Falta uma visão articulada
A cassação de José Dirceu teve uma função catártica e aliviadora para o governo e o PT. Como a melhor defesa é o ataque, o presidente Lula continua a bater na imprensa, agora acusada de ser manipulada por uma oposição de corte venezuelano. O presidente nunca fez um exame sério dos métodos adotados por seu governo para manter a coligação política no Congresso. Nem está preocupado com isso. Comprova-o a influência exercida pelo aliado Severino Cavalcanti no Ministério das Cidades, mostrada há algumas semanas, sem contestação, em reportagem da Veja.
O ministro Antonio Palocci conseguiu jogar para o ano que vem a continuação do debate público sobre problemas de sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto.
Parece interessar aos protagonistas da crise, governo e oposição, por motivos contrários, que ela seja diluída no tempo. A imprensa falhou na apresentação sistemática dos fatos e não tem como mudar esse roteiro. Por mais que parcelas importantes da população sintam-se ultrajadas.
Vamos em frente
Muitas vezes as calmarias são intervalos entre explosões. Mas parece ter-se reduzido o ritmo da crise de corrupção. Como consolo, antecipa-se o processo eleitoral do ano que vem. Nesta quarta-feira, 14 de dezembro, a Folha de S. Paulo já coloca duas páginas no espartilho da rubrica “Eleições 2006”.
Pessimismo delfiniano
O deputado Delfim Netto faz hoje em sua coluna na Folha uma análise lúcida sobre a dificuldade de melhorar o gasto do governo, que o faz pagar juros altos para se financiar. É uma tarefa política difícil melhorar o perfil do gasto público. O tom de Delfim é um tanto lúgubre. Tem sido assim nos últimos tempos. Mas as manchetes teimam em destoar do quadro traçado pelo ex-ministro. Desde a quitação da dívida com o FMI até a onda de otimismo que, segundo o jornal Valor, cerca a decisão de hoje do Copom sobre a taxa Selic. Passando pelo mais baixo nível histórico do risco Brasil.
Uma coisa não elimina a outra. O governo de fato gasta mal. Gasta muito com os incluídos e pouco para melhorar a vida dos excluídos.
O papel do jornal
Os quatrocentos anos da criação do primeiro jornal foram honrados ontem no programa de televisão do Observatório da Imprensa. Alberto Dines alertou para os múltiplos ataques que a imprensa sofre atualmente no Brasil – de partidos, do governo, do Judiciário. Roberto Müller Filho, vice-presidente da Editora Segmento, disse que a crise dos jornais é no Brasil uma crise com características específicas dentro de uma crise mundial. Müller propôs a instituição de critérios de governança jornalística e corporativa na imprensa. O professor de Comunicação Muniz Sodré, colaborador do Observatório da Imprensa, presidente da Biblioteca Nacional, vê com esperança as mudanças a que a mídia impressa se verá obrigada no contexto da disseminação crescente de novas tecnologias. Marisa Gibson, colunista de política do Diário de Pernambuco, destacou a diferença entre a notícia imediata, dada pela internet, pela televisão e pelo rádio, e o aprofundamento que só o jornal promove.
Crime no Espírito Santo
O caso da escuta telefônica da redação da Gazeta de Vitória deve ser acompanhado com a maior atenção. Pode ter gato na tuba. O secretário de Segurança demitido, delegado Rodney Miranda, fez um trabalho importantíssimo contra o crime organizado no Espírito Santo.
Google sem censura
A Justiça mandou tirar do site da Polícia Federal notícias relacionadas com suspeita de espionagem da empresa Kroll a serviço do Grupo Oportunity em conflito com a empresa Brasil Telecom. Isso foi feito, como se pode constatar na internet. Mas, como no caso da Folha de S. Paulo, censurada na semana passada, as páginas do Departamento de Polícia Federal armazenadas pelo mecanismo de busca Google continuam intactas na rede. É que a Justiça brasileira não tem como mexer nos computadores do Google na Califórnia.
Jornalistas e assessores
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, anuncia que um dos temas tratados no site do Observatório é a relação de amor e ódio entre jornalistas e assessores de imprensa. Num novo cenário de relações mais complexas com empresas, instituições e governos, não se admite o jornalista que aceita um release sem apuração complementar, nem o assessor que quer porque quer emplacar sua pauta quando e onde melhor lhe aprouver.
As redações precisam das assessorias e vice-versa, diz Egypto. E é necessário deixar claras as regras de convivência, em nome do melhor jornalismo possível.
Estrela brasileira
O Valor noticia hoje que o fundo americano de investimentos MatlinPatterson ofereceu 500 milhões de dólares pela Varig. A Fundação Ruben Berta, que controla a voadora, preferiu 112 milhões de dólares, a serem pagos em dez anos, oferecidos pela Docas Investimentos, empresa brasileira do empresário Nelson Tanure.