Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O chororô da lavoura
>>Cuidando da capacitação

O chororô da lavoura

A imprensa segue tentando mapear o estrago produzido pela crise financeira internacional na chamada economia real.

E embora surjam aqui e ali relatos sobre setores variados que estariam enfrentando dificuldades, o noticiário vem se concentrando na situação da indústria automobilística, com especial cuidado para a General Motors, citada por dez entre dez jornais como ícone das empresas sob risco.

Mas a soma das reportagens não completa um quadro suficientemente claro para que o leitor compreenda o tamanho do estrago que será produzido no longo prazo no seu próprio bem-estar.

Certamente até o final da semana os jornais terão condições de apresentar um balanço da situação real da economia.

Mas o modo como funciona a imprensa, extremamente dependente de informações divulgadas pelas empresas que são objeto da notícia, pode colocar sob suspeita esse diagnóstico necessário.

Muitas redações são movidas a press-releases, aqueles informes que as empresas enviam aos jornalistas através de suas assessorias de imprensa.

Além disso, é preciso levar em conta a influência de setores poderosos, como os agronegócios e o varejo, tradicionais anunciantes.

Hoje, a Folha de S.Paulo informa que o governo brasileiro precisará injetar mais dinheiro daqui a dois meses para financiar a safra 2008-2009, além dos 13 bilhões de dólares já liberados neste ano.

O Estadão informa que uma nova linha de crédito já foi aberta para agricultores do Centro-Oeste, que estão ameaçados de perder equipamentos para os bancos onde tomaram empréstimos.

A Febraban, associação de bancos brasileiros, observa que não é função do setor financeito assegurar a renda mínima do produtor.

Por outro lado, o Banco do Brasil também se manifesta contra a política de crédito agrícola, que permite intermináveis renegociações e prorrogações de dívidas rurais, com rolagens uma safra atrás da outra.

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, atuando como porta-voz dos produtores, sai a campo para criticar os bancos privados por fazerem aquilo que é de sua natureza: arrestar os bens de devedores inadimplentes.

E a imprensa, que de vez em quando apresenta aquelas belas reportagens sobre a pujança da economia rural brasileira, com fazendeiros vestidos de caubóis montados em suas camionetas de última geração, dá amplo espaço para as queixas do ministro.

Agora que a crise parece estar batendo na porteira, talvez seja hora de alguém dizer ao ministro Stephanes, porta-voz dos agricultores desamparados: ‘Isso é o capitalismo, ministro’.

Cuidando da capacitação

Muitas das críticas dirigidas à imprensa acabam resvalando na baixa qualidade do ensino do jornalismo e na profusão de faculdades orientadas mais pelo oportunismo financeiro do que pelo interesse do ensino.

Mas há uma luz no fim do túnel.

Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:

– Virou lugar-comum a afirmação de que o jornalismo mudou depois da popularização da internet. Mas nunca será demais lembrar essa obviedade quando se observa o nível da formação acadêmica dos jornalistas brasileiros, lançados em catadupas no mercado de trabalho por faculdades que no mais das vezes assemelham-se a verdadeiros shopping centers da educação. As honrosas exceções confirmam a regra.

Não se trata agora de discutir a obrigatoriedade ou não do diploma como condição prévia para o exercício profissional. Esta é uma outra – e importante – questão. O que se põe em foco é a situação bem próxima ao descalabro representada pelas lucrativas escolas superiores de fundo de quintal, habilitadas a formar jornalistas pelo país afora.

Nesta semana, dois movimentos importantes têm grandes chances de avivar alguma luz neste quadro de sombras. O primeiro: por indicação do ministro Fernando Haddad, da Educação, o professor José Marques de Melo, fundador da ECA-USP e presidente da Intercom, aceitou presidir a comissão que deverá analisar as novas diretrizes curriculares dos cursos de jornalismo, com prazo de noventa dias para encaminhar parecer ao Conselho Nacional de Educação. O segundo: de hoje até sexta-feira, na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, ocorre o sexto encontro nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, congregando os animadores do crescimento do campo científico do jornalismo no Brasil.

A preocupação oficial com os currículos e a busca da excelência acadêmica por parte de docentes comprometidos com a qualidade indicam que nem tudo está perdido nessa seara. Ainda bem.