Evitar manipulações
O contexto é turbulento e escorregadio, mas a imprensa realiza nas últimas semanas um debate sem precedentes sobre seus próprios métodos. Pode ser um ponto de partida para uma nova tomada de consciência. A mídia deve manter a iniciativa nesse debate, para que ele não seja manipulado.
O vilão errado
Alberto Dines fala diz que fazer a imprensa de vilã é se inspirar nos métodos do presidente Hugo Chávez.
Dines:
― O processo de vilanização da imprensa continuou neste fim de semana na matéria de capa de Carta Capital. Como se a imprensa fosse culpada pelo crime eleitoral que se configura no caso do Dossiê Vedoin. Curiosamente, não se fala no papel da IstoÉ em toda a história, como se o fato de existir uma revista disposta a veicular qualquer dossiê que lhe chegue às mãos fosse assunto secundário. É preciso que se diga mais uma vez e com todas as letras: se não existisse um veículo disposto a divulgar aquela armação a eleição presidencial teria acabado no dia primeiro de outubro. E se chegássemos ao segundo turno o ambiente político seria muito mais tranqüilo. É evidente que a grande imprensa tem os seus pecados. Exemplo: a matéria de capa da última Veja sobre o filho do presidente Lula. Ela não tem nada de novo, pode ser verdadeira mas é requentada, provocação para deixar o clima tenso e favorecer deslizes do candidato oficial nos próximos debates. Por outro lado, é preciso lembrar que o relatório preliminar da Polícia Federal divulgado na última sexta-feira aproxima claramente as investigações da esfera palaciana e este relatório não foi inventado pela imprensa. Foi divulgado formalmente pela PF. Fazer a imprensa de vilã nesta história suja só ajuda os trapalhões que apostam na radicalização. Na realidade, só ajuda o modelito de Hugo Chávez.
Prêmio Vladimir Herzog
O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo realiza depois de amanhã, quarta-feira, a cerimônia de entrega do 28° Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e do 2° Prêmio Vladimir Herzog de Novos Talentos do Jornalismo.
[O evento será no Parlamento Latino-Americano, em São Paulo, às 19h30.]
Redações sitiadas
O diretor de comunicação da CPFL Energia, Augusto Rodrigues, anuncia o lançamento em São Paulo, na próxima quinta-feira, de um documentário em DVD.
Rodrigues:
― Um documentário sobre o programa dirigido pelo Sidnei Basile e pelo Eugenio Bucci no Espaço Cultural no ano passado, que é a invasão das redações pelo entretenimento: Jornalismo Sitiado. É um documentário de quatro DVDs, muito interessante, com intervenções do diretor do El País, de vários jornalistas aqui do Brasil. A jornalista Silvia Pellegrini, uma chilena, falará sobre fontes de informação e qualidade de fontes, qualidade de informação na imprensa periodista. É muito interessante, estará lá o Markun, também, vai estar o Sidnei, o Eugenio Bucci, refletindo, discutindo sobre esse tema do jornalismo brasileiro.
Criminalização da política
O entretenimento há muitos anos invade as redações. Mas no Brasil há também a invasão de uma concepção policialesca da vida pública. Nas últimas semanas, o denuncismo imperou nas manchetes. A mídia deveria pensar duas vezes antes de embarcar nessa onda. Ela é pautada pela Polícia e pelo Judiciário, instituições que, no Brasil, para falar de modo comedido, estão aquém dos padrões desejáveis. E não são eleitas.
E isso pode piorar: o Painel da Folha relata hoje preocupação de associações de juízes e procuradores com projeto de emenda constitucional que dá superpoderes à Polícia Federal.
Investir em jornalismo
Em entrevista ao jornal Valor na sexta-feira (20/10), o especialista em política Renato Lessa vê uma ameaça à governabilidade no que chama de “tribunalização do conflito político”. É a conseqüência inevitável da criminalização da política.
Para os veículos de imprensa, a lição a tirar é: invistam mais em fontes e métodos próprios de apuração das informações. Dependam menos de fontes oficiais, como Polícia e Ministério Público, que se tornaram exímias na arte de tirar castanhas com mão de gato.