Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Programa 50
>>Pesquisa e espanto
>>Mídia poupa mídia
>>Polícia sem polícia
>>Insinuação
>>Paraisópolis
>>Planos de previdência
>>Terror e pobreza

Pesquisa e espanto

 

Visto com isenção e olhar responsável, o resultado da pesquisa que retrata a preservação da imagem do presidente Lula deveria ser recebido com satisfação. Como a “blindagem” da economia.

 

A mídia repete a todo momento que ninguém quer a derrubada do governo. Parece que o eleitor também não quer. Embora saiba direitinho que há irregularidades. O eleitor brasileiro mais de uma vez mostrou que tem a cabeça em cima do pescoço. Em 2002, elegeu Lula, mas governadores adversários. Diante das opções oferecidas, anda votando melhor do que, por exemplo, os franceses, que quase levaram o fascistóide Le Pen ao poder.

 

Diz muito sobre o estágio da democracia brasileira a mídia se espantar com resultado de pesquisa.

 

Mídia poupa mídia

 

A edição do Observatório da Imprensa online que entrou na rede ontem destaca a discretíssima reação da imprensa à maneira como a Veja obteve a fita dos Correios, e às revelações de Marcos Valério de Souza sobre o arquivamento temporário da entrevista da secretária Fernanda Sommagio à IstoÉ Dinheiro.

 

Aborda também o embaraço de Bóris Casoy para noticiar na Record o caso da mala do bispo deputado da Igreja Universal, dona da emissora. A relutância da mídia em criticar a mídia foi o tema do Observatório na televisão de ontem à noite.

 

O Observatório online traz um levantamento de todas as menções à imprensa feitas até aqui em depoimentos na CPI dos Correios.

 

Polícia sem polícia

 

Editorial da Folha de S. Paulo desta quarta-feira, 13 de julho, critica exageros da Polícia Federal na detenção do deputado bispo e na prisão do homem da cueca do PT. O jornal afirma que há elementos de sobra para justificar investigações, mas pede que a polícia respeite a lei, sem recorrer a espetáculos televisivos. Difícil. Os dois lados, polícia e mídia, estão viciados na produção de imagens.

 

Insinuação

 

O Painel da Folha de hoje insinua que existe um nexo entre duas ocupações do jornalista Chico Júnior, do Rio de Janeiro. Ele foi coordenador de comunicação social do governo de Benedita da Silva no Estado do Rio, em 2002, e depois assessor especial da presidência da Federação das Indústrias, Firjan. Mas o que uma coisa tem a ver com a outra?

 

Se o jornal sabe e não disse, sonegou informação. Se não sabe, faz uma insinuação irresponsável.

 

Paraisópolis

 

Uma operação policial de grande envergadura foi montada há uma semana na favela de Paraisópolis, encravada no bairro do Morumbi, em São Paulo. Saíram notas lacônicas na Folha de S. Paulo e no Estado.

 

Um mês antes, notas igualmente discretas davam conta da prisão de sete pessoas em Paraisópolis. Entre as duas notícias, uma explosão de violência, com mortos e feridos.

 

O que os jornais não deram, porque os repórteres não vão lá, é que a prisão de um traficante antigo provocou desestabilização e guerra de bandidos jovens que disputam sua herança.

 

Paraisópolis, 80 mil habitantes, tão perto geograficamente, tão longe socialmente.

 

Planos de previdência

 

A explicação dada pela imprensa para a queda na captação dos planos de previdência privada se resume à dificuldade que os investidores tiveram e têm para entender as novas regras do setor. É verdade. Mas outros fatores pesaram, segundo o presidente da BrasilPrev, Eduardo Bom Angelo.

 

Bom Angelo diz que além disso os bancos, para fornecer empréstimo em consignação a aposentados e pensionistas, passaram a drenar os recursos do mercado oferecendo aplicações vantajosas em CBDs, atraentes devido aos juros elevados.

 

De janeiro a maio, os empréstimos para os velhinhos já tinham chegado perto de 18 bilhões de reais. Os fundos abertos de previdência privada encerraram o primeiro semestre com uma captação equivalente a menos da metade da registrada no mesmo período do ano passado. O dinheiro é um só. Se vai para um lado, sai de outro.

 

A mídia passou longe da complexidade da situação.

 

Terror e pobreza

 

IstoÉ Dinheiro publica reportagem sobre os atentados terroristas em Londres com o seguinte título: “Os ricos sentem a pressão. Terror explode quatro bombas em Londres e lança contra as nações ricas o ressentimento radical dos pobres”.

 

O terror lançou bombas, não o “ressentimento radical dos pobres”. Esses atentados não foram cometidos por pobres. Terror não tem relação com pobreza. É expressão armada de um desígnio político.