Tudo certo, nada esclarecido
Terminado o último debate e praticamente encerrada oficialmente a campanha nos meios de comunicação – praticamente, porque no caso da imprensa brasileira tudo pode ser esperado – o cidadão faz um balanço e constata que pouco ou nada sabe sobre os planos de governo dos candidatos mais bem colocados na disputa.
Com exceção do presidenciável do PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que em todos os encontros assumiu o papel de animador de auditórios, repetindo o seu bordão sobre a dívida pública e a privatização da Petrobrás, pode-se dizer que pouco se esclareceu sobre o que imaginam os políticos e seus partidos para o futuro do Brasil.
Da candidata Dilma Rousseff deve-se esperar a continuidade do atual projeto de governo – o que parece suficiente para a maioria do eleitorado, a julgar pelos altos índices que lhe dão as pesquisas de intenção de voto.
Do ex-governador José Serra, que passou boa parte da campanha anunciando projetos grandiosos, sem no entanto alinha-los numa estratégia clara, há de se convir que costurou uma trajetória errática, desprezou a herança dos dois mandatos que seu partido teve no governo federal e não conseguiu dizer em que um eventual governo seu mudaria as escolhas do Brasil.
Da ex-ministra Marina Silva, pode-se observar que não conseguiu ir além do discurso ambientalista, e quando mergulhou no tema sustentabilidade faltou carisma para encantar o eleitorado.
Não estamos falando da propaganda gratuita, na qual os candidatos cumprem o roteiro definido por seus assessores de campanha, mas de como os candidatos se apresentaram ao público através da imprensa, ou de como a imprensa selecionou as manifestações dos candidatos.
Quanto a isso, pode-se afirmar que o eleitor vai às urnas sem conhecer as melhores reflexões dos contendores, porque o noticiário passou longe de planos de governo e de compromissos de longo prazo.
Até mesmo na imprensa, o que se viu foi basicamente propaganda em lugar da informação.
A imprensa tradicional sai apequenada dos debates acalorados, porque claramente pendeu para um dos lados – e apenas um dos grandes jornais fez sua declaração de voto – e não se interessou em trazer para a agenda pública os temas essenciais.
A melhor exceção foi o Estadão, com seus cadernos semanais sobre os desafios do Brasil, que no entanto não fez mais do que apresentar diagnósticos.
Mas o poder Judiciário sai ainda mais chamuscado, por sua indecisão no caso da Lei da Ficha Limpa e pelo episódio – revelado pela Folha de S.Paulo – da conversa telefônica entre o ministro Gilmar Mendes e o candidato José Serra.
Vamos às urnas mais uma vez sem garantias de que serão realizadas as reformas de que o País precisa.
Mas temos muito que comemorar: vamos às urnas mais uma vez.
Quem manda são os marqueteiros
Alberto Dines:
– Mais um debatóide – debate de mentirinha. O quinto e último encontro televisivo dos presidenciáveis, além de frustrante foi enganoso. Os principais adversários prometeram discutir propostas e entregaram embromação. Curvaram-se aos marqueteiros – estes poderosos manipuladores da vontade popular – e evitaram arriscar-se. Não se enfrentaram, usaram os candidatos com menos votos como palanque para as suas pregações.
Na verdade quem freqüentou os palanques foi o presidente da República e os meios de comunicação, porque os postulantes estavam em outra. O eleitor vai acionar a urna no próximo domingo tão preparado e tão consciente quanto os ministros do Supremo, que três dias antes das eleições mais uma vez desautorizaram a Justiça Eleitoral e mudaram drasticamente a legislação vigente.
Pior do que o debate fictício de ontem à noite na TV Globo foi a irresponsabilidade da mais alta corte ao tornar sem efeito a antiga exigência do título eleitoral. Em seu lugar, os meritíssimos querem apenas um documento oficial com foto.
A população correu para cumprir uma determinação da lei e na véspera do pleito é informada que não era para valer. Ao que tudo indica neste país nada é para valer. O que vale é a encenação. Estas eleições foram alimentadas por factóides, debatóides, pesquisóides e, sobretudo, um plebiscitóide. Tudo fingido.