A imprensa é Obama
Como era de se esperar, os jornais brasileiros se juntam à imprensa de todo o mundo na celebração da vitória de Barack Obama na eleição presidencial americana.
A despeito de algumas tentativas de análise do feito histórico, a maioria dos textos tem o tom triunfalista dos vencedores, o que também indica como a mídia acabou contaminada pela avassaladora obamamania.
Desta vez, parece que o mundo todo é democrata, anti-racista, pacifista e cheio de esperança.
O espírito da imprensa no dia de hoje pode ser resumido na frase que inicia o texto da manchete do Globo: ‘O mundo recebeu com uma onda de entusiasmo a impressionante vitória de Barack Obama, eleito primeiro presidente negro dos Estados Unidos’.
Mas não faltam os esforços para tentar esclarecer as dificuldades que se colocam diante do sonho de um mundo mais seguro e solidário.
O Estado de S.Paulo e a Folha de S.Paulo descrevem os primeiros passos do provável futuro presidente dos Estados Unidos para formar sua equipe de governo.
A leitura cuidadosa do cenário político e econômico indica que Barack Obama terá que ser muito mais do que uma esperança para não decepcionar o mundo.
O Estadão abre seu caderno especial com a observação de que a vitória de Obama foi impactante, mas a magnitude dos problemas que os Estados Unidos enfrentam não dá margem para longas celebrações.
Obama tem pressa para formar seu futuro gabinete, e líderes de várias nações insistem em que ele seja incluído nas negociações globais para o combate à crise financeira internacional.
Os jornais destacam sua disposição de ir buscar os melhores talentos disponíveis, inclusive integrantes do Partido Republicano.
Ou seja, o retrato que a imprensa nos apresenta é o de um líder conciliador, que deixa o salão no meio da festa para cuidar da realidade.
Mas a pouca idade do senador Obama e sua biografia vitoriosa não oferecem indícios para os analistas avaliarem sua capacidade para enfrentar os desafios que o aguardam.
Segundo os jornais, o processo eleitoral que conduziu Barack Obama às portas da Casa Branca, muito diferente da reeleição do atual presidente, marcada por denúncias de fraudes, parece ter retratado a vontade da maioria.
Na escolha presidencial venceu a esperança de mudanças, mas os referendos mostram que resiste em muitos Estados o conservadorismo da população, o que indica que o americano quer mudanças, mas também quer continuar americano.
Barack Obama tem a difícil missão de conduzir o rompimento com um passado recente que envergonha e reencontrar o passado profundo que fez dele a maior potência democrática do mundo.
Polícia contra polícia
No noticiário nacional, destaque amplo para a operação da Polícia Federal contra a Polícia Federal: por ordem do juiz Ali Mazloum, de São Paulo, agentes federais vasculharam imóveis habitados pelo delegado federal Protógenes Queiroz e outros policiais que atuaram na investigação que levou o banqueiro Daniel Dantas a um breve período na prisão.
O objetivo declarado da operação seria investigar possíveis abusos na chamada Operação Satiagraha.
Segundo os jornais, citando o delegado Protógenes Queiroz, trata-se de uma trama para beneficiar o banqueiro Dantas.
A história tem elementos suficientes para uma boa novela de intrigas.
Desde a rumorosa prisão do controlador do Banco Opportunity, que foi duas vezes libertado pela ação direta do president e do Supremo Tribunal Federal, a imprensa discute mais o vazamento de informações da investigação do que os supostos crimes dos quais o banqueiro é acusado.
O afastamento do delegado responsável pelo caso, ocorrido em meio a pressões de renomadas figuras da República, até hoje não foi esclarecido porque o comando da Polícia Federal se nega a divulgar o inteiro teor da reunião na qual a decisão foi tomada.
O delegado Protógenes Queiroz afirma explicitamente aos jornais que a operação de busca é mais uma manobra para desviar a atenção da imprensa e da opinião pública do processo contra Daniel Dantas.
A Folha de S.Paulo lembra que o juiz que autorizou a busca no apartamento do delegado em Brasília e no hotel onde ele se hospeda em São Paulo é o mesmo que já foi acusado de vender sentenças judiciais e que chegou a ser afastado em 2003.
O jornal paulista também registra que a ação contra o juiz Ali Mazloum foi extinta depois que o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, condedeu liminar evitando que ele fosse interrogado.
A novela não tem prazo para acabar, mas a imprensa sabe muito mais do que aquilo que está nos jornais de hoje.