Quem chefiou Delúbio?
Dois processos se abrem após a cassação de José Dirceu, acusado como corruptor.
Primeiro, a punição de deputados acusados de se terem corrompido e a apuração das responsabilidades do presidente da República. Se Dirceu, como disse o presidente Lula, não teve culpa, quem chefiou Delúbio Soares? Foi José Genoíno?
Segundo, a organização da próxima campanha do partido de Lula. Nesta sexta-feira, 2 de dezembro, já se encontra nos jornais bom material sobre a movimentação no PT. Mostra, sem dizer claramente, como os melhores quadros não são os mais cotados para ocupar a nova direção do PT.
Dirceu ombudsman
A imprensa levou mais bordoadas ontem na despedida de José Dirceu da Câmara. Dirceu anunciou que vai criar um site para criticar a mídia. A imprensa precisa muito da crítica. E há muito tempo. O site deste Observatório da Imprensa vai completar dez anos de existência. O problema é que Dirceu não tem isenção para ser crítico da mídia. É parte interessada. Interessadíssima.
Credibilidade dos jornais
Levantamento da Associação Nacional dos Jornais mostrou mais leitura dos jornais no Brasil entre maio de 2004 e agosto de 2005. Mas não houve crescimento notável durante a crise do “mensalão”. Em agosto último, a porcentagem de aumento da circulação foi igual à de novembro do ano passado. A pesquisa mostrou que os jornais são os veículos com maior credibilidade.
Magistratura sem liturgia
O Alberto Dines nota que o presidente do Supremo Tribunal, de quem se diz que tem planos para ser o primeiro magistrado da nação, às vezes esquece sua condição de magistrado. Fala, Dines.
Dines:
– Os jornais e telejornais estão saturados de José Dirceu. E, como sempre estão esquecendo o resto. Neste resto deve incluir-se o STF. Na quarta-feira à noite, os blogs e portais da Internet não se preocuparam em contar para os seus leitores o que aconteceu durante o julgamento do recurso dco ex-deputado na suprema corte. Só ontem, depois de consumada a cassação e para redimir-se da pífia cobertura do início do julgamento na semana passada, é que os jornais resolveram contar como transcorreu a sessão do Supremo que permitiu a cassação de Dirceu. E revelaram também a intempestiva reação do presidente do STF, o ministro Nelson Jobim. Incomodado com o noticiário e as críticas que agora começam a aparecer à sua augusta pessoa, o Chefe do Poder Judiciário esqueceu a compostura e chamou seus críticos de “néscios” e “idiotas sem modéstia”. Em outro momento, referiu-se aos “juristas que atuam como jornalistas e aos jornalistas que se imaginam juristas”.
A grande verdade é que Nelson Jobim é um magistrado que esquece que é magistrado. De qualquer maneira, a imprensa começa a prestar atenção no que se passa na suprema corte. Isso é muito animador porque a crise está longe do fim e o Supremo já não pode mais ficar na sombra.
Circo da mídia na Bolívia
O editor de Internacional do jornal El Deber, de Santa Cruz de la Sierra, Claudio Orias, propõe um roteiro para a imprensa boliviana daqui até as eleições gerais que se realizarão no dia 18.
Orias:
– Tomando em conta que a mídia boliviana tem uma diversidade de orientações, deveria ser o principal desafio oferecer ao público, que tem um escasso acesso à informação, estou me referindo à grande maioria do público boliviano, oferecer a maior quantidade de informações sobre as candidaturas e sobre as opções que ele tem para votar. Nos últimos dias tem sido o que se chama aqui de “guerra suja” que tem dominado a cobertura. Acho que é um pouco fazer o circo em torno das candidaturas para evitar precisamente evitar mostrar qual é o fundo, qual é a proposta de cada candidato. Se houver um momento para reflexão nesses 17 dias que temos ainda pela frente, acho que a orientação devia ser essa: um pouco de fidelidade ao público e um pouco mais de informação com respeito ao que é conveniente ou não fazer no dia das eleições para que cada um possa tomar sua decisão com mais conhecimento.
Tripé da violência
Elvira Lobato mostra hoje na Folha o entrelaçamento de três fenômenos no Rio de Janeiro: remoção mal-sucedida de favelas, policiais corruptos e tráfico. É um retrato da violência na região onde foi queimado anteontem um ônibus lotado.