A Bolívia não pode mais ser ignorada
A imprensa brasileira aprendeu com o Primeiro de Maio do ano passado na Bolívia, quando o presidente Evo Morales, para surpresa geral, nacionalizou refinarias e mandou tropas ocupá-las. Agora a cobertura é mais atenta. Em outras épocas, o conturbado processo político da vizinha Bolívia, poderia ser relegado a notícias secundárias. Depois da construção do gasoduto que une os dois países, a dependência brasileira se tornou crítica. Mas isso também ajuda a Bolívia, cujo drama social e político não pode mais ser ignorado.
Surgirá outro Frias?
Alberto Dines anuncia que a edição de hoje à noite do programa de televisão do Observatório da Imprensa procura responder a perguntas deixadas pelo desaparecimento de Octavio Frias de Oliveira.
Dines:
– Pode-se esperar o aparecimento de um novo Octavio Frias de Oliveira? As empresas jornalísticas brasileiras reúnem as circunstâncias capazes de fabricar outro empresário audacioso e discreto, intuitivo e, ao mesmo tempo, atento ao que lhe dizem? A história não se repete, os seres humanos são criações singulares, peças exclusivas, dificilmente clonáveis. Assis Chateaubriand foi único, mas também Roberto Marinho e Octávio Frias. Os três construíram grandes impérios, mas o de Chatô soçobrou quando ainda estava no comando. Samuel Wainer e Carlos Lacerda vieram diretamente das redações, forjados pelo clima político pré e pós 2ª Guerra Mundial. A velocidade das transformações permitirá a consolidação de novos impérios jornalísticos? A imprensa tem futuro diante da blogosfera tão fragmentada? O novo formato das empresas será capaz de fabricar novos líderes? A edição de hoje à noite do Observatório da Imprensa talvez responda a algumas destas perguntas. Às onze e quarenta na TV-Cultura. Mais cedo, às dez e meia e ao vivo, na TV-E.
Independência impõe respeito
Uma grande lição brota do noticiário sobre o sepultamento de Octavio Frias de Oliveira: sua estratégica empresarial e jornalística de lutar pela independência da Folha de S. Paulo produziu na cerimônia de ontem, e nas páginas do jornal, hoje, a reunião de amplo espectro da vida política paulista e brasileira. A independência, quando se sustenta num patamar de qualidade jornalística, não isola. Muito ao contrário, tende a provocar convergências ditadas pelo respeito ao interlocutor que assume o papel de defensor de interesses amplos da sociedade. Todos os meios de comunicação usam esse discurso, poucos o honram.
Telefônicas
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, fala em apoio do governo para que pelo menos uma grande empresa de telefonia permaneça sob controle de capitais brasileiros. Alguns poderão ver nisso um ímpeto intervencionista. Mas o governo italiano, segundo noticiou ontem o Wall Street Journal, não deixou que a Telefônica, cuja base é a Espanha, se tornasse majoritária no controle da Telecom Itália. Promoveu um arranjo mediante o qual a soma dos acionistas italianos continua majoritária, embora a Telefônica detenha a maioria relativa das ações.
Essas precauções são importantes. Telefonia é tão essencial quanto qualquer outro serviço público. Se as sedes de todas as companhias ficam fora do país, juridicamente o governo nacional fica com seus movimentos limitados.
Fidel e etanol
O jornal oficial de Cuba, o Granma, publica hoje mais um artigo do comandante-em-chefe do país, Fidel Castro. Na negativa com que abre o texto, “Nada me move contra o Brasil”, está feito o preâmbulo para críticas. E elas têm relação com o uso de cana-de-açúcar para produzir álcool combustível. Fidel faz uma longa digressão na qual remonta a sete mil anos atrás. Chega às condições de trabalho dos cortadores de cana brasileiros. Narra sua própria experiência na colheita cubana de cana, especialmente em 1969, quando tinha 44 anos de idade.
Fidel critica a febre do etanol, mas não defende o petróleo. Defende uma revolução energética que não apenas substitua as lâmpadas incandescentes mas igualmente todos os equipamentos domésticos, industriais, comerciais, de transporte e de uso social que empregam energia em excesso.
Nestlé e etanol
Bem longe de Cuba, o presidente da Nestlé, Peter Brabeck, em entrevista ao jornal suíço Tages Anzeiger, soma-se a Fidel Castro. Brabeck, segundo notícia publicada no Estadão, questiona o investimento crescente no etanol, especificamente a partir do milho, porque para produzir 1 litro de bioetanol são usados 4,5 mil litros de água. O presidente da Nestlé acusa o setor agrícola de ser um dos que mais desperdiçam água, o que é pura verdade.