Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>O fio da meada
>>Aspas não são gazua

O fio da meada


O Globo repõe hoje o noticiário no ponto de partida da crise. Maurício Marinho, o ex-funcionário dos Correios, confirmou à Polícia Federal, em troca de refresco, a simbiose de interesses escusos do PTB do ainda deputado Roberto Jefferson e do PT do ainda deputado José Dirceu na estatal.


Entendimento precário


Assim como o equipamento intelectual do PT não deu conta de ser governo, desde a primeira prefeitura, a realidade brasileira escapa ao entendimento não apenas dos especialistas universitários, mas principalmente das cabeças de redações.


Vê-se de tudo: desde uma certa reverência ao discurso do senador José Sarney, que era nunca foi um luminar da formulação política, até a incapacidade de ligar os fatos. A reação nesta quinta-feira, 18 de agosto, à esperada manutenção dos juros pelo Banco Central é um repeteco acrítico do jornalismo declaratório, menos de indivíduos e mais de atores coletivos, como “analistas”, “empresários” e “sindicatos”.


Não houve uma só boa alma que fizesse a seguinte pergunta: já pensaram o que teria representado o Banco Central baixar os juros básicos, e isso sinalizar fraqueza, no mesmo dia em que foi preso um amigão do ministro Palocci?


Aspas não são gazua


O Alberto Dines questiona o abuso das aspas no jornalismo.


Dines:


− Mauro, eu queria retomar o comentário que você fez ontem a respeito das declarações do doleiro Toninho da Barcelona à delegação da CPI. Os parlamentares foram indiscretos mas a imprensa foi leviana. A imprensa está abusando das aspas como ferramenta de trabalho e não percebe que pode estar consagrando um tipo de jornalismo perigoso.


Difícil acreditar que uma imprensa que vem sendo treinada há três meses neste curso intensivo escândalos ainda não tenha aprendido a resistir à tentação de publicar qualquer coisa desde que venha entre aspas. Ora, o depoente é um infrator condenado a 25 anos de prisão, não tem o benefício da dúvida. Liminarmente suspeito, sua credibilidade é igual a zero. Mas tem todo o direito de acusar. A imprensa é que não tem o direito de veicular suas acusações sem provas.


As manchetes de ontem reproduzindo as denúncias do doleiro envolvendo um ex-ministro e dois ministros, supostamente inocentes, estão muito próximas da irresponsabilidade. As denúncias esquentaram o noticiário, mas quem disse que é legítimo esquentar o noticiário desta maneira? Aspas servem para a pontuação na linguagem escrita, não são atestado de verdade.


Anônimos e notórios


De fato, Dines, é um escândalo jornalístico o que tem sido feito com aspas. E não só no Brasil. Pelo mundo afora. A revista The Economist, por exemplo, apela ao recurso maroto de dar entre aspas declarações de fontes não identificadas.


Aspas indevidas podem ser usadas também para declarações públicas, como se viu no noticiário do sábado passado sobre o discurso do presidente Lula. Reproduzir suas palavras entre aspas em manchetes foi uma das barbeiragens jornalísticas da temporada.


Grandes lambanças da cobertura do “mensalão”


Por falar em barbeiragens: quem se lembra de uma denúncia feita no Jornal Nacional em 11 de julho a respeito de pagamento de mensalidades para políticos pela Firjan, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro? O telejornal mostrou gravações de 2004 em que uma auditora do INSS dizia a uma colega que, em troca de não haver fiscalização em determinadas empresas, José Dirceu e Delúbio Soares recebiam mesada.


A história estapafúrdia era requentada. Tinha sido noticiada pela primeira vez no início de maio, quando a auditora Maria Auxiliadora de Vasconcelos foi presa, e negada imediatamente tanto pela Firjan como pelo Ministério Público. Nunca mais a Rede Globo, ou qualquer outro veículo de comunicação, tocou no assunto.


A fraude houve, provocou um rombo calculado em R$ 3 bilhões, o quadro associativo da Firjan não é uma tropa de escoteiros nem um convento, mas ninguém entendeu como é que Dirceu e Delúbio entraram na história. Eles já estão metidos em trapalhadas suficientes. Não é preciso inventar.


O vôo da Varig


Onde foi parar o plano de redenção da Varig, insistentemente noticiado ao longo de maio, junho e julho? Agora anuncia-se a possível venda da VarigLog, de transportes de cargas. A pergunta básica continua sem resposta: quem vai pagar as dívidas da empresa? O contribuinte?



Iguais perante a lei


Um leitor do blog do Observatório no rádio (ver comentário ao programa 75, abaixo) pede para o PT o mesmo tratamento dado às direções da Schincariol e da Daslu. Faz sentido.