Aproximação duvidosa
Alberto Dines:
O presidente Lula acordou ontem disposto a marcar as grandes diferenças entre o seu primeiro e segundo mandato. E em matéria de relações com a imprensa conseguiu muita coisa em apenas 24 horas: contrariando o seu antigo distanciamento dos jornalistas, ontem o presidente Lula apareceu ao vivo em todos os telejornais noturnos com entrevistas exclusivas. Bom sinal. A próxima etapa deve ser marcada pela franqueza, transparência. Se a mídia faz a ponte com a sociedade é evidente que a sociedade precisa saber o que o presidente pensa da mídia. No debate da Record na semana passada, o presidente mandou um recado construtivo, otimista. Ontem, através do seu pitbul preferido — o ministro Ciro Gomes — veio um recado meio truncado, na direção contrária: é preciso democratizar os meios de comunicação. Acontece que a mídia impressa é autônoma, mas a mídia eletrônica depende de concessões públicas. Sua qualidade, grau de abertura ou democracia dependem do Estado e nele compreendidos o Executivo e o Legislativo. Portanto, quem falhou nesta suposta insuficiência democrática foi o Estado brasileiro. É preciso registrar também que foi no primeiro mandato do presidente Lula que o seu aliado José Sarney conseguiu inutilizar o Conselho de Comunicação Social, fórum legítimo para discutir e encaminhar soluções para os problemas da mídia brasileira. No fim de um dia festivo e auspicioso, ficou a impressão de que será preciso decidir quem fala em nome do presidente a respeito da imprensa. O ideal seria que fosse ele mesmo. E sem intermediários. O assunto é sério demais para bravatas.
Este será o assunto da edição de hoje à noite do Observatório da Imprensa. Pela TV-Cultura, às onze e quarenta e cinco. Pela rede da TV-E, ao vivo e mais cedo, às dez e quarenta.
Democratizar a internet
Vilson Vedana, consultor legislativo da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, fala da possibilidade de todos os meios de comunicação convergirem na internet.
Vedana:
– A convergência tecnológica vai causar uma grande transformação, seja no setor de telecomunicações, telefonia, banda larga, internet, seja na questão da radiodifusão e da televisão, porque se até alguns anos atrás o meio de comunicação era o telefone, nos próximos anos o meio de comunicação que todas as pessoas vão querer ter será a internet. E numa internet com banda larga será possível colocar todos os outros meios de comunicação. Uma das possibilidades é que tudo convirja para a internet.
Mauro:
– O consultor tem uma proposta para utilização do Fust, fundo criado por Fernando Henrique Cardoso que o governo federal jamais aplicou.
Vedana:
– O governo deve utilizar os recursos do Fust, do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações, que já são quase cinco bilhões de reais, para disseminar a internet, para fazer com que a internet seja acessível a todos. E hoje, com sistemas de internet sem fio, é possível fazer chegar a internet a um custo bastante razoável. No Brasil nós temos uma situação em que só quem é provedor de acesso à internet no Brasil são as telefônicas e as TVs por assinatura, que dominam mais de 99% dos acessos. Nos países onde já existe efetivamente uma concorrência, os custos são muito mais baixos.
Mauro:
– Vilson Vedana esboça um modelo semelhante ao da atual TV aberta em que a internet seria o canal de convergência dos meios de comunicação.
Vedana:
– Se a gente simplificasse muito, nós temos aí 50 reais de custo do telefone ou da TV a cabo, mais 50 da banda larga, e digamos que a pessoa financie o computador a perder de vista, são mais 50. Então, são 150 reais. Cento e cinqüenta reais, para mais da metade da população brasileira, é algo impossível. Não há essa renda a ser gasta, mesmo que seja para ter acesso a um serviço importante como ter acesso à internet. Como o custo está baixando, de fornecimento de banda larga sem fio, o governo, com algum esforço, pode criar sistemas públicos de acesso à internet e oferecer isso gratuitamente.
Mauro:
– A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados vai discutir esse tema daqui a uma semana, no dia 7 de novembro, no seminário Internet para todos – uma estratégia focada nos municípios.