Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Uma decisão histórica
>>O espetáculo do debate

Uma decisão histórica


A evidente manchete em toda imprensa nacional, nesta sexta-feira, dia 6, é a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconhece as relações homoafetivas como uma nova espécie de família.


Os jornais foram buscar todo tipo de opinião, desde juristas a representantes de crenças religiosas, para debater a extensão de direitos civis a parceiros do mesmo sexo que vivem em concubinato.


A partir da votação unânime do Supremo, parceiros de mesmo sexo que vivem juntos passam a ter direitos familiares iguais aos dos casais heterossexuais, como o de adotar filhos legalmente, receber pensão alimentícia, herança em caso de morte do companheiro ou companheira, partilhar plano de saúde e a declaração do Imposto de Renda.


De maneira geral, a imprensa tratou a notícia do ponto de vista mais progressista, evitando contemporizações com manifestações retrógradas como a que celebrizou recentemente o deputado Jair Bolsonaro.


Mas a própria decisão da Suprema Corte impõe aos jornalistas alguns desafios inéditos.


A começar pela nomenclatura.


Pode-se, por exemplo, usar a palavra concubinato para definir a situação legal de duas pessoas do mesmo sexo que vivem juntas?


É correto dizer, como fazem os jornais, “casal homossexual”? Ou seria mais correto chamar de “dupla”?


Como conciliar os conceitos de orientação sexual e compleição sexual dos indivíduos?


Varrendo-se para um lado as inevitáveis manifestações dos representantes eclesiásticos, que nunca vão aceitar a separação entre igreja e Estado, é interessante observar como a decisão histórica foi recebida por diferentes jornais.


O Globo foi o que deu o material mais extenso, distribuindo as reportagens ao longo de quatro páginas.


Por outro lado, são claras as distinções entre as coberturas do Estadão e da Folha de S.Paulo, esta claramente mais festiva e colorida.


Também não faltaram referências ao fato de que foi preciso o Judiciário se manifestar em tema sobre o qual o Legislativo vem se omitindo há anos.


A decisão histórica do STF coloca o Brasil em pé de igualdade com as dezesseis nações do mundo que já tomaram posição sobre a igualdade de direitos independentemente de orientação sexual.


Mas também escancara a desigualdade de opiniões que marca a sociedade brasileira em torno de questões básicas como os direitos civis.


Nessa disputa, o Brasil contemporâneo ganhou um round, mas o conservadorismo ainda rosna em instituições e personalidades de muito prestígio junto à imprensa.


O espetáculo do debate


Alberto Dines:


– Osama Bin Laden jamais poderia imaginar que a sua morte provocaria um dos mais intensos debates das últimas décadas. O antidemocrata está na crista de uma onda democrática. A eliminação do líder político que detestava o exercício da política e jamais participou de uma discussão pública, está produzindo uma erupção planetária de questionamentos e controvérsias.


A começar pelo país que ele mais humilhou em 11 de setembro de 2001. Onde a mídia é livre, ela ferve, cobra, pergunta. Por causa de Bin Laden. Onde os cidadãos gozam de liberdade para expressar-se, manifestam-se abertamente sobre Bin Laden ou sua morte.


O terrorista nº 1 provocava medo, mesmo entre correligionários, mesmo entre os fanáticos que tentavam encontrar alguma validade nas suas loucas proposições. Sua morte produziu uma sensação generalizada de alívio e este alívio resultou neste magnífico fórum mundial onde todos se sentem autorizados a opinar. Inclusive sobre o castigo que lhe foi imposto.


Bin Laden, símbolo da repressão, depois de morto passa a funcionar como válvula de descompressão. O terrorismo não foi liquidado,  mas está sendo intensamente confrontado por aqueles que poderiam ser as suas vítimas. O debate produz milagres, pena que a China, Irã, Síria, Venezuela, Angola e Cuba dele não possam beneficiar-se.