Uma pauta de miudezas
A absolvição do senador Renan Calheiros por seus pares ainda não foi absorvida pela imprensa.
Embora o assunto Renan tenha praticamente desaparecido após a sessão de terça-feira, os jornais fazem referência ao conjunto de barganhas que movimentaram o Senado nos últimos meses durante os processos contra o ex-presidente da casa.
Alguns resquícios das manobras, pressões e chantagens ainda afetam a agenda política.
O principal tema que ainda é influenciado pelo período de Renan Calheiros à frente da mesa diretora do Senado é a CPMF, mas em todos os assuntos que o governo considera relevantes, a relação com a oposição, e – em alguns casos – até mesmo com a bancada aliada, acabou azedando.
Ninguém é capaz de prever quanto dura a dificuldade de relacionamento e o quanto isso pode afetar os planos do governo submetidos ao Parlamento, mas a imprensa bem que podia assumir a agenda e colocar em pauta certos temas importantes.
Por exemplo, a questão da reforma tributária, muitas vezes adiada e praticamente engavetada durante as disputas em torno da proposta de prorrogação da CPMF.
Esse tema poderia ser retomada se a imprensa se interessasse em dar visibilidade aos protagonistas corretos.
Da mesma forma, certas atribuições do Judiciário, como o julgamento de casos administrativos ligados à Previdência Social ou a débitos do Estado, poderiam ser incluídas numa mini-reforma do sistema.
A imprensão não faz parte dos poderes constituídos, mas tem certo mandato informal e pode fazer pender a política para o lado do interesse público.
Quando querem, quando o assunto interessa aos editores, os jornais transformam miudezas em grandes temas.
É hora de tirar os grandes assuntos da gaveta das miudezas.
Vergonha compartilhada
A quem compete a tarefa de educar nossas crianças?
Poucos discordariam da afirmação de que políticas educacionais são parte das tarefas do Estado.
No entanto, não seria absurdo afirmar que a missão de educar deve pertencer a toda a sociedade.
Quando se trata de treinamento para a leitura, então, a parte que compete à imprensa deve ser levada em conta, ainda com mais razão.
A recente divulgação do baixo desempenho de estudantes brasileiros numa comparação com alunos de outros países mostra que a imprensa se afasta dessa co-responsabilidade.
Esse é o tema de hoje de Alberto Dines:
– A culpa é sempre dos outros, a mídia nunca veste a carapuça.
Ontem os jornalões espernearam contra o baixo desempenho de nossos alunos no ranking internacional de compreensão de leitura.
Todos, sem exceção, caíram em cima das autoridades estaduais ou federais da área da educação.
O Estadão, seguindo a paranóia privatista, chegou a aventar a hipótese de que um ranking só com alunos da rede privada deixaria o país em vigésimo sétimo lugar e não no vexatório quadragésimo nono do conjunto de escolas.
A mídia não teria uma parcela de responsabilidade na incapacidade de nossas crianças e jovens em entender o que lêem? Alguém já abriu o Globinho, o Estadinho e a Folhinha, cadernos infantis dos sábados, para verificar a qualidade dos seus textos?
E a Folhateen, das segundas-feiras, estimula os adolescentes a refletir sobre o que lêem ou é apenas uma convocação para modismos e consumismo juvenis?
A imprensa é uma importante ferramenta de fomento de leitura, o desleixo e a pobreza de seus textos vão aparecer lá adiante, na sala de aula. Conviria que treinasse um mea-culpa.