Renan investiga todo mundo
O que os jornais O Estado de S.Paulo e Folha de S. Paulo estão afirmando hoje é que o senador Renan Calheiros ensandeceu.
Os jornais paulistas dizem que, por ordem do presidente do Senado, o diretor-geral da Casa pediu à Secretaria de Controle Interno uma cópia, em papel, da prestação de contas das verbas de despesas feitas por todos os 81 senadores em 2006.
Aquilo que poderia, em outra circunstância, ser considerado uma atitude zelosa de Renan, se transforma claramente em sinal de que ele estaria se municiando para chantagear outros parlamentares e, com isso, garantir votos a favor de sua absolvição nos futuros julgamentos.
Tática do gambá
Um senador ouvido pelo Estadão observa que Renan estaria usando a “tática do gambá: espalhando mau cheiro para todo lado na tentativa de igualar todos”.
Segundo o jornal, senadores do PT desconfiam que Renan Calheiros estaria sendo aconselhado pelo deputado Jader Barbalho, do PMDB do Pará, que já foi presidente do Senado e renunciou ao mandato para escapar da cassação.
Mais um processo
Além de haver tentado investigar especificamente os senadores Demóstenes Torres, do partido Democratas, e Marconi Perillo, do PSDB, por meio de câmeras ocultas, Renan teria juntado indícios de mau uso da verba indenizatória de pelo menos dez senadores, com a intenção de mantê-los sob controle.
Essa denúncia já valeu uma quinta acusação contra o presidente do Senado, apresentada ontem à mesa diretora pelo PSDB e o Democratas, com apoio de senadores governistas e da oposição.
Saída de emergência
O cerco a Renan está se fechando de tal maneira, que sua renúncia pode acontecer a qualquer momento.
O que os jornais ainda não arriscam dizer é o que fará Renan Calheiros se for obrigado a abandonar o mandato.
Se o seu conselheiro é realmente Jader Barbalho, ele deverá renunciar o mais rápido possível, a tempo de preservar algum cacife para retomar a carreira política mais adiante.
O temor de alguns parlamentares é que, saindo Renan Calheiros de cena, o cheiro de outros gambás se torne mais perceptível.
Violência nas ruas e na tela
Os jornais destacam hoje as mortes de um casal e uma criança, provocadas por um promotor que, segundo a polícia, dirigia embriagado uma caminhonete numa estrada no interior paulista.
O Globo também noticia a prisão de um rapaz de classe média alta que dominava o tráfico de ecstazy no Rio, e o envolvimento do crime organizado no sistema clandestino de transporte coletivo.
A Folha conta o caso de policiais militares que teriam forjado provas contra uma jovem que os havia acusado de abuso sexual, e contra uma advogada de um centro de defesa dos direitos humanos que lhe dava assistência.
São três notícias que ajudam a entender o panorama da falta de segurança, principal motivo de preocupação dos moradores das grandes cidades brasileiras.
Mas as notícias de jornal não mostram o quadro completo e a opinião pública parece mais impressionada com a ficção do que com a realidade.
Dines:
– Quase duzentas mil pessoas já assistiram ao filme Tropa de Elite no lançamento no Rio e em São Paulo. Na próxima sexta, o filme entra em 300 salas de cinema de todo o país. Vai estourar novamente. Isto sem falar nos milhares que já viram o filme em cópias pirateadas. É um fenômeno de bilheteria e, sobretudo, um fenômeno em matéria de impacto. O filme mobiliza as platéias, substituiu-se ao debate político, impôs-se como prioridade. Além de ser muito bem feito, trata do problema que mais preocupa os brasileiros – a violência. Curiosamente, apesar de calcada em situações reais, concretas, trata-se de obra de ficção. A mídia acompanha há anos os mesmos temas através dos jornais, revistas, rádio e televisão, porém jamais produziu tamanha comoção, a favor ou contra. Isso significa que a mídia não está conseguindo retratar a realidade e esta só se impõe através da ficção? Esta é uma das questões que serão discutidas na edição de hoje à noite do Observatório da Imprensa com a participação do diretor do filme e um dos autores da história. Às dez e quarenta, ao vivo, nas redes Cultura e TV-E.
Luciano:
Barganha no Congresso
O governo teve que negociar com a oposição para garantir a votação da CPMF no Senado, prevista para acontecer ainda nesta terça-feira.
Segundo o Globo, o item que saiu da pauta foi o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania.
Chamado de PAC da Opinião Pública, o plano previa a destinação de auxílio financeiro para jovens reservistas das Forças Armadas, que se tornariam agentes sociais ao deixar o serviço militar.
Também criava bolsas para jovens infratores ou em situação de risco e previa pagamento para mães que são líderes comunitárias.
O leitor fica no escuro
O programa era tido como uma extensão de outros projetos sociais que têm sido bem avaliados em seminários internacionais, num modelo desenvolvido no Brasil e no Méxido e recentemente adotado pela prefeitura de Nova York.
O Globo observa que se tratava da mais ambiciosa ação governamental destinada a atacar as causas da violência urbana.
O Pronasci, sigla que define o programa, era composto originalmente de 98 ações coordenadas, com o objetivo de retirar milhares de jovens das áreas de influência do crime organizado.
Era elogiado por ONGs, organismos internacionais e até por parlamentares da oposição.
A reportagem do Globo não explica as razões pelas quais a oposição exigiu que o programa fosse mutilado em troca da continuidade da votação da CPMF. O leitor fica sem saber se o governo tem outros recursos no bolso do colete, se vai aprovar apenas o esqueleto do projeto e recheá-lo depois com os programas originais, ou se vai ficar por isso mesmo.
Quem perde
Os outros jornais não perceberam a importância do tema.
O Estado de São Paulo e a Folha fizeram apenas um pequeno registro, perdido em meio ao noticiário sobre fatos policiais.
É possível que o projeto original seja recomposto, através de projetos de lei, mas a retirada da pauta teria dado hoje uma grande oportunidade para a imprensa oferecer aos seus leitores uma reflexão sobre soluções para as causas da violência.
Quem perde são aqueles que perderam sempre.