Jogos e campanhas
O presidente Lula prometeu, logo após sua primeira eleição, legalizar os bingos. Em 2004, tentou proibi-los definitivamente, após o caso de Waldomiro Diniz. Waldomiro havia pedido propina a um empresário de jogos de azar. Era assessor do então chefe da Casa Civil, José Dirceu.
A tese da legalização foi defendida no início do mês pelo ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinício Petrelluzzi, em artigo na Folha. Entre seus argumentos está o de que bingos legalizados poderiam pagar uma contribuição para reforçar a verba da polícia.
Ontem, Lula disse que a decisão está com o Congresso. Em entrevista dada um mês atrás ao Observatório da Imprensa, o jornalista Márcio Chaer, editor do site Consultor Jurídico, afirmou que o Congresso não toma uma posição inequívoca a respeito do jogo do bicho, dos caças-níqueis e dos bingos porque eles são fonte de caixa dois para campanhas eleitorais. Ninguém contestou.
Clique aqui e leia a entrevista de Márcio Chaer ao Observatório da Imprensa.
Especialistas
Só o Globo dá hoje o necessário destaque à anunciada nomeação, pelo presidente Lula, de políticos do PMDB sem mandato para cargos na máquina federal. O arquiteto Luiz Paulo Conde foi indicado para presidir Furnas Centrais Elétricas. O sociólogo Wellington Moreira Franco foi escolhido para uma vice-presidência da Caixa Econômica Federal.
Não seria mais sensato nomear para cargos técnicos funcionários de carreira?
Fúria antimídia
Alberto Dines fala de um episódio de ataque desatinado à mídia.
Dines:
– A mídia deve ser observada, e, quanto mais observada, melhor para ela e para o público, para a sociedade e para o país. Mas há uma onda antimídia que está chegando às raias da paranóia. É o caso da teóloga Sandra Ferreira Ribeiro, que participa como perita da Conferência do Episcopado da América Latina que se realiza em Aparecida. Na terça-feira, ela saiu-se com esta pérola: disse que a população brasileira é contra o aborto, mas que a cobertura da mídia pró-aborto está sendo incentivada pelas grandes empresas multinacionais que pretendem usar os fetos para fazer cremes. O extraordinário pronunciamento da perita infelizmente mereceu apenas uma nota no Globo de ontem. Merecia ser destacada, para se ter uma idéia da dimensão do processo de caça às bruxas que está em curso. E não apenas na questão do aborto.
Jornalismo investigativo
Será aberto hoje à noite o 2º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, na Universidade Mackenzie, em São Paulo. Os seminários começam amanhã de manhã e se estendem até a tarde de sábado, mas na Faculdade Casper Líbero. A programação está no site www.abraji.org.br. O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo é Marcelo Beraba, que até o início de abril exerceu por três anos a função de ombudsman da Folha de S. Paulo.
Indenização
O ex-governador Anthony Garotinho foi condenado em primeira instância a pagar indenização por dano moral aos jornalistas Paulo Motta e Maiá Menezes, do Globo.
O papa e a História
Durante a visita do papa, a mídia andou na defensiva. Bento 16 mencionou, na viagem de avião para o Brasil, a possibilidade de excomunhão de políticos mexicanos que aprovaram a legalização do aborto na Cidade do México. Ontem, o arcebispo do México, Norberto Rivera, disse em Aparecida que não haverá excomunhão. A imprensa teve cinco dias de permanência do papa no Brasil para entrevistar algum prelado mexicano e só o fez ontem, oito dias depois da declaração.
A magnitude midiática do evento é de tal ordem que o senso crítico relaxa. Hoje, Nelson de Sá cita na coluna Toda Mídia, na Folha, editorial em que o jornal alemão Süddeutsche Zeitung lamenta as, abre aspas para a tradução, “fraquezas assustadoras em assuntos históricos” do cardeal Ratzinger. O alvo da crítica é a declaração do papa de que os índios da América estavam à espera do cristianismo. Segundo o jornal, em 1492, a se aceitar a fala do papa, os índios ficavam olhando o mar e pensando: “Quando nós vamos poder ser cristãos”?
No palácio
A TV Globo destacou e o Globo discreteou a respeito da demissão, pelo governador Sérgio Cabral Filho, de um coronel da Polícia Militar lotado no Palácio Guanabara. O Jornal Nacional mostrou gravação em que o juiz Ernesto Dória, um dos presos na Operação Furacão, oferece ao coronel propina para apressar o pagamento de uma indenização a sua mulher. O Dia dá em manchete de página a exoneração.