Manipulação de denúncias
Nos jornais de hoje alguns colunistas já julgaram e condenaram o presidente
do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Previdência, Romero Jucá.
O argumento é o seguinte: se foram alvo de denúncias, devem se afastar ou ser
afastados pelo presidente da República.
Se o raciocínio fosse válido, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, para
citar apenas um exemplo, não teria permanecido no cargo depois que seu
auxiliar Waldomiro Diniz apareceu numa gravação pedindo propina a um bicheiro,
Carlinhos Cachoeira.
Denúncia em jornal, televisão, rádio não é decisão judicial.
Nesta hora, os princípios da democracia e da justiça precisam ser
preservados. A mídia precisa manter a cabeça fria, deixar o Judiciário fazer seu
trabalho.
Principalmente no caso de Henrique Meirelles, pode haver um curto-circuito
entre os dois campos mais sensíveis. A política – porque a candidatura de Lula à
reeleição já foi lançada – e a economia. Nos dois casos, interesses políticos e
econômicos procuram sem a menor cerimônia manipular os veículos de comunicação.
Severino não foi questionado
O Alberto Dines detectou uma bobeada da mídia nessa história. Fala,
Dines:
– Mauro: os políticos fazem as suas declarações, a imprensa registra e, com
isso, imagina que cumpriu o seu contrato com a sociedade. O político fala para
mostrar-se, ficar em evidência. Antes de publicar qualquer declaração, cabe ao
repórter replicar, contestar, perguntar mais.
Ontem, por exemplo, o infatigável presidente da Câmara dos Deputados, ao ser
perguntado sobre a autorização dada pelo Supremo para a abertura de inquérito
para investigar o presidente do Banco Central, declarou que uma autoridade
enquanto está sendo investigada deve afastar-se do cargo.
Nenhum repórter lembrou-se de perguntar a Severino Cavalcanti por que razão
ele mesmo continuou no cargo quando surgiram denúncias sobre a sua atuação como
deputado.
A frase maldita
Uma coisa boa que os jornais fizeram nos últimos dias foi publicar e repetir
a frase cuja reprodução, em livro de Fernando Morais, o deputado Ronaldo Caiado,
do PFL de Goiás, tenta impedir.
Vamos fazer uma conta, ouvinte? Se o livro tiver muito êxito, venderá algumas
dezenas de milhares de exemplares. Mas os leitores de jornais se contam aos
milhões. Agora todo mundo leu o que Caiado diz que não disse.
Senador condena
O senador Jefferson Perez, do PDT do Amazonas, dá sua opinião sobre a decisão
de um juiz de Goiás de mandar apreender o livro:
– A decisão do juiz é insustentável. Num Estado de Direito é inadmissível
qualquer forma de censura. Certamente a instância superior vai anular a decisão
de primeira instância. Já houve precedente no país de pessoas atingidas por
publicações tentarem por via judicial interditar a circulação da revista e do
jornal. E todas caíram. Porque simplesmente colidem frontalmente com o princípio
constitucional da liberdade de expressão.
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aqui e ouça a entrevista completa do Senador Jefferson Perez)