Os dinheiros de sempre
As informações sobre doações para campanhas eleitorais permitem diferentes leituras. A Folha somou os bancos como principal bloco doador à campanha de Lula. O Valor preferiu individualizar a Vale do Rio Doce como principal empresa doadora. Esses dados mostram como se mantêm constantes os padrões de financiamento da política brasileira. O noticiário também menciona dívidas de campanha – o que alguns acham mais salutar do que sobras – e aumento dos gastos em comparação com 2002, a despeito da redução das modalidades de campanha permitidas. Essa diferença é basicamente a comprovação do peso do caixa dois na campanha passada.
Roupa suja
A briga entre o Grupo Bandeirantes e a Editora Abril tornou-se pública e assumiu via judicial. Em manchetes de jornais, o centro da polêmica seria o favorecimento, com verbas oficiais, de um filho do presidente da República. A Band diz que se trata de disputa comercial e grita contra o que chama de investida de estrangeiros no mercado brasileiro de mídia. A briga nos meios de comunicação só vaza para o distinto público quando a barra se torna muito pesada.
Placas tectônicas
Brigam empresas de TV paga e telefônicas que querem distribuir conteúdo televisivo. A NET e a associação do setor enchem a boca para denunciar ataques à concorrência leal. O tamanho das mudanças em curso é maior do que se pode depreender das notícias.
Farsa e mentira
O padrão da farsa e da mentira recebeu novo estímulo no julgamento de ontem no Senado e nos depoimentos à CPI dos Sanguessugas. A única coisa que pode livrar a imprensa de uma dolorosa sensação de impotência é apurar melhor com meios próprios.
Homens de bens
O Globo apurou em detalhes o aumento do patrimônio pessoal de parlamentares fluminenses, na reportagem “Os homens de bens da Assembléia”, ganhadora do Prêmio Esso de 2004. Prêmio maior veio agora: o Ministério Público acusou oito deputados e ex-deputados por enriquecimento ilícito.
Falsa independência
Em entrevista à Folha, o presidente da Radiobrás, Eugenio Bucci, polemiza com o ex-assessor do presidente Lula Bernardo Kucinscki a respeito do papel da empresa estatal. Bucci diz que não caberia à Radiobrás criar uma “narrativa do governo”, como sugerido por Kucinski. E, em resposta a proposta que circulou nos últimos dias, contesta a idéia de que jornais e revistas financiados pelo governo possam ser considerados mídia independente.
Jornal gratuito
O jornal gratuito Destak chega hoje ao número 100. A manchete é “Chip em carros não protege contra roubos”. Seu diretor, Fabio Santos, festeja os resultados de uma pesquisa Ipsos sobre o perfil do leitor do Destak, um leitor paulistano.
Fabio:
– Essa pesquisa mostrou para a gente que a gente está acertando a mão na produção do jornal. A gente está acertando o público-alvo. A pesquisa Ipsos mostra que 57% dos nossos leitores têm entre 18 e 34 anos. Se a gente incluir os leitores que têm entre 15 e 17, esse número vai para 65%. São jovens. Um público que está deixando de ler jornal, ou que não lia jornal. Mostra portanto que, como a gente vinha afirmando, o Destak forma novos leitores do meio jornal.
Mauro:
– Outra constatação da pesquisa, segundo Fabio Santos, é que o jornal contradiz um preconceito que está na cabeça de parte do mercado publicitário e mesmo de alguns jornalistas: a idéia de que um jornal gratuito é necessariamente um jornal para classe de renda baixa.
Fabio:
– A pesquisa Ipsos mostra que a gente tem 52% do nosso público de classe “A” e “B”. E 41% de classe “C”. Ou seja, somos um jornal da classe média de São Paulo.
Mauro:
– Também é importante saber qual é a motivação principal dos leitores.
Fabio:
– À diferença de que alguns poderiam imaginar, não é o fato do jornal ser gratuito. Apenas 10% dos leitores responderam que essa é a razão pela qual eles lêem o jornal. No entanto, 44% disseram que a principal razão é manter-se informado, ter acesso a notícias atuais. O leitor do Destak está buscando o jornal como um jornal, e não como um produto que ele recebe de graça.
(Leia aqui mais sobre o Destak.)
Imagem do país
A CNN faz reportagem que mostra mazelas conhecidas do Rio de Janeiro. Crianças de rua, insegurança, chacinas. Setores da imprensa vestem um manto de patriotismo para apontar os defeitos da reportagem. O ponto principal não é a forma de mostrar, é o que se mostra. Desancar a CNN não vai melhorar a imagem do país.