve em linhas mais amplas de compreensão.
TV do Executivo na tevê
Alberto Dines anuncia a ida do ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência da República, ao programa de hoje do Observatório da Imprensa na televisão. Ele vai discutir a TV do Executivo.
Dines:
– A telenovela da Rede Publica de TV mudou de nome agora é Rede de TV do Executivo. Com qualquer título parece que esta novela ou seriado hoje à noite poderá ser devidamente esclarecida ou até mesmo encaminhada para o desfecho. Luiz Dulci, ministro da Secretária-Geral da Presidência da República e à qual está afeta a Subsecretaria de Comunicação Institucional, vai participar hoje à noite da edição do Observatório da Imprensa. O ministro Dulci é uma figura discreta, aparece pouco e, por isso mesmo a sua manifestação está cercada de expectativa já que dentro do próprio governo há divergências entre o ministro Hélio Costa, autor do projeto e o ministro Gilberto Gil, contrário à nova rede, defensor da atual Rede Pública de tevês educativas e culturais. Às 23:40 na TV-Cultura e ao vivo, mais cedo, às 22:40, na TV-E.
Tribunais em discussão
A Folha dá hoje a palavra, na sua página 3, à procuradora federal Ana Lúcia Amaral, que contesta artigo publicado na semana passada pelo advogado Sergio Bermudes em defesa do vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. No domingo, em longa entrevista ao Estadão, Mendes fez críticas a uma argumentação da procuradora. Ana Lúcia Amaral afirma que decisões de tribunais devem, sim, ser discutidas.
Os novos blogueiros
A estréia do blogue do ex-governador Garotinho, ontem, reforça a necessidade de se repensar todo o processo de produzir e distribuir informação após o advento da internet. Cesar Maia e José Dirceu começaram antes de Garotinho. Todos são escandalosamente facciosos. Mas os jornais também já foram panfletos partidários.
Defensoria e mídia
A defensora pública do estado de São Paulo Renata Tibiriçá diz que a mídia tende a se interessar mais pelo trabalho da Defensoria quando ele se encaixa na busca de audiência.
Renata:
– Em relação à atuação da Defensoria, o que a gente percebe é que muitas vezes a mídia se interessa muito mais por algum fato que já está sendo discutido, debatido, e às vezes algum outro fato, que seria muito mais interessante e que atingiria um grupo muito maior de pessoas, acaba sendo esquecido. Um exemplo disso: a Defensoria atuou nessa questão do metrô de uma forma intensa, tem sido uma atuação bastante importante, mas isso não atinge necessariamente toda a população. Claro, o metrô é um meio de transporte de massa, é importante as pessoas saberem o que está acontecendo, como está sendo construído, mas a preocupação, muitas vezes, da mídia acaba deixando de lado alguns outros assuntos que são importantes. Ela acaba se tornando monotemática. Ela se preocupa com assuntos específicos, e outras, questões, que poderiam ser debatidas, que são questões importantes, como as relacionadas a direitos sociais, caso da moradia, educação, saúde, acabam sendo deixados de lado por um fato que se tornou o fato da crista da onda. É só o que se fala.
Jornalismo em tempos difíceis
A Sociedade Interamericana de Imprensa, reunida em Cartagena das Índias, na Colômbia, detectou novos e graves ataques à liberdade de imprensa no continente nos últimos seis meses. Sete jornalistas foram assassinados no México e um no Haiti. Há dois desaparecidos e 20 ameaças de morte, inclusive no Brasil.