Meio ambiente
Só o Estadão leu o projeto
O Estado de S.Paulo é o único dos grandes jornais brasileiros que dá destaque, nesta quinta-feira, à aprovação da nova lei que cria a política nacional do lixo.
Outros jornais, como a Folha de S.Paulo, enxergaram notícias menos importantes sobre a questão ambiental urbana, como a decisão da Câmara Municipal paulistana de estabelecer multas pesadas para empresas e pessoas que deixarem lixo, entulho, carros abandonados e resíduos nas ruas.
O critério para a definição do que é ou não importante no problema ambiental urbano revela o quanto os editores ainda podem estar alheios ao tema da sustentabilidade.
O projeto de lei que consolida uma política nacional para os resíduos sólidos foi aprovado no Senado, após uma tramitação de quase vinte anos.
O texto estabelece o princípio da logística reversa, que deverá afetar enormemente os processos industriais e, no longo prazo, a própria escolha de materiais e substâncias nos quais os departamentos de pesquisa e desenvolvimento irão investir.
Trata-se do princípio segundo o qual as empresas se tornam responsáveis pelo destino dos resíduos não degradáveis de tudo que produzem.
Dessa forma, pneus, pilhas, baterias e componentes de equipamentos eletroeletrônicos deverão retornar para as empresas que os produziram ou colocaram no mercado – sejam fabricantes, importadores, distribuidores ou o comércio – para que tenham a destinação adequada após o período de utilidade.
A lei também proíbe a importação de produtos que possam deixar resíduos sólidos perigosos para o meio ambiente e a saúde, e também torna ilegal o lançamento desses descartes em lixões a céu aberto.
Por outro lado, foram criados incentivos para a fabricação de embalagens com materiais que possam ser reciclados ou reutilizados.
A lei ainda prevê o estímulo à formação de cooperativas de coletadores e recicladores de lixo, o que deve impulsionar programas de promoção social, com redução do alcoolismo e dependência química desses trabalhadores.
Especialistas ouvidos pelo Estadão destacam a importância do projeto, que depende apenas de ser sancionado pelo presidente da República para se transformar em lei.
Enquanto isso, na zona rural…
O conceito da logística reversa, que responsabiliza os produtores, importadores, distribuidores e comerciantes pelo destino final de máquinas, utensílios e equipamentos que produzem resíduos perigosos, é um sinal dos tempos em termos de política industrial e ambiental.
Atualmente, segundo o jornal paulista, 43% dos resíduos coletados no Brasil têm destinação inadequada.
Boa parte desse material polui rios e córregos e contribui para os ciclos desastrosos de enchentes nas cidades.
Os resíduos sólidos são o maior problema ambiental do Brasil.
Mas trata-se de assunto indiretamente correlato à defesa das riquezas naturais.
Nos debates produzidos pelo noticiário da imprensa, inclusive neste Observatório, é muito comum a confusão entre o problema urbano do descarte de lixo e a questão da preservação do patrimônio ambiental.
Essa confusão tem contaminado principalmente os debates em torno da proposta de mudanças no Código Florestal.
A bancada ruralista e seus apoiadores costumam misturar os temas, usando o argumento torro de que o problema maior está nas cidades, para justificar a flexibilização do controle do desmatamento.
Mas, como diz o técnico Vanderlei Luxemburgo, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.
Ao dar destaque, com ampla explicação, para a legislação que cria o Programa Nacional de Resíduos Sólidos, o Estadão ajuda a separar os dois temas, apesar de claramente privilegiar a bancada ruralista no noticiário sobre o Código Florestal.
A Folha de S.Paulo e o Globo costumam dar mais espaço para a diversidade de opiniões no que se refere à necessidade de conciliar o desenvolvimento econômico com o crescimento da produção agrícola.
Nos outros meios, destaca-se estranhamente a Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, que se engajou numa campanha explícita contra o Código Florestal.
No que se refere ao problema urbano, a nova lei de resíduos sólidos cria um arcabouço moderno e eficiente para a defesa dos interesses da população.
No caso da proteção ao patrimônio ambiental, o Brasil ainda corre o risco de andar para trás, sob os aplausos de grande parte da imprensa.