Palocci fragilizado
Com toda a habilidade reiteradas vezes comprovada, o ministro Antonio Palocci sai fragilizado da controvérsia sobre o uso de um avião particular, que a lei proíbe a funcionários públicos. Informa-se hoje, novamente, que ele deixará o Ministério da Fazenda para assumir a coordenação da campanha pela reeleição do presidente Lula.
Não há como subestimar o que ainda pode emergir dos trabalhos das CPIs, do Ministério Público e da Polícia Federal.
Construção ou favelização?
A imprensa oferece hoje duas recepções bem distintas às medidas de estímulo à construção civil anunciadas pelo governo. A análise mais crítica é feita no Globo, onde vários especialistas apontam que haverá incentivo a uma maior favelização nos centros urbanos.
Não culpar apenas a imprensa européia
O Alberto Dines rejeita as interpretações que atribuem à imprensa européia toda a responsabilidade pela crise das caricaturas dinamarquesas.
Dines:
– A cada dia que passa fica mais claro que foi no mínimo precipitado o editorial “Jornalismo irresponsável”, do Estado de S. Paulo, na última terça-feira. Denunciar apenas a imprensa européia como culpada pela atual “guerra santa” é buscar um bode expiatório que a cada dia parece menos culpado. Hoje, o próprio noticiário do Estadão, e da Folha, mostra que a indignação popular pela publicação das charges contra Maomé localiza-se em países, como Irã, Síria e Afeganistão, onde a irritação com os europeus tem motivos claramente políticos .
Colocar a imprensa no banco dos réus é fechar os olhos, inocentemente, a uma série de situações que são anteriores às charges contra o profeta Maomé.
O que causa a indignação muçulmana
Dines, na minha visão o material mais alentado sobre a crise das caricaturas está na Folha de S. Paulo, reproduzido do francês Le Monde. O especialista Olivier Roy mostra como manifestações de muçulmanos são manipuladas por governos árabes. Mas procura entender por que existe um caldo de cultura de indignação: “Nenhum grande jornal publicaria caricaturas zombando de cegos, anões, homossexuais ou ciganos, mais por temor ao mau gosto do que por medo de represálias judiciais. Mas o mau gosto é aceito no caso do Islã, pois a opinião pública é mais permeável à islamofobia. O que choca o muçulmano médio não é a representação do profeta, mas a existência de dois pesos e duas medidas”.
Raramente houve situação na qual coubesse tão bem a expressão “santa ignorância”. E isso se aplica também à demora da imprensa para publicar elementos de entendimento do problema.
Uma observação inteiramente óbvia e igualmente necessária foi feita em alguns veículos: a cruz cristã é o símbolo que está sendo queimado com as bandeiras da Dinamarca e da Noruega.
O encanador polonês
Intolerância e xenofobia na Europa não afetam apenas imigrantes do chamado Terceiro Mundo. Há forte reação aos imigrantes do antigo Segundo Mundo, dos países do Leste Europeu. É a síndrome do “encanador polonês”, o trabalhador manual que se contenta com baixos salários. Forte sobretudo, segundo a revista inglesa The Economist, nos grandes países da Europa continental, como França, Alemanha e Itália.
Negativismo
O prefeito de Ouro Preto, Angelo Oswaldo de Araújo Santos, mostra como se desperdiçam, no plano da comunicação, esforços feitos no Brasil para atrair turistas.
Angelo Oswaldo:
– Cresceu muito o número de turistas estrangeiros aqui, especialmente de franceses, depois da criação do Ministério do Turismo, investimentos que o governo fez agora na área de turismo. Além do mais, com essas mudanças todas no quadro internacional, ditadas pelo terrorismo, o Brasil ficou sendo um ponto privilegiado como destino turístico.
Além disso a cidade tem uma visibilidade muito grande. Nós comemoramos no ano passado um quarto de século da inscrição de Ouro Preto no Patrimônio Cultural da Humanidade.
Mas o problema da imprensa brasileira, a grande imprensa, do Rio e de São Paulo… não olha muito para o Brasil. Ela enxerga pouco o país. É capaz de eles darem mais notícia de uma estação de esqui na Suíça do que de uma cidade histórica de Minas Gerais.
Mauro:
– O prefeito Angelo Oswaldo, que foi editor de jornal e secretário geral do Ministério da Cultura quando Celso Furtado era ministro, resume a experiência recente de ter sido entrevistado por um repórter de caderno de turismo que só queria saber da proliferação de favelas em Ouro Preto.
Angelo Oswaldo:
– O negativismo é que pauta os jornalistas. Isso, [d]o caderno de turismo eu posso falar. Você falar bem de alguma coisa pega mal na imprensa.
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