Cacciola vem aí
Diz-se nas redações que o bom jornalista, além de talento e competência, precisa ter sorte.
Pois a imprensa brasileira acaba de ganhar um presente da Corte de Apelação do Principado de Mônaco: o ex-banqueiro Salvatore Cacciola deverá ser extraditado no prazo máximo de um mês.
Pivô de um dos muitos escândalos que envolvem o dinheiro público na nossa história recente, Cacciola está condenado no Brasil a mais de dezessete anos de prisão, em vários processos.
Sua presença entre nós será um prato cheio para a imprensa.
A soma de seus problemas inclui lavagem de dinheiro, porte ilegal de arma e empréstimos fraudulentos, mas o grande interesse da imprensa se deve ao seu papel central no episódio da maxidesvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999.
O escândalo rendeu condenações para o então presidente do Banco Central Francisco Lopes e ex-diretores da instituição.
Todos já cumpriram parte de suas penas e estão em liberdade há muito tempo. Cacciola foi beneficiado por um habeas-corpus depois de passar 37 dias numa carceragem do Rio de Janeiro, e fugiu para a Itália.
O caso sumiu da imprensa e muitos detalhes ficaram sem elucidação, até que ele foi preso quando passeava no Principado de Monaco.
Dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola vivia se gabando de contar com fontes privilegiadas no Banco Central e apostou até o fim contra a possibilidade de desvalorização da moeda brasileira.
Quando a decisão foi tomada, seu banco foi apanhado na contramão. Ele havia bancado que a política cambial não iria mudar, tinha assumido compromissos de entrega de 1 bilhão e duzentos milhões de dólares no mercado futuro e não tinha fundos para honrar os papéis. Consta que ele chantageou autoridades monetárias, mas esse detalhe nunca chegou a ser esclarecido.
O episódio que deve despertar o maior interesse da imprensa é a operação de socorro montada pelo Banco Central para impedir a quebra do banco Marka: o Tesouro Nacional lhe vendeu dólares a preços inferiores ao mercado, tomando um prejuízo de 1 bilhão e meio de reais.
A alegação de que a intenção do BC era preservar o sistema financeiro nunca convenceu os analistas.
Quando o escândalo aconteceu, já fazia quatro anos que o governo Fernando Henrique havia criado o Proer, fortalecendo o setor.
Cacciola vem aí.
Quando a CPI dos Cartões Corporativos começa a ficar sem atrativos, a imprensa vai ganhar mais uma fonte de entretenimento.
Quando o jornalista é notícia
Um jornalista é preso com drogas.
Acusado de tráfico, pode se tornar protagonista de outros assuntos, como a concorrência entre duas poderosas redes de televisão.
Alberto Dines:
– A prisão do jornalista Roberto Cabrini da TV-Record por tráfico de drogas deve ser discutida com seriedade, distanciamento e responsabilidade. Em primeiro lugar, convém levar em consideração que a acusação de tráfico de drogas decorreu da negativa do jornalista em admitir que é usuário. Já que não é usuário, tem que ser obrigatoriamente traficante? Se um policial à paisana é pego em flagrante com papelotes de cocaína não pode alegar que estaria tentando infiltrar-se no sistema de distribuição da droga? A informação prestada pela Rede Record de que seu funcionário trabalhava numa reportagem não é suficiente para garantir ao profissional o benefício da dúvida? E a informação da ex-namorada do jornalista garantindo que ele consumia drogas não invalida a tese de narcotráfico? É evidente que a mídia não pode escamotear a informação de que o jornalista foi preso e as circunstâncias em que o fato ocorreu, mas é preciso escapar tanto do viés solidário como das disputas comerciais que envolvem as principais redes de TV. A imprensa brasileira está passando por um dos seus momentos mais difíceis. Por um lado, temos certas esferas governamentais incomodadas com a pressão da mídia no caso dos cartões corporativos, além disso certas parcelas da opinião pública estão indignadas com a cobertura do assassinato de Isabella Nardoni que consideram preconceituosa e sensacionalista.
Basta ver os resultados da urn@ eletrônica do site do Observatório da Imprensa com a cifra recorde de quase 16 mil votantes em pouco mais de 24 horas. E como se não bastasse, temos conhecidos jornalistas engalfinhados nos respectivos blogs e através da justiça em questões pessoais e morais que acabam inevitavelmente respingando na nstituição. Jornalistas não podem colocar-se acima do bem e do mal.
Mas jornalistas não têm o direito de ignorar que podem estar sendo usados para desacreditar o jornalismo.
Diz-se nas redações que o bom jornalista, além de talento e competência, precisa ter sorte.
Pois a imprensa brasileira acaba de ganhar um presente da Corte de Apelação do Principado de Mônaco: o ex-banqueiro Salvatore Cacciola deverá ser extraditado no prazo máximo de um mês.
Pivô de um dos muitos escândalos que envolvem o dinheiro público na nossa história recente, Cacciola está condenado no Brasil a mais de dezessete anos de prisão, em vários processos.
Sua presença entre nós será um prato cheio para a imprensa.
A soma de seus problemas inclui lavagem de dinheiro, porte ilegal de arma e empréstimos fraudulentos, mas o grande interesse da imprensa se deve ao seu papel central no episódio da maxidesvalorização do real, ocorrida em janeiro de 1999.
O escândalo rendeu condenações para o então presidente do Banco Central Francisco Lopes e ex-diretores da instituição.
Todos já cumpriram parte de suas penas e estão em liberdade há muito tempo. Cacciola foi beneficiado por um habeas-corpus depois de passar 37 dias numa carceragem do Rio de Janeiro, e fugiu para a Itália.
O caso sumiu da imprensa e muitos detalhes ficaram sem elucidação, até que ele foi preso quando passeava no Principado de Monaco.
Dono do Banco Marka, Salvatore Cacciola vivia se gabando de contar com fontes privilegiadas no Banco Central e apostou até o fim contra a possibilidade de desvalorização da moeda brasileira.
Quando a decisão foi tomada, seu banco foi apanhado na contramão. Ele havia bancado que a política cambial não iria mudar, tinha assumido compromissos de entrega de 1 bilhão e duzentos milhões de dólares no mercado futuro e não tinha fundos para honrar os papéis. Consta que ele chantageou autoridades monetárias, mas esse detalhe nunca chegou a ser esclarecido.
O episódio que deve despertar o maior interesse da imprensa é a operação de socorro montada pelo Banco Central para impedir a quebra do banco Marka: o Tesouro Nacional lhe vendeu dólares a preços inferiores ao mercado, tomando um prejuízo de 1 bilhão e meio de reais.
A alegação de que a intenção do BC era preservar o sistema financeiro nunca convenceu os analistas.
Quando o escândalo aconteceu, já fazia quatro anos que o governo Fernando Henrique havia criado o Proer, fortalecendo o setor.
Cacciola vem aí.
Quando a CPI dos Cartões Corporativos começa a ficar sem atrativos, a imprensa vai ganhar mais uma fonte de entretenimento.
Quando o jornalista é notícia
Um jornalista é preso com drogas.
Acusado de tráfico, pode se tornar protagonista de outros assuntos, como a concorrência entre duas poderosas redes de televisão.
Alberto Dines:
– A prisão do jornalista Roberto Cabrini da TV-Record por tráfico de drogas deve ser discutida com seriedade, distanciamento e responsabilidade. Em primeiro lugar, convém levar em consideração que a acusação de tráfico de drogas decorreu da negativa do jornalista em admitir que é usuário. Já que não é usuário, tem que ser obrigatoriamente traficante? Se um policial à paisana é pego em flagrante com papelotes de cocaína não pode alegar que estaria tentando infiltrar-se no sistema de distribuição da droga? A informação prestada pela Rede Record de que seu funcionário trabalhava numa reportagem não é suficiente para garantir ao profissional o benefício da dúvida? E a informação da ex-namorada do jornalista garantindo que ele consumia drogas não invalida a tese de narcotráfico? É evidente que a mídia não pode escamotear a informação de que o jornalista foi preso e as circunstâncias em que o fato ocorreu, mas é preciso escapar tanto do viés solidário como das disputas comerciais que envolvem as principais redes de TV. A imprensa brasileira está passando por um dos seus momentos mais difíceis. Por um lado, temos certas esferas governamentais incomodadas com a pressão da mídia no caso dos cartões corporativos, além disso certas parcelas da opinião pública estão indignadas com a cobertura do assassinato de Isabella Nardoni que consideram preconceituosa e sensacionalista.
Basta ver os resultados da urn@ eletrônica do site do Observatório da Imprensa com a cifra recorde de quase 16 mil votantes em pouco mais de 24 horas. E como se não bastasse, temos conhecidos jornalistas engalfinhados nos respectivos blogs e através da justiça em questões pessoais e morais que acabam inevitavelmente respingando na nstituição. Jornalistas não podem colocar-se acima do bem e do mal.
Mas jornalistas não têm o direito de ignorar que podem estar sendo usados para desacreditar o jornalismo.