A conta negativa
As contas externas do Brasil são o tema unânime das manchetes de hoje.
Os principais jornais do País, aqueles que mais influenciam os formadores de opinião, trazem títulos alarmantes para a notícia de que, no período de janeiro a abril, a conta de todas as transações de comércio, serviços e divisas do Brasil com o exterior apresentou o pior resultado de todos os tempos.
As contas externas apresentarem um déficit recorde nos primeiros meses deste ano.
Nas páginas de economia de cada um dos jornais, o tratamento dado a esses números apresenta algumas variações, mas no geral observa-se que os três principais diários escolheram expressões mais pesadas para explicar o fato do que os jornais especializados.
Os dois principais jornais de economia e negócios registram os mesmos números, mas evitam expressões como ‘rombo’ ou ‘perda histórica’.
A impressão que pode ficar para o leitor é de que, embalados na onda de boas notícias na economia, que já dura pelo menos três anos, a imprensa perdeu o hábito de lidar com notícias nem tão otimistas.
O que se noticia hoje é que o Brasil remeteu mais dinheiro para fora nos quatro primeiros meses deste ano do que os valores que foram internalizados no mesmo período.
Os jornais também observam que o fenômeno era mais ou menos previsível e que não há motivo para preocupações.
Além de possuir reservas suficientes para cobrir o que a imprensa chama de ‘rombo’, o Brasil deverá continuar recebendo grandes volumes de investimento externo direto.
Praticamente todos os especialistas citados nas reportagens observam que se trata de uma acomodação esperada nas contas, devido à remessa de lucros de empresas e investidores e também por causa da valorização crescente e prolongada do real frente ao dólar.
Então, o leitor atento irá perguntar: se é assim, por que os títulos alarmistas?
Certamente, a imprensa se embalou demais nas boas notícias na área de economia.
Ou não consegue se livrar do vício das manchetes fortes, quando chegam as más notícias.
A política e a floresta
Os desentendimentos entre o novo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, temperados pelo sotaque exótico do ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, já causam prejuízos ao Brasil.
No caso, o País perde pelo adiamento da divulgação de dados sobre o desmatamento da Amazônia.
O novo relatório, que, segundo antecipou Carlos Minc, vai mostrar um aumento superior a 60% nos desmatamentos em Mato Grosso, era esperado por técnicos e especialistas para esta semana.
Minc aproveitou a informação, que ainda não é oficial, para fustigar seu desafeto, o governador Maggi.
Com isso, colocou um órgão científico, o Inpe, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, no meio de uma disputa política.
Para evitar um desgaste que pode afetar a reputação do órgão que dirige, o presidente do Inpe adiou por tempo indeterminado a divulgação do relatório.
Além do fato, já grave, de que um bate-boca entre personagens da política retarda o cumprimento do direito da população brasileira de receber informações sobre a Amazônia, existe um grande número de institutos, universidades e pesquisadores independentes que precisam manter atualizadas suas planilhas sobre o estado da floresta.
Por cima de tudo, resta ainda a preocupação com a repercussão internacional do fato.
O adiamento da divulgação dos números sobre a devastação da Amazônia com certeza reforça o movimento de empresas e organizações internacionais interessadas em discutir a soberania brasileira sobre a floresta.
A questão ambiental exige cuidados extremos e uma abordagem científica, longe de especulações e intrigas políticas.
Desde que a ex-ministra Marina Silva pediu demissão do Ministério do Meio Ambiente e foi indicado seu substituto, o noticiário sobre a Amazônia tem tratado mais de bate-bocas do que de informações concretas sobre a efetividade da política ambiental no Brasil.
E observe-se que Carlos Minc ainda nem tomou posse oficialmente.
De volta a 68
Aos quarenta anos, o movimento de contestação dos jovens, que se espalhou da Europa para boa parte do mundo em 1968, passa por uma revisão histórica.
O maio de 68 ficou marcado como a explosão de manifestações de inconformismo e com a eclosão do protagonismo dos jovens, que viria a provocar grandes mudanças na História.
A edição de hoje do ‘Observatório da Imprensa’ vai tratar de 1968. À meia-noite e dez na TV-Cultura, às 22:40 na TV-Brasil, ao vivo.